"Capitalismo sem capital": Bill Gates apresenta seu novo livro favorito
Já sabemos que Bill Gates é um grande entusiasta dos livros. E agora, ele parece ter um novo livro favorito com um título curioso para um dos homens mais ricos do mundo: “Capitalism Without Capital” (Capitalismo Sem Capital, em tradução livre). Só que não estamos falando de um livro sobre desapego material. Trata-se de uma obra de economia.
Lançado em 2017 e escrito pelos economistas Jonathan Haskel e Stian Westlake, o livro propõe uma nova forma de pensar sobre economia, que foge da lei da oferta e procura – ao menos de acordo com a interpretação de Gates.
Em seu site dedicado a resenhas de livros, o cofundador da Microsoft avisou que poucos “estão prestando atenção a essa tendência econômica”, que se baseia numa mudança de paradigmas nas principais indústrias globais. Se no passado eram bens materiais que giravam mais dinheiro, o digital se torna cada vez mais prevalente - uma história que começou com a ascensão da computação pessoal.
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Gates recordou as aulas de economia de seus tempos em Harvard e rabiscou um diagrama que apresentava um ponto de equilíbrio da oferta e da demanda, com bons preços e fartura de produtos.
Esses parâmetros foram criados quando a economia dependia da fabricação de objetos, que por si só demandam investimento contínuo na produção – sem falar no que é gasto para desenvolvimento de projetos. Pense em um carro: ele é desenhado e depois produzido. Ambos os processos demandam capital, sendo o segundo deles recorrente para a compra de peças e itens necessários para montagem do automóvel.
Na nova economia, com uma fartura cada vez maior de produtos que não são físicos (músicas, filmes, apps e jogos), o “custo de produção” cai significativamente. Afinal, uma vez concluído o desenvolvimento de um aplicativo, a distribuição do mesmo custa pouquíssimo se comparado ao de um carro. Da fabricação, nem se fala.
“A porção da economia mundial que não se encaixa ao modelo velho só aumenta de tamanho. Isso tem grandes implicações em tudo, desde leis fiscais a políticas econômicas que fazem cidades sucederem ou fracassarem, mas, em geral, as leis que governam a economia não evoluíram”, escreveu Gates.
O texto serve como um alerta a eventuais fracassos em investimentos no desenvolvimento de “bens digitais”. Se uma fábrica fracassa, ela consegue vender máquinas, peças e parte de seus projetos. Já no caso de uma startup de tecnologia, segundo Gates, todo investimento para criação de um novo produto pode ser em vão, sem chances de recuperação de nada.
"Dá para entender o que o Gates quis dizer, mas de fato pode haver situações em que o que você fez de software pode ser aproveitado, vendido e ter um benefício. Mas acontece o que ele disse que a empresa vira pó, simplesmente", analisou David Kallás, coordenador do Centro de Estudos em Negócios do Insper.
O economista ainda apontou outro "produto" que pode ser aproveitado por uma empresa de tecnologia que fracassa: vender sua base de dados de seus antigos a uma outra empresa.
A leitura e o alerta de Gates trazem uma discussão necessária, que é a da possibilidade de atualização de leis sobre patentes, políticas de impostos e de como a economia contabiliza os investimentos e desenvolvimentos tecnológicos.
“O que esse livro reforçou para mim é que legisladores precisam ajustar suas criações de políticas econômicas para refletir essas novas realidades. Por exemplo, as ferramentas que muitos países usam para medir ativos intangíveis estão atrasadas, então eles estão registrando um retrato incompleto da economia. Os Estados Unidos não incluíam software em seus cálculos de PIB (Produto Interno Bruto) até 1999. Até hoje, o PIB não conta investimento em coisas como pesquisa de marketing, branding e treinamento – ativos intangíveis que empresas têm gasto enormes quantias de dinheiro”, declarou o empresário.
Na análise de Gates, “Capitalism Without Capital” é o primeiro livro que tratou dessas questões modernas da forma como elas merecem. Ele fala com o conhecimento de causa de alguém que teve foi incompreendido quando começou a ter sucesso.
“Nos primeiros dias da Microsoft, eu sentia que estava explicando algo completamente estranho às pessoas. Nosso plano de negócios envolvia uma forma de olhar para ativos diferente do que nossos investidores estavam acostumados. Eles não conseguiam imaginar que retornos nós geraríamos a longo prazo”, lembrou.
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