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Zuckerberg admite erros, impõe investigação e muda uso de dados no Facebook

Do UOL, em São Paulo

21/03/2018 16h39Atualizada em 31/05/2020 06h12

Fundador do Facebook, Mark Zuckerberg finalmente quebrou o silêncio nesta quarta-feira (21) sobre o escândalo do roubo de 50 milhões de dados de usuários da rede socialpela Cambridge Analytica, empresa que atuou na eleição de Donald Trump. O CEO admitiu erros na plataforma e avisou sobre providências - entre elas, auditoria em apps suspeitos e mudança nos dados que são fornecidos para aplicativos.

Em um longo texto na rede social, o executivo citou toda a linha do tempo dos eventos envolvendo o roubo de dados. O CEO afirmou que a empresa tem a missão de proteger os dados dos usuários e "se não podemos, então não merecemos servir você". O fundador do site falou que algumas ações foram tomadas há anos, mas que erros foram cometidos. Por isso, promete novas providências.

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"Vamos investigar todos os apps que tiveram acesso a grandes quantidades de informação antes de mudarmos em 2014 nossa plataforma para reduzir drasticamente o uso de dados, e vamos conduzir uma auditoria de qualquer app com atividade suspeita. Vamos banir qualquer desenvolvedor da nossa plataforma que não aceitar uma auditoria profunda", afirmou.

Zuckerberg ainda prometeu que irá banir desenvolvedores que tiverem utilizado o serviço incorretamente, avisando também os usuários afetados - ele promete começar isso já pelas pessoas que foram vítimas do roubo de dados da Cambridge Analytica.

"Vamos também restringir ainda mais o acesso de dados por parte de desenvolvedores para prevenir outros tipos de abuso. Por exemplo, vamos remover o acesso de desenvolvedores aos seus dados se você não utilizou o app nos últimos três meses. Vamos reduzir os dados que você dá para um app quando se loga para apenas seu nome, foto do perfil e e-mail", anunciou.

Segundo Zuckerberg, será exigida a partir de agora a autorização por parte dos usuários aos desenvolvedores - assim como a assinatura de um contrato - para que tenham acesso a itens como posts e outros dados. Não ficou claro como isso será feito. Mais mudanças nesse sentido serão anunciadas nos próximos dias.

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Atualmente, ao fornecer suas informações do Facebook para um aplicativo, você permite que ele acesse seu perfil público (nome, foto do perfil, idade e outras informações públicas) e dados como localização, lista de amigos, interesse de relacionamento, histórico profissional e educacional, suas fotos, curtidas e endereço de e-mail. Isso pode variar entre diferentes apps.

A terceira medida anunciada por Zuckerberg tem relação exatamente com isso: ele quer quer os usuários entenda que permissões e informações cede aos aplicativos. A partir do próximo mês, no feed individual de cada um, será mostrada uma maneira rápida de revogar permissões de apps - isso já é possível nas configurações, mas será colocado no topo do seu feed agora.

Resumindo as ações do Facebook:

  • Revisão da plataforma: apps suspeitos anteriores a mudanças de 2014 serão investigados
  • Avisar vítimas: quem teve seus dados violados, incluindo o atual escândalo, será avisado
  • Desligar acesso de apps não usados: se você não usar app por 3 meses, Facebook desligará acesso do app a seus dados
  • Restringir dados: com mudanças no login via Facebook, os apps só terão acesso a nome, foto de perfil e e-mail dos usuários. Qualquer outra permissão terá que ter autorização da rede social. Não ficou claro se também serão pedidas permissões de usuários, como ocorre atualmente com celulares.
  • Educar pessoas sobre dados de apps: edição de aplicativos que usam seus dados será disponibilizada no próximo mês no topo do feed, não apenas nas configurações do site.
  • Premiar pessoas que acharem vulnerabilidades: serviço do Facebook que dá dinheiro para quem acha bugs será ampliado para incluir mal uso de dados por desenvolvedores de apps.

Contudo, o fundador da rede social não disse nada sobre modificar, mesmo que em parte, o modelo de negócios do site baseado na coleta de dados pessoais de usuários. Essa política deve continuar em vigor na rede social.

Mea culpa

Em rara mea culpa do fundador da rede social, Zuckerberg ainda disse ser responsável pelo o que acontece no site.

Comecei o Facebook e, no final do dia, sou responsável por aquilo que acontece na nossa plataforma. Levo a sério fazer o necessário para proteger nossa comunidade. Embora essa questão específica envolvendo a Cambridge Analytica não deva mais ocorrer com novos apps, isso não muda o que ocorreu no passado

O fundador do Facebook ainda falou que a solução dos problemas pode demorar "mais do que a gente gostaria", mas disse que o serviço será melhor a longo prazo. As ações do Facebook sobem 2% por volta das 17h30 (de Brasília), mesmo valor que subia pouco antes das declarações do chefão do site.

Nos últimos dias, Mark Zuckerberg foi criticado por não ter falado nada sobre a questão divulgada no último fim de semana pelos jornais The Guardian e The New York Times. O escândalo abalou a rede social - suas ações operaram em forte queda nos últimos dois dias - e criaram uma espécie de desconfiança de como os dados são protegidos.

A versão de Zuckerberg para o escândalo

Em seu texto, Zuckerberg lembrou a criação do Facebook em 2007 com a visão de apps sociais - por exemplo, seu calendário poderia saber quando era o aniversário de seus amigos. Depois, cita que em 2013 o pesquisador Aleksandr Kogan criou um app de teste de personalidade instalado por cerca de 300 mil pessoas. Foi esse o aplicativo usado pela Cambridge Analytical para roubar dados.

O fundador diz que em 2014 o Facebook mudou drasticamente a plataforma para limitar os dados que aplicativos poderiam acessar - e que apps como o de Kogan não poderiam mais perguntar por dados dos amigos a não ser que o amigo tenha autorizado, como podia até então e fez a empresa de consultoria conseguir informações de 50 milhões de usuários.

A primeira vez que o Facebook soube que os dados obtidos por Kogan foram compartilhados com a Cambridge Analytical foi em 2015, por meio de jornalistas do The Guardian. O app foi banido então da plataforma pela proibição de desenvolvedores compartilhar dados sem consentimento do usuário. Eles pediram aos envolvidos que deletassem os dados adquiridos ilegalmente e receberam certificações disso.

Na última semana, contudo, o The New York Times, o The Guardian e o Channel 4 procuraram a rede social alegando que tinham evidências de que os dados não foram apagados. Com isso, a Cambridge Analytica foi banida e proibida de usar serviços do Facebook. O CEO diz ainda trabalhar com entidades reguladoras em meio a investigações sobre a questão, mas não falou se irá depor perante a comissões

Isso foi uma quebra de confiança entre o Kogan, a Cambridge Analytica e o Facebook. Mas também foi uma quebra de confiança entre o Facebook e as pessoas que compartilham seus dados com a gente e que esperam que a gente os proteja. Precisamos consertar isso

Como dados foram expostos

A empresa Cambtidge Analytica se aproveitou de um aplicativo supostamente utilizado para fins acadêmicos para conseguir dados de 50 milhões de usuários norte-americanos. Inicialmente, 320 mil pessoas (segundo o The Guardia, cerca de 300 mil de acordo com Zuckerberg) foram pagas de US$ 2 a US$ 5 para fazer o quiz. Contudo, o app ligado ao Facebook também conseguia dados dos amigos de quem participava, aproveitando-se de uma brecha e abusando dos termos da rede social.

A plataforma conseguiu criar um algoritmo que utilizava tanto o resultado dos quiz quanto os dados de amigos para predizer gostos e reações das pessoas. Com isso, tinha a capacidade de direcionar marketing político a quem fosse mais suscetível - você pode entender aqui mais como as curtidas e testes foram usados como arma política.

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Agora suspenso de suas atividades, Alexander Nix é citado como a pessoa responsável por fazer o acordo com o psicólogo Aleksandr Kogan que culminou com a empresa conseguindo dados de milhões de usuários das redes sociais. O Facebook já excluiu a companhia de sua plataforma.

A quebra de confiança em relação a como o Facebook trata os dados cedidos por usuários já tem feito algumas pessoas iniciarem campanhas para deletar seus perfis da rede social - um deles é o fundador do WhatsApp, aplicativo que agora é chefiado pelo próprio Facebook. Você pode entender mais aqui sobre como deletar a sua conta.