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Cientistas desvendam mistério de 'apagamento' de estrela gigante Betelgeuse

Betelgeuse é o ponto laranja, visto na constelação de Orion - ESO/N.RISINGER (SKYSURVEY.ORG)
Betelgeuse é o ponto laranja, visto na constelação de Orion Imagem: ESO/N.RISINGER (SKYSURVEY.ORG)

Jonathan Amos

Correspondente de ciência da BBC

17/06/2021 14h31

Brilho da estrela de repente diminuiu e astrônomos chegaram a pensar que ela estava prestes a se tornar uma supernova, ou seja, de explodir. Mas a razão por trás do 'apagamento' era outra.

Astrônomos dizem que solucionaram o mistério sobre por que uma das mais conhecidas estrelas que iluminava o céu à noite começou a perder o brilho há cerca de um ano.

Betelgeuse, uma supergigante vermelha da constelação de Orion, escureceu abruptamente no fim de 2019, início de 2020. O fenômeno levou muitos a especularem que ela estaria a ponto de explodir, fenômeno conhecido como "supernova".

Mas, com o uso de um dos telescópios mais avançados do mundo, o Very Large Telescope (VLT), no Chile, astrônomos descobriram que uma enorme nuvem de poeira, localizada entre a Terra e a estrela, pode estar por trás do 'apagamento' dela.

Mesmo que você não saiba nomear todos os pontos brilhantes no céu, certamente já viu Betelgeuse. É um ponto laranja no canto de baixo, do lado de direito na constelação de Orion - ou no canto de cima à esquerda, se você estiver vendo a constelação do hemisfério norte.

Próxima à Terra, em termos relativos, a uma distância de cerca de 550 anos-luz, Betelgeuse é o que conhecemos como uma estrela de variação semirregular. Ela se ilumina e escurece por um período de cerca de 400 dias.

Mas o que aconteceu 18 meses atrás foi fora do comum: a perda de luminosidade foi a maior já vista. O astrofísico Miguel Montargès, do Observatório de Paris, na França, e colegas investigaram o evento com o uso do VLT.

Um dos telescópios mais poderosos do mundo, ele tem a capacidade de captar diretamente a imagem da superfície da Betelgeuse. Os pesquisadores compararam fotos dessa estrela antes, durante e depois do 'apagamento', e usaram modelos matemáticos para saber que comportamento poderia estar por trás das diferentes imagens obtidas.

Duas hipóteses predominaram. Talvez houvesse uma enorme área fria na superfície da estela, porque supergigantes como Betelgeuse são conhecidas por ter grandes células convectivas que podem provocar áreas quentes e frias.

Ou, talvez, houvesse uma nuvem de poeira se formando bem na frente de onde a estrela é vista da Terra.

A conclusão envolve uma combinação das duas hipóteses, diz a pesquisadora Emily Cannon, da Katholieke Universiteit Leuven, na Bélgica.

"O entendimento geral é que havia uma área fria na estrela. Esta, por causa da queda na temperatura, provocou a ejeção de gás, que se condensou em poeira", explica ela à BBC.

"A área fria na superfície já faria a estrela parecer apagada. Mas aí essa condensação da poeira contribuiu para a acelerada perda de brilho dela."

Quando a Betelgeuse deve se tornar supernova?

Betelgeuse é cerca de 15 a 20 vezes maior que o Sol. Um objeto tão grande assim vai se tornar uma supernova e explodir em algum momento. Então, não era uma loucura especular que esse apagamento incomum poderia significar que a Betelgeuse estivesse a ponto de passar por uma explosão espetacular.

"Não acredito que esse fenômeno signifique que a Betelgeuse esteja se tornando em breve uma supernova, embora saiba que isso seria extremamente interessante e eu própria estivesse torcendo por isso", diz Cannon.

"Sabemos que as supergigantes vermelhas podem apresentar acelerada perda de massa, o que pode indicar que há um estágio da vida delas em que é mais possível que se tornem supernovas. Mas achamos que a Betelgeuse é uma supergigante relativamente jovem e provavelmente ainda tem muito tempo pela frente."

Mas quanto tempo? Dezenas, centenas, talvez milhares de anos, segundo astrônomos. A última supernova observada na nossa Via Láctea foi a estrela Kepler, vista em 1604.

Registros de astrônomos da época indicam que ela ficou visível durante o dia por três semanas.