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Existe oxigênio em outros planetas ou só na Terra?

Divulgação/Nasa
Imagem: Divulgação/Nasa

De Tilt, em São Paulo

28/05/2021 04h00Atualizada em 29/05/2021 09h04

A Terra é o planeta do Sistema Solar que mais possui oxigênio, um dos quatro elementos químicos principais que garantem a vida como conhecemos por aqui. O gás constitui cerca de 20% da nossa atmosfera. Mas será ele também existe em outros planetas?

Na atmosfera terrestre, o oxigênio apareceu há 2,5 bilhões de anos, como resultado do processo de fotossíntese. Foi aí que apareceram os primeiros micro-organismos que respiram gás carbônico e liberam oxigênio.

Se a atmosfera de um planeta possui grande quantidade de oxigênio, isso indicaria que existem seres vivos fazendo fotossíntese, como algas e plantas. Mas se a concentração fica abaixo de 16%, não há oxigênio suficiente para respirar.

Além disso, o elemento químico também faz parte da composição da água, considerada fundamental para a presença de vida.

Há que se considerar, no entanto, que existem formas de vida que não dependem de oxigênio. Os primeiros seres vivos do planeta eram, na verdade, semelhantes a bactérias anaeróbicas — que vivem na ausência de oxigênio.

Se tem oxigênio, tem vida?

Encontrar oxigênio na atmosfera dos planetas é algo muito raro. Ainda assim o gás faz parte da composição atmosférica dos vizinhos Marte e Vênus, tendo sido encontrado também em Europa, uma das luas de Júpiter.

No caso de Marte, o oxigênio corresponde a apenas 0,13% do gás na atmosfera. A quantidade é hostil para nossa sobrevivência, segundo Paulo Eduardo de Brito, professor de física da UnB (Universidade de Brasília).

"A atmosfera nesses lugares possui tão pouco oxigênio diluído que se torna tóxica para humanos", explica.

Ainda assim, a presença de oxigênio e principalmente de água são sinais de que ali pode haver (ou ter havido) vida. A Nasa tem afirmado que Europa, uma das luas de Júpiter, seria o lugar mais provável de abrigar vida fora da Terra.

O satélite possui um enorme oceano líquido sob uma camada de gelo fina. Um estudo comprovou que existe a presença de hidrogênio e oxigênio suficientes para a formação de vida. A hipótese é de que se as crostas esconderem algum tipo de vida, elas sejam organismos microscópicos. "Ainda não existe nenhuma descoberta que comprove vida fora da Terra", salienta Brito.

Um estudo publicado em abril deste ano, no entanto, alerta para 'falsos positivos de oxigênio', afirmando que o fato de haver oxigênio na atmosfera pode não ser uma 'bioassinatura' totalmente confiável.

A pesquisa publicada na AGU Advances, feita por pesquisadores da Universidade da Califórnia, afirma que podem existir cenários em que um planeta rochoso girando em torno de uma estrela semelhante ao Sol poderia evoluir para ter oxigênio em sua atmosfera, sem que isso significasse a existência de vida por lá.

"Tem havido muita discussão sobre se a detecção de oxigênio é um sinal de vida 'suficiente'", disse Jonathan Fortney, co-autor do estudo. "Este trabalho defende a necessidade de saber o contexto de sua detecção. Que outras moléculas são encontradas além do oxigênio (...) e o que isso nos diz sobre a evolução do planeta?", completa.

Pode existir vida fora do Sistema Solar?

Os cientistas ainda estudam a possibilidade de encontrarem oxigênio em exoplanetas, nome dado a corpos celestes fora do Sistema Solar. Astrônomos já encontraram 4.383 planetas desse tipo, a maioria grandes, gasosos ou quentes demais para serem habitados.

A tecnologia atual dos nossos telescópios impede a visualização de atmosferas de planetas distantes, mas esse cenário deve mude com o lançamento dos super telescópios, como o tão esperado James Webb. Cientistas acreditam que nas próximas décadas esses equipamentos serão capazes de capturar imagens e espectros de planetas potencialmente semelhantes à Terra em torno de estrelas semelhantes ao Sol.

Mas não basta apenas ter oxigênio para considerar um planeta como habitável. É preciso que condições climáticas sejam propícias para a evolução da vida.

É por isso que a presença de água líquida é um indicativo de temperatura mais equilibrada com potencial de existência de vida. Caso a incidência de radiação seja muito forte, a água ferve e evapora. Já no caso de pouca luz, congela.

Para o professor da UnB, ainda estamos no início das descobertas sobre planetas habitáveis e prováveis vidas extraterrestres. Mas isso significa que estaríamos perto de ver um planeta ser explorado por humanos?

Por enquanto, a possibilidade de viajar até esses lugares existe apenas na ficção científica. Isso porque a distância até eles é impossível de ser atingida. Seriam necessários milhões de anos para uma nave espacial percorrê-las.

"A busca de vida fora da Terra permite que a gente entenda melhor quem somos nós, para onde vamos, do que somos feitos. Não somos especiais. Somos mais uma parte do Universo", finaliza Brito.