Topo

Felipe Zmoginski

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Covid-19: Resultado de vacina em cidade brasileira influencia ação na China

Nataliya Vaitkevich/ Pexels
Imagem: Nataliya Vaitkevich/ Pexels

02/06/2021 04h00Atualizada em 03/06/2021 12h05

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Um estudo realizado pelo instituto Butantan, na cidade de Serrana, interior paulista, já está influenciando políticas públicas de controle da covid-19 em regiões da China, como Hong Kong. A experiência de Serrana ganhou destaque esta semana nos grandes jornais do país, como o South China Morning Post e China Daily.

Os periódicos chineses repercutem a experiência do município paulista que vacinou 96% de seus adultos com duas doses da CoronaVac, vacina que usa tecnologia chinesa desenvolvida pelo laboratório Sinovac e também aplicada em chineses.

A análise brasileira mostra que, após vacinar com duas doses de CoronaVac os 27 mil adultos de Serrana, os casos de covid-19 no município, até então um dos mais duramente atingidos pela epidemia no Brasil, caíram mais de 80%. O número de internações caiu 80%.

O caso de Serrana é particularmente interessante pois o município convive com a presença de variantes do vírus, como a P1 que surgiu originalmente em Manaus e se tornou predominante em São Paulo. Além disso, em Serrana, mais de um terço dos adultos sai para trabalhar em outras regiões —não vacinadas— e retorna para casa. Mesmo assim, a epidemia na cidade foi controlada.

Jing Dong Yan, professor da Universidade de Hong Kong, afirmou que autoridades locais estão pedindo informações adicionais ao Butantan. Eles querem observar se vacinados que se infectam de forma não sintomática passaram o vírus para as outras pessoas com quem convivem em casa. Se detectado que uma pessoa vacinada não passa o vírus adiante, este pode ser um fator importante para determinar a chamada "imunidade coletiva".

O estudo brasileiro é observado em conjunto com outra análise, feita em Jacarta, na Indonésia. Na cidade asiática, uma comunidade de profissionais de saúde altamente expostos ao covid-19 foi vacinada com CoronaVac.

Dentro desta comunidade, as mortes caíram 98% após a vacinação e a hospitalização de infectados, 96%. Há dúvidas sobre se os vacinados que contraem o vírus e desenvolvem de forma leve ou assintomática a doença passam a infecção para outras pessoas.

Os resultados de Serrana e Jacarta contribuíram para que a Organização Mundial de Saúde aprovasse, esta semana, o uso emergencial das vacinas da Sinovac. Com a decisão, esta vacina poderá compor o Covax, consórcio que auxilia na distribuição de vacinas pelo mundo.

A Sinovac já produziu, desde o início da pandemia, mais de 600 milhões de doses de sua vacina, das quais 430 milhões já foram aplicadas. Só na China, 315 milhões de doses foram ministradas. Segundo a fabricante, sua capacidade é de produzir 2 bilhões de doses por ano.

Os dados de "eficácia global" da vacina, quando se comparam grupos vacinados e não vacinados em um mesmo estudo, variam de 50,7% a 83,5%. A variação é explicada pela diferente metodologia aplicadas em testes de eficácia pelo mundo, bem como a existência de variantes nas populações estudadas.

Estudos que demonstram "proteção coletiva" auxiliaram, por exemplo, a decisão da região de Hong Kong em autorizar o funcionamento de bares. Para entrar em um bar, no entanto, o consumidor deve mostrar seu certificado digital de vacinação para covid-19, armazenado em um app fornecido pelo governo local.