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Felipe Zmoginski

Uso de IA e big data explicam ascensão da China na pesquisa de vacinas

Laboratório da Sinovac, em Pequim: uso massivo de tecnologia permitiu vacina - Xinhua
Laboratório da Sinovac, em Pequim: uso massivo de tecnologia permitiu vacina Imagem: Xinhua

21/01/2021 04h00Atualizada em 21/01/2021 11h08

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O início da vacinação no Brasil, com um imunizante produzido na China, gerou discussões sobre sua eficácia e a disponibilidade dos parceiros chineses em assegurar o fornecimento de insumos para a fabricação das doses aqui no país.

Há duas décadas, a China não era um país relevante no restrito mercado de pesquisa e desenvolvimento de novas drogas, tradicionalmente liderado por empresas americanas e europeias. Desde os acordos internacionais, nos anos 90, para produção de genéricos no mundo, países em desenvolvimento, como Índia e China, nesta ordem, passaram a produzir a maior parte das vacinas e insumos farmacêuticos usados no mundo.

Nos últimos anos, porém, empresas chinesas deram um salto assombroso em tecnologias para área de saúde. Grande parte deste avanço deve-se ao progresso de ferramentas de big data e de inteligência artificial.

No caso da pesquisa por imunizantes, o big data processa e analisa milhões de relatórios clínicos colhidos por institutos de saúde no mundo, o que fornece precisos insights sobre como reage o corpo humano quando exposto à substância A, na circunstância B, e assim por diante.

Mais relevante, porém, são os algoritmos de inteligência artificial, que ao "estudar" os dados processados no big data são capazes de sugerir soluções e caminhos que, às vezes, as equipes de cientistas não pensaram. Ou (mais comum) pensaram... mas não tinham dados para sustentar suas ideias.

A CoronaVac, desenvolvida pela Sinovac, é apenas uma entre quatro imunizantes pesquisadas e testadas pelos chineses. Outras três, produzidas por CanSinoBio, Sinopharm e pela Academia de Ciências da China, oferecem proteção a quem as toma. Esta última, mais avançada, por usar um método que combina diferentes proteínas, tem nível de proteção mais alto.

De toda forma, as farmacêuticas chinesas têm rivais eventualmente mais avançadas que elas na pesquisa de vacinas. Os imunizantes da Pfizer e Moderna, por exemplo, usam um método mais sofisticado (e com melhores resultados) ao trabalhar com a técnica de RNA mensageiro, em vez de vírus inativado, um meio tradicional e consagrado de produzir vacinas.

Em todos os casos, porém, nas vacinas feitas na China ou criadas por laboratórios estrangeiros, há grande dependência dos chineses para obtenção de insumos químicos e biológicos, como os antígenos, os pedacinhos de vírus isolados e mortos, que permitem a outros laboratórios criar suas doses.

A imunizante da Oxford/AztraZeneca, aprovada para uso no Brasil pela Anvisa, por exemplo, usa insumos chineses, apesar do luxuoso nome da cidade inglesa em seu título.

O avanço chinês explica-se também pelo fator dinheiro. Levantamento feito pela consultoria Abaco, aponta que startups chinesas de saúde, as health techs, captaram em 2019 48% dos recursos oferecidos no mundo para "venture funding", o financiamento "de risco" dado a empresas iniciantes. Em 2016, este percentual era de "só" 11,3%.

Alguns sinais desta política de investimentos podem ser vistos, por exemplo, na formação de unicórnios (empresas que valem mais de US$ 1 bi antes de abrir capital) como a iCarbonX. A jovem health tech cria soluções para saúde individualizadas, baseadas no genoma de cada paciente, uma pequena revolução (chinesa) na medicina.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi informado no texto, os imunizantes da Pfizer e Moderna trabalham com a técnica de RNA mensageiro, e não de DNA mensageiro. O texto foi corrigido.