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"Galvão Bueno é uma referência e sabe muito", diz Álvaro José, da Band

Álvaro José segura no colo a recém-nascida e então futura atriz, Fernanda Paes Leme - Reprodução/Instagram/fepaesleme
Álvaro José segura no colo a recém-nascida e então futura atriz, Fernanda Paes Leme Imagem: Reprodução/Instagram/fepaesleme

02/08/2016 09h15Atualizada em 02/08/2016 09h16

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Álvaro José Paes Leme de Abreu é um veterano das Olimpíadas. No Rio, cobrirá o evento pela 10ª vez --provavelmente um recorde no país.

Também estará à frente da transmissão da abertura dos jogos pela sétima vez, mas aí está em empate com Galvão Bueno, a quem Alvinho, como os amigos o chamam, considera uma “referência” profissional.

O locutor da Globo também admira publicamente o colega da Band, a quem cita em seu livro “Fala Galvão” como uma “enciclopédia” dos esportes.

Não é exagero. Aos 57 anos, Álvaro é um dos maiores estudiosos de história dos esportes do país. Aliás não só isso: é um praticante voraz de atividades físicas, e já jogou basquete, handball e também gosta de nadar alguns quilômetros diariamente.

Dono de um estilo único de narração, trabalhou na Globo, Band, Record e nesta jornada está de volta à TV da família Saad.

Veja abaixo a entrevista de Álvaro que, a propósito, também detém o “título” de pai da linda atriz Fernanda Paes Leme.

Em épocas de Olimpíadas todos os veículos dão amplo espaço para os jogos. Mas, nos outros anos, a gente praticamente só vê futebol na mídia. Por que isso?

Álvaro José - Essa é uma cultura antiga. Antes as emissoras tinham poucos jornalistas que entendiam de esportes, à época, chamados de "amadores" ou olímpicos. A base era o futebol.

Mesmo com grandes conquistas como os mundiais de basquete masculino no final dos anos 50 e no início dos 60, o bi olímpico do Adhemar em Helsinki e Melbourne, os feitos da Maria Esther Bueno (mesmo com o tênis não sendo olímpico na época) estas conquistas eram amplamente enaltecidas por um breve espaço de tempo.

Talvez o fato do Brasil ser bi-mundial de futebol e de ter Pelé, o primeiro atleta a ocupar as primeiras páginas e manchetes dos jornais brasileiros que não eram especializados em esporte, tenha contribuído para isso.

Um executivo de uma grande TV aberta me disse que a TV não cobre esporte olímpico por falta de audiência, porque o público não está acostumado. Você concorda?

Álvaro José - Bem minha visão de TV é a da redação do esporte e dos eventos, e não a da direção, mas existem aspectos importantes a serem considerados aí.

A questão da audiência abordada é curiosa pois quando a Band criou, na fase do Luciano do Valle, a "Faixa Nobre do Esporte", ela competia com filmes e dramaturgia nos outros canais e ia muito bem (em audiência); e a um custo, na época, muito menor --já que muitos eventos ainda não tinham custo de direitos de transmissão.

Naquele tempo, com jornalismo e esporte, a Band se posicionou muito bem no mercado, e antes dela e do Bolacha (apelido de Luciano) ir para lá, a Record, com o vôlei, também conseguiu esse feito.

A questão de "acostumar" o público se você não transmitir não vai acontecer, e para estes jogos está acontecendo uma coisa muito boa que é “aculturar” o público consumidor para os esportes olímpicos, suas regras, sua história, seus ídolos. Isso vai, sem dúvida, contribuir para melhorar todo o contexto.

Aliás, é comum aos veículos de comunicação investirem centenas de milhões na  aquisição de direitos para transmissão de grandes eventos, para, em seguida, cortar suas equipes esportivas… (o que certamente vai ocorrer ao fim da Rio 2016...

Álvaro José - Aliás isso foi a janela de oportunidade que o Luciano viu no mercado: colocar no ar o que existia e mostrar ao público. A receptividade vai moldando a programação esportiva, adequando e criando coisas novas.

Ou seja, transformar o esporte em espetáculo. Lembro de quando íamos fazer os jogos da NBA e ele (Luciano) sempre falava "Vamos beber dessa fonte, aprender e fazer do esporte no Brasil em verdadeiro espetáculo!"

Desde que nasci ouço falar que o Brasil é uma "promessa" olímpica, mas essa promessa nunca se concretizou de fato, exceto em um ou outro esporte, como judô, vôlei, iatismo... Dá pra ter esperanças de o Brasil virar uma potência olímpica algum dia?

É, assim como também somos o país do futuro.  Durante muito tempo vivemos de fenômenos esporádicos ou esperando uma geração espontânea de talentos.

Demorou para se criar uma visão de longo prazo para se formar gerações que iam além daqueles talentos. Nesse ponto o vôlei foi o pioneiro. O iatismo sempre esteve lá. Uma mudança no enfoque da gestão do esporte para dirigentes e empresas patrocinadoras é fundamental.

O esporte precisa sempre ter um projeto de longo prazo, e quem dirige também, mas isso não significa que precise ficar lá o mesmo tempo...

Qual a sua opinião inicial sobre a Vila Olímpica do Rio, se comparada com a dos outros seis países em que você participou da cobertura?

Álvaro José - Ela é diferente de todas as outras. Até o Rio os projetos eram de moradias populares ou de pequenos apartamentos. Aqui foi a criação de um bairro novo nos moldes de península.

São apartamentos maiores com melhor estrutura apesar dos problemas que aconteceram . Vale lembrar que o morador é responsável pela ligação de água e luz. Na Vila essa responsabilidade seria do Comitê Rio 2016. Inclusive ,o argentino responsável por isso foi demitido.

Você está empatado com o Galvão Bueno em número de aberturas de Jogos Olímpicos, certo?

Álvaro José - Sim, fizemos seis aberturas cada um. Eu estive em todas desde Barcelona 92. Nos Jogos anteriores não trabalhei na abertura . Galvão fez 84 e 88 , mas esteve ausente de Barcelona 92 e Londres 2012.

Além de um grande amigo Galvão é a maior referência e entende muito de vários esportes. Desde o início na Gazeta e Band ele já era assim.

Tive o privilégio de fazer abertura com grandes profissionais, brilhantes e que a cada edição me fazem ficar ainda mais apaixonado pelo que faço.

Lembro de uma brincadeira que meu irmão faz comigo sobre uma frase do Steve McQueen no filme “Le Mans”, em que no papel de um piloto ele diz: "Nada importa entre uma corrida e outra. É apenas uma espera".

É exatamente assim que me sinto com relação aos Jogos Olímpicos. Agradeço principalmente a meu pai que, quando comecei, dizia: "Muitos jornalistas entendem de futebol e você pode ser mais um deles. Mas poucos entendem de esportes olímpicos. Você adora mitologia e história e isso é a base do esporte!”

Outro ótimo conselho dele foi que estudar nunca ocupa espaço. Pratico muito até hoje...