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'Amor, vou na pelada': os 'héteros' que entram com bola e tudo em gays

Passava das dez da noite quando o interfone do 6º andar tocou e o morador desceu para abrir o portão. O prédio sem portaria era uma segurança a mais para o visitante que usava boné para se proteger dos raios da lua. Deram um aperto de mão, trocaram algumas amenidades e pegaram o elevador. Ao entrar no apartamento, ainda de boné, o visitante foi direto para o quarto no final do corredor. Ele já sabia o caminho.

Assim que o dono da casa entrou no quarto e fechou a porta, caiu o boné, e a camiseta do Palmeiras foi tirada. O visitante se ajoelhou, abriu o zíper da calça do dono da casa e colocou seu pau duro todo na boca de uma vez, tamanha a sede de pica que ele estava. Ficaram naquele boquete por alguns minutos quando ele se levantou para tirar a bermuda de tactel e ficar apenas com a cueca jockstrap branca da Calvin Klein.

Ficou de quatro na cama, entregando o ânus para ser lambido pelo dono da casa, famoso pelos beijos gregos bem dados e muito solicitados. É que a esposa do visitante, apesar de saber da sua bissexualidade, não topava qualquer prática com o marido que pudesse, em sua cabeça, diminuir sua masculinidade.

"Ela sabe que gosto de homens também, mas jamais toparia comer meu cu. Aí preciso conciliar as coisas de vez em quando." Ele conta que foi um choque para a esposa quando abriu o jogo. Ela nunca demonstrou desconfiar que, em algumas quintas-feiras, antes do tradicional jogo de futebol com os amigos, o marido vai bater bola em outro endereço.

"A gente se conheceu por acaso, por intermédio de um ex-namorado, e depois começamos a sair só a gente. Na primeira vez, fizemos a três, foi interessante, mas a dois percebi que ele se soltou mais", explica o dono da casa. Antes de qualquer contato, há sempre alguns contratos e acordos, alguns deles velados, outros mais explícitos.

Dotado não somente de um pau grande e grosso, mas de uma autoestima do tipo Susana Vieira, o visitante pede que o dono da casa não encoste no pau dele naquele dia. Quer apenas dar e tomar leite ao final. Beijo na boca é proibido, mas, conforme as lambidas aumentam e o cheiro de suor se pronuncia, o visitante se entrega completamente em um arrepio de tesão e deixa que a boca fique molhada e marcada por um beijo obsceno. Tudo isso enquanto pau e cu se encaixam lindamente um pouco mais pra baixo.

O visitante é apenas um dos muitos homens casados com mulheres que gostam de se relacionar com outros homens. E o dono da casa é também um dos muitos gays assumidos que não veem nenhum problema em ter um sexo casual com homens héteros ou bissexuais. Um desses muitos é o psicólogo Jeam, de 42 anos.

Assumidamente gay, Jeam teve um envolvimento casual duradouro com seu vizinho, um empresário conservador e chefe de uma família margarina. "Fiquei curioso e fui pesquisar ele no Facebook. Tem foto na missa, a esposa é uma 'loira odonto', os filhinhos são loirinhos e ele faz campanha pro Bolsonaro. Tudo como manda a cartilha da família tradicional brasileira."

O primeiro encontro dos dois aconteceu no prédio onde Jeam e seu CEO tinham escritório. "A gente se cruzou em algum lugar, no hall ou no elevador, não lembro direito", conta Jeam. Jogando conversa fora, Jeam entendeu o que o CEO estava querendo e começaram os encontros casuais. "As mensagens eram sempre neutras, nada que pudesse indicar qualquer envolvimento. Ele mandava um 'e aí, beleza, tô com horário vago agora'." A mensagem lacônica era suficiente. Jeam descia pelas escadas enquanto o CEO olhava se não tinha ninguém de porta aberta ou de passagem.

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"Tinha uma coisa de fetiche ali. Quando eu entrava, ele já estava me esperando, vestindo apenas uma meia social e um cigarro acesso, sentado na cadeira de pau duro." A relação entre Jeam e o CEO durou um certo tempo e tinha papéis bem definidos. "Ele era apenas ativo, não deixava eu passar nem perto do cu dele. Ele parecia o Clark Kent, mas adorava ficar de quatro e pedir pra eu foder a boca dele. Ele parecia uma cadela nessas horas, a boca salivando de vontade. Mas era o máximo de submissão que ele se permitia", conta Jeam.

Por ser psicólogo, Jeam tem uma visão muito lúcida sobre essa questão de homens casados com mulheres que se relacionam com homens gays: "O que eu já fiz de 'cura hétero' nessa vida... Mas nem todos são gays ou bissexuais, às vezes é só o desejo. Há também os heteropassivos. O cara gosta de mulher, mas tem esse desejo de ser penetrado por pau de verdade". Porém, apesar da praticidade, sempre há um receio pairando nesses encontros.

"É sempre marcado pela dúvida, uma certa insegurança, um medo, o que deixa tudo mais interessante", explica Jeam. Ele conta que isso acontece em todo encontro mais casual, independentemente da orientação sexual do cara. "Dependendo de onde vai se dar o encontro ou de alguma intuição minha, eu já saio de casa deletando os aplicativos de banco", ri. Mas há alguns impeditivos que podem definir se o encontro vai rolar ou não.

Jeam é assumidamente gay, o que impacta se o encontro vai rolar ou não. "Sabe aquele ditado: onde tem bicha tem sossego? Qualquer lugar é lugar, mas pega muito a questão do sigilo com estes homens. Não pode dar pinta, tem que ser o discreto e fora do meio, sabe?"

Para ele, a questão desses homens não é necessariamente o cu, mas a associação com a imagem da mulher, comumente subjugada e diminuída perante o homem. No sexo gay, essa hierarquia também é presente, com o passivo sendo associado à imagem da mulher. "A gente percebe muito isso nos discursos do tipo, 'Vou estourar sua cucetinha, vou acabar com ela'", explica ele.

Mas nem tudo precisa ser casual. Em 2009, Jeam conheceu um homem gay não assumido e os dois se apaixonaram. "Ele era casado com mulher e a relação estava no término, eles estavam se separando. Na sequência, ele se assumiu e fomos casados até 2012, 2013", relembra.

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Diferentemente deste caso, temos o visitante, que segue casado e gostando de mulher também. Definindo-se como bissexual, ele confirma que os encontros são mais esporádicos e dependem muito das agendas vagas dentro do casamento. Assim como Jeam, o visitante diz que qualquer lugar é lugar: "Um banheirão no shopping, um encontro na academia."

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Imagem: Adams Carvalho/UOL

Foi num desses treinos que o dono da casa conheceu um contador. "Era domingo, tava na academia e o cara não parava de me olhar. Quando fui ao banheiro, ele ficou no mictório ao lado do meu, manjando meu pau. Tive que falar pra ele ser mais discreto e fomos numa cabine. Lá dentro ele me chupou até eu gozar enquanto ele batia uma punheta ajoelhado e gozou também. Ele me falou apenas o primeiro nome e eu descobri que era contador, casado com mulher. O de sempre."

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