Tragédia familiar, corrupção: detalhes inéditos da vida de Gilberto Braga

Gilberto Braga morreu em 2021, aos 75 anos, mas ganhou a biografia "Gilberto Braga: O Balzac da Globo", lançada este ano. O livro, escrito por Artur Xexéo e Mauricio Stycer, conta detalhes da vida de um dos autores que mais marcaram a história das novelas brasileiras.

Responsável por "Vale Tudo", "Dancin' Days", "Paraíso Tropical" e a minissérie "Anos Dourados", o autor teve um início de carreira e vida bastante conturbado, com tragédias e também algumas doses de sorte.

Trabalhos anteriores

Antes de se tornar um dos maiores novelistas do Brasil, Gilberto Braga era professor de francês e crítico de teatro. No entanto, ele não estava satisfeito com suas ocupações.

Braga acreditava que ser professor não tinha futuro. "Não gratifica ninguém, nem monetariamente, nem intelectualmente."

Como crítico, ele não ganhava dinheiro suficiente. "Eu mal conseguiria sobreviver como crítico teatral; ninguém o faz."

A quem perguntasse, Gilberto Braga tinha a resposta para o que ele gostaria realmente de fazer. "Eu quero desesperadamente ser feliz."

Diplomacia

Em 1965, aos 19 anos, o autor prestou concurso para ser diplomata. Ele passou na prova de línguas, mas foi reprovado em história do Brasil.

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"Alguns anos depois, quando já havia desistido definitivamente do Instituto Rio Branco, Gilberto elaborou melhor as razões de sua rejeição à carreira diplomática: "Essa imagem que a classe média faz do diplomata nada tem a ver com a profissão em si. O diplomata é um técnico em economia e política internacional, assuntos pelos quais nunca me interessei, que tem um trabalho monótono e burocrático e, embora poucas pessoas saibam disso, ganha relativamente pouco", diz o livro.

Pedido de emprego

Em 1972, Gilberto Braga estava na piscina do clube Campestre, no Rio, quando encontrou Daniel Filho, responsável pela área de dramaturgia da Globo. À época, a Globo tinha alguns projetos especiais, espécies de histórias famosas que eram contadas de maneira contemporânea.

O autor pediu a Daniel uma oportunidade, e ele mandou que Gilberto procurasse Domingo Oliveira, o responsável pelos projetos. Conseguiu a oportunidade de criar "A Damas da Camélias", seu primeiro trabalho na TV.

Não queria ser escritor

O amor de Gilberto Braga era o cinema. Apaixonado pela sétima arte, passou sua infância e juventude indo à sala de exibições conferir os lançamentos.

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Ele queria trabalhar também com filmes, mas como ganhou notoriedade no meio televisivo, deixou o sonho de lado.

O que eu queria mesmo era ser diretor de cinema. Mas como me dei bem na televisão, eu desisti e fiquei na televisão.

Gilberto Braga queria ser diretor de cinema
Gilberto Braga queria ser diretor de cinema Imagem: George Magaraia/Memória Globo

Primeira tragédia familiar

A avó de Gilberto Braga, Rosa Tumscitz, foi morta pelo avô, o estivador Raul Tumscitz. O homem lidava com problemas de saúde e já estava aposentado.

Segundo a biografia, foram ouvidos tiros de revólver e gritos. Raul sofria de distúrbios e dizia que a esposa estava o traindo com um comunista. Após o crime, ele foi internado em uma instituição.

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Corrupção

Seu pai, Durval, morreu em 1963, em decorrência de um infarto. A família ficou surpresa ao saber o valor da pensão que receberia. Ele era escrivão de polícia e, ao morrer, descobriram que o salário que recebia não conseguia manter o alto padrão de vida que tinham.

Assim, descobriram, por meio de um tio materno, que Durval recebia dinheiro por fora. "Havia um incêndio, ele recebia algum por fora para não dizer que foi criminoso".

Segunda tragédia familiar

Depois que seu pai morreu, sua mãe teve depressão. Ficou três meses internada e se recuperou. Em 1972, ela voltou a ficar mal, sendo internada novamente, mas não respondeu ao tratamento.

Então, voltou a morar em sua casa, onde cometeu suicídio.

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Mudança de nome

Quando começou a trabalhar, Gilberto usava seu sobrenome de batismo, Tumscitz. No entanto, de tanto errarem a escrita e a pronúncia, ele passou a assinar como Gilberto Braga.

Ele chegou a ser anunciado de maneira errônea durante um prêmio Molière, de teatro. O apresentador o chamou de Gilberto Tumix.

"Mas nada doeu tanto quanto aparecer pela primeira vez na vida na coluna de Ibrahim Sued, um velho sonho, sendo chamado de 'Gilberto Tumatz'", conta o livro.

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