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Morte de Daniel e nova autora: a reviravolta de 'Terra e Paixão' por ibope

Johnny Massaro e Barbara Reis em cena de "Terra e Paixão" - Globo
Johnny Massaro e Barbara Reis em cena de 'Terra e Paixão' Imagem: Globo

Cristina Padiglione

De Splash, em São Paulo

04/07/2023 15h25

Mais misteriosos que os segredos que cercam a família La Selva em "Terra e Paixão" são os bastidores da obra. A chegada de Thelma Guedes à autoria da trama da Globo na função de parceira do titular, Walcyr Carrasco, vai bem além de um suposto pedido de socorro para reverter a baixa audiência do folhetim.

Ainda que muitas coisas tenham mudado na estrutura da Globo, historicamente, a emissora não interfere nos créditos de uma novela se não houver uma emergência, um fato inesperado, um acidente ou alguma questão de saúde no meio do caminho.

O próprio Carrasco uma vez foi chamado a socorrer Benedito Ruy Barbosa no roteiro de "Esperança", em 2003 — não como parceiro de texto, o que o titular, avesso a dividir o script com outros escritores, não aceitaria, mas, sim, na condução completa da trama até o seu encerramento. Na época, Barbosa adoeceu e, sem colaboradores, nem tinha a quem delegar a história.

Em "De Corpo e Alma" (1992), Gilberto Braga assumiu a novela de Gloria Perez ao longo de duas semanas após o assassinato de Daniella Perez, filha da autora, o que abalou toda equipe, já que o assassino estava também no elenco. Tanto em "Esperança" como em "De Corpo e Alma", a presença de outro autor na história foi uma imposição da direção da emissora, resposta a emergências inevitáveis.

Escolha de Carrasco

Agora, a presença de Thelma em "Terra e Paixão" foi definida pelo próprio Carrasco, que confia plenamente na autora, ex-colaboradora sua em outras novelas e de quem ele já foi supervisor. Mas a presença de um segundo nome na redação final do folhetim está longe de ser uma opção dele, que não é de dividir os créditos de titular com outro profissional e só quebra esse hábito agora por alguma necessidade não esclarecida.

"Walcyr foi importante para mim desde o começo da minha carreira, quando fiz 'Sítio do Picapau Amarelo' com ele", disse Thelma a Splash, por intermédio da assessoria da Globo, a quem questionei sobre como o nome da autora será exposto nos créditos.

Foi o responsável por me alçar nesse lugar de autora, me juntando a Duca [Rachid], por exemplo. Criamos uma conexão forte desde os primeiros trabalhos que fizemos, como 'Chocolate com Pimenta' e 'Alma Gêmea'. Acredito que temos um casamento de almas, então fiquei superfeliz quando me convidou. Estávamos ensaiando isso há muito tempo e estava com muita saudade de trabalhar com ele. Thelma

O crédito ficará assim: "'Terra e Paixão' é uma novela criada por Walcyr Carrasco, escrita por Walcyr Carrasco e Thelma Guedes. A obra é escrita com Márcio Haiduck, Vinícius Vianna, Nelson Nadotti e Cleissa Regina."

A jornada proposta pela direção da Globo a ele é longa. "Terra e Paixão" começou em junho e só terminará em janeiro, atendendo às conveniências de calendário. Lançar novela perto do fim do ano é aposta de risco, em razão do comportamento atípico da audiência.

Nos bastidores, essa extensão para mais de 200 capítulos surge como um pretexto para auxiliar o autor em uma temporada comprida, mas, de novo, por que esse fator não foi planejado desde o início da história?

Cenário comum

Quando a Globo tinha um grande elenco de dramaturgos disponíveis sob regime de exclusividade por longas temporadas, não era incomum escalar um autor para acompanhar, em sistema de stand by, a novela de outro colega, geralmente com quem tinha afinidades pessoais e artísticas. Um Benedito Ruy Barbosa, por exemplo, autor de histórias rurais, jamais seria stand by de um Gilberto Braga, que trafegava por enredos urbanos cariocas.

Autores em fase de lançamento no gênero também são supervisionados por profissionais experientes, como aconteceu com Manuela Dias, acompanhada de longe por Ricardo Linhares, ao estrear bem na faixa das nove, a mais cara, com "Amor de Mãe", em 2019. Ultimamente, com os contratos por obra certa, essa figura do autor ou supervisor escalado para acompanhar de longe o folhetim de outro dramaturgo deixou de ser praxe.

Embora não alcance os índices de "Pantanal", que frequentava a casa dos 30 pontos de audiência, "Terra e Paixão" segue mais ou menos na toada de sua antecessora, "Travessia", que cumpriu seu rumo até o fim sem intervenção de outro autor que não fosse a titular Glória Perez.

Antes que os créditos de Thelma surjam na tela, está prevista para esta quinta-feira (6) uma grande virada na novela, com a suposta morte de Daniel (Johnny Massaro). Ele sofre um acidente de carro após sair descontrolado de uma discussão em família em que toma conhecimento sobre o passado da mãe, Irene (Glória Pires), ex-prostituta, revelação feita pelo irmão, Caio (Cauã Reymond).

Números

A Globo vem infestando os intervalos com chamadas da sequência, com a aposta de voltar a bater pelo menos nos 27 pontos de média na Grande São Paulo. No capítulo que foi ao ar no dia 26 de junho, o casamento de Petra (Debora Ozório) e Luigi (Rainer Cadete) alcançou 27,3 pontos de audiência e 43% de participação entre as TVs ligadas no horário.

Os números representam 2 pontos (ou 8%) a mais que a média parcial de "Terra e Paixão", alvo de 25 pontos até o capítulo 45. Mas ainda temos mais seis meses de história pela frente. Haja reviravolta.

O capítulo de "Terra e Paixão" desta segunda (3) registrou recorde de audiência na Grande SP, com 29 pontos de audiência e 45% de participação. A novela exibiu o flagra de Kelvin (Diego Martins) do beijo entre Aline (Barbara Reis) e Daniel (Johnny Massaro), e a declaração de amor de Caio (Cauã Reymond) a Aline.

Nos capítulos que vão ao ar a partir de hoje, Ademir (Charles Fricks) conta a Caio que o irmão e ele gostam da mesma mulher, Aline.