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Valesca diz que 'ama cantar o proibidão': 'Pessoas não falam, mas transam'

Valesca Popozuda lança "Entrega Tudo", parceria com Os Hawaianos que resgata funk dos anos 2000 - @_brunini
Valesca Popozuda lança 'Entrega Tudo', parceria com Os Hawaianos que resgata funk dos anos 2000 Imagem: @_brunini

De Splash, no Rio

17/10/2022 04h00

Era o início dos anos 2000 quando Valesca Popozuda começou a fazer sucesso dentro do grupo Gaiola das Popozudas, um dos precursores do funk carioca feminino. Agora, a cantora lança "Entrega Tudo", em parceria com Os Hawaianos, para resgatar sonora e esteticamente o funk daquela época.

Em carreira solo desde 2012, quando saiu do grupo conhecido por cantar os famosos funks proibidões, Valesca retoma o baile funk raiz. Para ela, cantar sobre sexo é falar da realidade, do que as pessoas por vezes escondem, mas desejam e fazem.

"Hoje é mais fácil de falar sobre sexo, amo cantar o proibidão, me sinto realizada", diz Valesca a Splash.

"É bom se comunicar por meio da música e quebrar tabus. Mas quando a gente fala de put*ria, ainda choca as pessoas, mas a gente tem que falar sobre a realidade. Até porque as pessoas não falam, mas elas fazem, elas transam", pensa.

"Não é vergonha nenhuma conversar sobre, existem tantas doenças por aí. Se calar é pior", diz a artista, que conta ter sempre falado abertamente sobre o assunto com o filho Pablo, de 22 anos, que segue carreira no funk como o MC Pablinho.

"Sempre gostei de conversar disso com meu filho. Nós somos amigos e parceiros... 'Ai, você quer rebaixar mulher'. Não estou desvalorizando as mulheres, estou gritando o que as mulheres queriam falar, mas tinham medo do julgamento da sociedade", reflete.

Atualmente, ela está em uma fase mais light, mas diz que não vai abandonar os proibidões que lhe deram sucesso nos anos 2000. "As pessoas vão me ver cantando put*ria, mas também músicas mais lights", completa.

Sem dancinha

O videoclipe da música foi gravado na comunidade Tavares Bastos e homenageia às favelas cariocas, que são o berço do funk, além de citar músicas antigas da artista, como "Agora Eu Tô Solteira" e "Beijinho no Ombro", e exaltar os passinhos livres do início do século, bem diferente dos passinhos padronizados da era TikTok.

"A gente não trouxe nenhuma dancinha de agora do TikTok, eu queria uma coisa bem livre mesmo. Por mais que a gente sempre se sinta desafiada a fazer algo atual, eu queria algo que lembre lá atrás: a roupa, as joias, o ouro, a comunidade. A Gaiola das Popozudas começou nas comunidades, os Hawaianos também. Nos anos 2000, para você estourar aqui fora no asfalto, você precisava estourar primeiro em uma comunidade", lembra.

O nosso funk atual vem com referências do TikTok. Tudo bem, a gente é desafiado a fazer a dancinha, mas acho que ninguém é obrigado a só fazer TikTok. Ninguém é igual a ninguém, sabe? A dança é livre.

A cantora não descarta o aplicativo de dancinhas em sua carreira. Pelo contrário, ela reconhece que o aplicativo é importante para viralizar músicas, incluindo faixas antigas. Antes de lançar "Entrega Tudo", a artista se jogou no funk proibidão "Faz Direito", em parceria com Tati Quebra Barraco e WC No Beat. Lançado em julho, o single foi voltado ao TikTok.

"Se você quer fazer o TikTok, você faz. Como eu digo: se viralizar no TikTok, alguém fizer uma dancinha, a gente joga para o mundo, a gente quer mais é que exploda. Mas seja livre... Vejo a galera se jogando no TikTok, mas até quando eu devo ficar dentro da caixinha? Eu posso sair dessa caixinha. Não estou desfazendo do TikTok porque a galera ganha dinheiro nele, viraliza músicas minhas antigas lá e ajudou bastante na pandemia. Mas não me vejo obrigada a ficar virada para o TikTok sempre. Se pegar, pegou. Se não pegar, estou livre", diz.

Mulheres no funk

Valesca exalta a presença de mulheres no funk, principalmente as que vieram lá no início dos anos 2000, como Tati Quebra Barraco, Deize Tigrona e MC Carol, para que o gênero esteja no patamar que está hoje.

Ela também cita nomes mais jovens, como Anitta, Ludmilla, Rebecca e Pocah, e diz que não há espaço para rivalidade, nem dizer que uma pessoa só é responsável pelo sucesso do estilo que antes só tocava nas rádios comunitárias da periferia e agora chega a grandes festivais, como o Rock in Rio, e a programas de TV.

Vamos crescendo juntos, as pessoas precisam se conscientizar, não precisa brigar, vamos dar às mãos. Tem espaço para todo mundo.

Valesca gravou 'Entrega Tudo' ao lado do grupo Os Hawaianos - @brunini - @brunini
Valesca gravou 'Entrega Tudo' ao lado do grupo Os Hawaianos
Imagem: @brunini

Apoio a Lula

No papo com Splash, Valesca diz não ter medo de se posicionar politicamente a favor de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pois isso iria contra a sua trajetória pessoal e artística.

"Sou uma mulher nascida e criada na periferia, na comunidade. Faço do funk a minha arte, o meu sustento e ganha-pão. Sou contra qualquer tipo de preconceito. Todos os que vão ao meu show sabem disso. E o governo atual vai contra a minha história. Sempre me posicionei, nunca tive medo", diz.

Perdi fãs pelo meu posicionamento, mas eu nunca comprei seguidores. Meus seguidores são reais. Se você se posiciona, você está errada, se não se posiciona, está errada. Fica difícil. Não me posicionar vai contra a minha história

Valesca em encontro com Lula em 2008  - Wallace Barbosa/Ag News - Wallace Barbosa/Ag News
Valesca em encontro com Lula em 2008
Imagem: Wallace Barbosa/Ag News

Recentemente, viralizou no TikTok um funk antigo de Valesca em apoio ao presidente, que diz: "Conheci o Lula no Complexo do Alemão, e ele não tirou o olho do meu popozão". A letra foi escrita após a cantora conhecer o então presidente em 2008. Na semana passada, ela voltou a encontrá-lo no complexo carioca durante agenda de campanha do petista.

"Amigos que trabalham comigo não sabiam e falam: 'Val, eu não conhecia essa música'. Agora, eu fui ao Complexo e a galera comentou direto. Minha história com ele começou no Complexo. A gente se falou rapidinho... Ele está numa correria de campanha. Fui dar meu apoio e escutar cada um na comunidade, ver o olhar de esperança. A gente só quer que cuidem da gente, a gente quer cuidado. É de emocionar o olhar de cada pessoa, a lágrima caindo", diz.

"Eu vejo muita gente falando que eu tinha de cantar na posse... Se me convidarem, eu estou dentro", finaliza a cantora, aos risos.