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Pela democracia: relembre censura dos artistas do Rock in Rio 1985

Homenagem Rock in Rio 1985 - Roberto Filho / Brazil News
Homenagem Rock in Rio 1985 Imagem: Roberto Filho / Brazil News

Yolanda Reis

Colaboração para Splash, do Rio

09/09/2022 20h56

Ivan Lins deu início à homenagem que o Rock in Rio 2022 fez à 1985 - ano da primeira edição do festival, e oportunidade para alguns dos shows mais icônicos da história da música. Ele aproveitou para criticar o fascismo, pelo importante contexto histórico da carreira dele.

Os shows de 1985 reuniram Queen, que fez uma versão fantástica e inesquecível de "Love Of My Life" que marcou a carreira de Freddie Mercury; AC/DC e Whitesnake, em mais de uma noite cada, vieram para marcar a história do rock; até o Iron Maiden passou por aqui - e voltou em 2022!

O ano foi especialmente importante para a música do Brasil. No começo de 1985, a Ditadura Militar no Brasil começava a esmaecer. Diversos artistas que foram reprimidos ou estavam em exílio retornavam ao país, e os shows no Rock in Rio 1985 foram anunciados como "primeiro show da democracia brasileira."

Na homenagem feita durante 2022, o Rock in Rio chamou alguns dos principais artistas brasileiros que estavam no festival no século passado: Ivan Lins, Pepeu Gomes, Elba Ramalho, Blitz e Alceu Valença.

Esses, inclusive, foram alguns dos nomes musicais censurados durante a época da Ditadura Militar. Relembre as histórias:

Ivan Lins

O músico começou a homenagem do Rock in Rio 2022 a 1985. Ele alterou a letra de "Começar de Novo" para criticar o fascismo. Filho de militares, Lins fez sua carreira durante os anos 1970, e criticava a violência da Ditadura Militar. Uma das canções mais marcantes da época é "Aparecida", na qual escreveu "diz, aparecida." O jogo vocal era uma lembrança das pessoas desaparecidas durante o governo.

Blitz

Em 1982, Blitz lançava seu primeiro disco, As Aventuras de Blitz. Porém, o DCDP - Divisão de Censura de Diversões Públicas, censurou duas músicas do disco por conteúdo inadequado: o uso da palavra "bundão" em "Ela Quer Morar Comigo na Lua" e o uso ambíguo da palavra "peru" em "Cruel, Cruel, Esquisofrenético Blues", (além de um palavrão na música).

A banda tinha prensado 30 mil cópias do disco, e precisaram riscar todas à mão para que as faixas não pudessem ser reproduzidas.

Elba Ramalho

A cantora lançou "Nordeste Independente" em 1984 - mas a música gerou represália. Falava sobre uma das questões mais antigas do Brasil: a independência do Nordeste do restante da nação. Porém, ao contrário do pensamento da maioria, que via Sul e Sudeste como potência econômica e Nordeste como âncora, a cantora argumentou sobre a importância do Nordeste na economia. Ela voltou a apresentar a faixa depois da redemocratização do Brasil.

Alceu Valença

O cantor foi para a Europa, como muitos artistas da época, por medo de uma reação política. Anteriormente, falou sobre ver alguns amigos deles - que nem tomavam posições políticas - serem torturados. No exílio, o cantor lançou "Anunciação", um dos seus maiores clássicos. A faixa virou uma espécie de hino nordestino da Ditadura, que cantava "tu vens" para a democracia.

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