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Da amizade à dívida milionária: entenda a polêmica entre Belo e Denilson

Colaboração para Splash, em São Paulo

21/07/2022 04h00

Amigos nos anos 90, o ex-jogador Denilson e Belo romperam relações em 2000, quando o cantor deixou o grupo de pagode "Soweto" e, desde então, travaram uma briga jurídica que dura mais de 20 anos.

Antes de chegarem à Justiça, o cantor e o ex-jogador eram bons amigos. Em 1999, o hoje comentarista da Band comprou os direitos comerciais do grupo de pagode, mas a saída do vocalista da banda em 2000 para seguir carreira solo gerou o atrito. Com isso, Denilson levou o caso à Justiça e acusou o cantor de quebra de contrato por ter deixado o grupo e teve, em 2004, uma decisão favorável do Tribunal de Justiça.

Na época, foi determinado que Belo pagasse R$ 388 mil a Denílson. No entanto, o valor nunca foi quitado e o processo já transitou em julgado, ou seja, não há mais recursos. Atualmente, o valor supera R$ 7 milhões, o que é contestado pelo cantor.

Uma grande amizade

Nos anos 90, Denilson fazia sucesso como jogador. Revelado no São Paulo, ele defendeu a seleção brasileira e construiu carreira no futebol europeu. Paralelamente aos campos, Denilson decidiu investir em um segmento que estava em alta na época: a música.

Fã de pagode, o ex-jogador adquiriu em 1999 os direitos da banda "Soweto", que acumulava hits na voz de Belo. Denilson se encarregaria de custear parte dos recursos da equipe e banda. Em contrapartida, ele teria porcentagens em comercialização de shows.

O estafe de Denilson informou ao UOL Esporte que o ex-jogador teria pagado cerca de R$ 1 milhão para ter o controle do grupo, que na época estourava nas rádios do país com as músicas "Farol das Estrelas", "Mundo de Oz" e "Tempo de Aprender".

Denilson chegou a convidar a banda para comemorar seu aniversário na Espanha quando ele jogava no Betis, de Sevilha.

Saída de Belo do grupo "Soweto"

Em 2000, Belo deixou o grupo para seguir carreira solo e o detentor dos direitos da banda, Denilson acionou a Justiça contra Belo alegando quebra de contrato, entre outros prejuízos.

À Justiça, a defesa de Belo informou que o cantor jamais reconheceu Denilson como "dono do Soweto" e argumentou que Belo não recebeu qualquer aporte financeiro de Denilson no período do grupo. O jurídico do cantor declarou à Justiça que o ex-jogador não provou ser efetivamente o proprietário da banda de pagode.

Justiça à favor de Denilson

Em 2004, o Tribunal de Justiça entendeu que Belo descumpriu acordo e deu vitória a Denilson, determinando que o cantor pagasse R$ 388 mil na época. O valor não foi quitado. Atualmente, com correções, a quantia supera R$ 4,7 milhões. O processo foi transitado e julgado (não há mais condições de recorrer).

Em 2017, Belo ingressou com ação contra Denilson por danos morais. O comentarista esportivo escreveu mensagem em um post do cantor Thiaguinho. Na foto postada no Instagram, Thiaguinho aparecia ao lado de Belo, e parabenizava Belo pelos 43 anos de idade. Denilson aproveitou o post para cobrar a dívida: "Só falta aprender a pagar quem ele deve".

No Tribunal, Belo comunicou que Denilson depreciou sua imagem publicamente e pediu R$ 500 mil de dano moral. A Justiça considerou improcedente a ação, justificando que existe a comprovação do débito do outro processo.

O Tribunal determinou que Belo arcasse com os custos advocatícios da outra parte (Denilson), fixados em 10% do valor da ação, totalizando R$ 50 mil. A quantia a ser paga neste processo deverá ser encaminhada integralmente para o advogado de Denilson (a título de honorários sucumbenciais). Cabe recurso.

Ainda em 2017, a Justiça de São Paulo determinou que as principais emissoras de TVs do país (Globo, SBT, Record, Bandeirantes, Gazeta e Rede TV!) depositem em juízo eventuais cachês para Belo. A decisão judicial tem como base a ação movida pelo comentarista esportivo Denilson, que acusou o cantor de rompimento de contrato comercial.

Troca de farpas publicamente

Em 2020, durante uma live que reuniu mais de 17 mil pessoas no Instagram, Denílson ameaçou ligar ao vivo para o cantor para cobrar a dívida. "Vai, me arruma o telefone do Belo. Vamos cobrar esse filho da p... Vai me mandar o número do Belo? Mano, vai dar m..., do jeito que 'tô' aqui vai dar m..., tio", disparou. Ao então colunista do UOL Leo Dias, Belo assegurou que quitaria a dívida até o final daquele ano.

Em junho de 2021, Denílson se pronunciou mais uma vez. Após o TJ-SP ordenar que a arrecadação da venda de ingressos de dois shows do cantor fossem bloqueados e transferidos para o pagamento da dívida, o ex-jogador comentou a medida ao UOL Esporte. "A decisão da Justiça já tem anos. Um assunto que não mudou. [O Belo] Continua me devendo e eu continuo querendo receber", enfatizou.

Cerca de quatro meses depois, em outubro do ano passado, Denílson voltou a cobrar publicamente a dívida por conta da saída do vocalista do Soweto em participação no Flow Sport Club, no YouTube. "Não pode ser normal um cara te dever e dormir tranquilo. (...) O cara me deve, não me pagou ainda. (...) Ele deve e eu quero receber", afirmou o ex-jogador na entrevista.

Nova decisão da Justiça

Na última terça-feira, a Justiça de São Paulo determinou que seja feito um depósito judicial de pouco mais de R$ 7 milhões que iriam para Belo, oriundos de um show a ser realizado no mês de agosto, no Pacaembu, ao lado de Thiaguinho, pela dívida com Denilson.

Em decisão publicada ontem (19), a 5ª Vara Cível do Foro de São Bernardo pediu que sejam enviados ofícios às empresas que vendem entradas para o evento, marcado para o dia 20 do próximo mês. A determinação do tribunal é de que as empresas promovam o depósito judicial "até o limite do valor incontroverso do débito", de exatos R$ 7.004.586,00.

Ou seja: o bloqueio será limitado aos pouco mais de R$ 7 milhões citados pela Justiça referentes à parte de Belo em cima do evento. Porém, como o evento acontece daqui a um mês, ainda não é possível saber quanto será arrecadado pelas empresas com o show.

Esse valor de R$ 7 milhões é questionado por Belo. O advogado Marcelo Passos, que representa o artista, afirmou à coluna que entrou com recurso, pois entende que a quantia é irregular.

Ele ressaltou que, no momento, o valor está sob revisão do tribunal e não há bloqueio da receita bruta do evento, mas apenas de parte dos valores que seriam destinados ao artista. Anteriormente, a defesa de Belo derrubou a penhora da receita bruta de bilheteria.

Denilson também foi procurado para comentar a decisão da Justiça por meio de sua assessoria de imprensa, mas não se manifestou até a publicação. Caso o ex-atleta queira falar sobre o tema, a reportagem será atualizada.