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'Cozinhando com Paris Hilton' é um absurdo tão grande que quase fica bom

Imagem de divulgação de "Cozinhando com Paris Hilton", da Netflix
Imagem de divulgação de "Cozinhando com Paris Hilton", da Netflix
Kit Karzen/Netflix

De Splash, em São Paulo

03/08/2021 13h06

Paris Hilton não está tentando ensinar ninguém a cozinhar. Ela também não está interessada em aprender novas táticas para usar na cozinha. Vestida com looks deslumbrantes demais para quebrar ovos e bater massas, ela se protege numa redoma de ironia que, às vezes, soa passada.

Isso é "Cozinhando com Paris Hilton". O programa da Netflix lembra um pouco a premissa de "The Simple Life", o reality de 2003 que jogou Paris e Nicole Richie para encararem uma vida comum no subúrbio. A principal diferença é que, quase 20 anos depois, a piada já não funciona tão bem.

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Revisionismo?

Na maioria das vezes, temos a impressão de que Paris está por dentro das piadas. O desinteresse em aprender novas técnicas ou em seguir as receitas parece proposital, com a socialite abraçando a persona indisposta e ignorante pela qual ficou conhecida. Mas será que isso basta?

Ampliando o contexto da situação, Hilton estrelou no ano passado o documentário "This Is Paris", em que revela a sua "verdadeira voz".

A verdadeira eu é uma pessoa brilhante. Não sou uma loira burra, sou apenas muito boa em fingir ser uma.
Paris Hilton
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Com o material, a herdeira dos hotéis Hilton tenta se inserir num momento em que elementos da cultura de celebridades do início dos anos 2000 têm sido reavaliados.

De Britney Spears a Ben Affleck e Jennifer Lopez, a internet parece ter decidido que era hora de repensar a sua relação com as estrelas.

Então, onde Paris se encaixa nisso?

A mensagem parece contraditória. A princípio, "Cozinhando com Paris Hilton" está no espectro oposto do que afirma o documentário do ano passado.

Ela está realmente tentando transformar sua imagem ou apenas atualizar seu bordão e arrancar risos a partir do absurdo?

Toda a premissa do programa é bem simples, e tenta fazer com que o espectador ache graça da falta de habilidade de Paris manuseando um liquidificador ou abrindo uma massa.

E até dá pra rir, sim. Sabe quando o negócio é tão ruim que dá a volta e fica bom?

Pois é. O problema é que a piada não evolui.

Em alguns episódios, a situação é mais comedida. O primeiro, com Kim Kardashian, provoca um contraste interessante entre as duas personalidades —Kim se mostra mais adulta, hábil na cozinha enquanto fala das noites de pizza com os filhos.

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Eu sei que você não quer ouvir isso, mas dizem que os 40 [anos] são a melhor idade.
Kim Kardashian
Kit Karzen/Netflix - Kit Karzen/Netflix
Figurinos extravagantes e as luvas que são figurinhas carimbadas de Paris Hilton compõem o novo reality
Imagem: Kit Karzen/Netflix

Outros, como o episódio de Nikki Glasser, soam apenas deslumbrados. A comediante se mostra apaixonada pelo fato de ter sido convidada a compartilhar a cozinha com sua ídola, e a barra para o desastre é claramente forçada.

O resultado é superficial demais. Até para as espátulas de diamante de Paris.

Em outros momentos, Paris demonstra ser engenhosa e ter estratégias úteis escondidas na manga. A impressão é que a empresária luta ativamente contra si mesma para esconder o que existe por baixo da fachada.

Por isso, "Cozinhando com Paris Hilton" parece um trabalho transitório, algo no meio do caminho entre a Paris que já conhecíamos e a Paris que podemos, talvez, no futuro, conhecer.

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Enquanto esta outra não chega, o programa é, na maioria das vezes, um entretenimento fascinante pelo absurdo, mas confortável demais em apostar numa fórmula que já conhece muito bem.

Ele tem o que basta para chamar a atenção, mas não para prendê-la por seis episódios.

"Cozinhando com Paris Hilton" estreia na Netflix nesta quarta-feira (04).