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Boogarins na pandemia: 'Será que bandas de rock terão que virar youtubers?'

A banda goiana Boogarins
A banda goiana Boogarins
Divulgação

De Splash, em São Paulo

13/09/2020 04h00

Imagine ser a banda independente brasileira com mais projeção no exterior. Imagine estar com uma turnê marcada na Espanha e Portugal, com mais de 20 apresentações em casas grandes, incluindo festival, e ter de cancelá-la por motivos de pandemia. Imagine ter nos shows o seu principal ganha-pão.

Ou seja, não está sendo fácil ser o Boogarins em 2020, mas eles não desanimaram

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O grupo acaba de lançar um novo álbum, "Manchaca Vol. 1", com sobras de estúdio e materiais que incluem um monte de misturas sonoras e até gravação feita pelo celular.

Psicodelia made in Brazil

E rolou até clipe para a música "Inocência", feito no milenar estilo "jeito que deu"

Só pra contextualizar um pouco: nos dois primeiros meses do ano, o Boogarins vinha fazendo cerca de dez shows por mês, pelo Nordeste e Sudeste. Nunca haviam marcado tantos num início do ano, quando geralmente rola o período de recesso. 2020 estava prometendo.

Estava...

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Em 2019 a gente faz uns cem shows. E em 2020 fizemos 15 shows e cinco lives até agora. É muito maluco. Isso balança a estrutura da banda como empresa. Mas a gente tem que saber se virar. Todo mundo aqui é 'simplão'. Essa é nossa criação. De levantar e correr atrás do nosso
Dinho, vocal do Boogarins

Mas como se viraram?

Adotando "estratégia de guerra" e cortando gastos ao máximo. Dinho e o baixista Raphael Vaz, por exemplo, moram juntos. O Boogarins vive hoje das rendas de sua loja virtual e streaming. Em 2020, o grupo fez cinco lives, e só três remuneradas. Ser artista no Brasil não é fácil.

Nesse processo de migrar para as lives, você vê que o pessoal está chamando quem tem números. Isso assusta um pouco. Será que as bandas todas terão que virar youtubers? Tentamos ficar perto do nosso público. Não dá para entrar nessa demanda maluca por likes. Não fazemos música por isso.
Dinho

Aliás, nessa pandemia, a banda vem aproveitando para estreitar laços com os fãs. Todo domingo de manhã, os integrantes realizam uma espécie de "missa do Boogarins", em que conversam com o público e divulgam músicas em primeira mão.

Não entendeu? Psicodélico? Imagina

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Falando de banda independente, vimos que o Scalene disse em entrevista ao G1 que desativou seu CNPJ, já que cachês de lives, que variam de R$ 2.000 a mais de R$ 10 mil, estão sendo insuficientes para cobrir os custos, incluindo impostos e despesas com as próprias lives.

E com o Boogarins, como é?

A realidade é parecida com a do Scalene, mas desativar o CNPJ está fora dos planos. E eles nem cogitam tirar grana do próprio bolso para investir em estrutura de lives. O plano é esperar a pandemia aliviar para voltar aos shows. A maior parte foi adiada, não cancelada.

Vendo a situação do Boogarins, você deve ter vontade de compará-los a artistas como os do sertanejo, com sua lives e patrocínios milionárias. É totalmente desproporcional. Isso não dá raiva? Não para o Boogarins. Falando nisso, você sabia que o Mateus, da dupla Jorge e Mateus, é fãnzão do grupo?

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O sertanejo vive outra realidade. Tem outro jeito de trabalhar. Mas a cabeça é de músico. Às vezes o pessoal do independente pega raiva do mainstream. Mas é o sistema é que é meio doido. No fim das contas, o cara é só um músico correndo atrás do dele.
Dinho, que conheceu Mateus no programa Conversa com Bial

Para passar a régua, um exercício de futurologia. O que o esperar para o Boogarins nos próximos anos?

Sempre muita correria. Este momento prova que a gente tem que continuar indo atrás. Claro que falta estrutura, apoio do governo em cultura. Mas já temos oferta para tocar na Europa ano que vem. Ainda há muita incerteza se vamos conseguir voar para lá. Mas estamos muito animados e unidos

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Então sobe o som, porque ele é muito bom!