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Mauricio Stycer

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Record esconde fala de Lula; JN não cita crítica do ex-presidente à Globo

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em primeiro discurso após anulação de todas as suas condenações na Lava Jato - Marcelo D. Sants/Framephoto/Estadão Conteúdo
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em primeiro discurso após anulação de todas as suas condenações na Lava Jato Imagem: Marcelo D. Sants/Framephoto/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

10/03/2021 21h55Atualizada em 11/03/2021 00h15

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Um dos principais assuntos do dia, o primeiro pronunciamento do ex-presidente Lula após a anulação das condenações na Lava Jato, mereceu cobertura muito diferente de duas das principais emissoras do país.

No "Jornal Nacional", a fala de Lula foi um dos tópicos da "escalada" (os assuntos principais lidos na abertura do telejornal), destacando que o ex-presidente afirmou "ser vítima da maior mentira jurídica em 500 anos". E mereceu uma longa reportagem, de quase 11 minutos detalhando o seu discurso. No "Jornal da Record", o assunto foi deixado para o final do telejornal e ocupou apenas um minuto do noticiário.

A Record já havia demonstrado pouco interesse no assunto durante o dia. Diferentemente de outros canais de notícias, como GloboNews, CNN Brasil, BandNews e SBT News (online), a Record News foi o único a não transmitir ao vivo o pronunciamento de Lula.

No telejornal noturno, a emissora se limitou a mostrar um trecho em que Lula agradece o ministro Fachin pela decisão de anular as condenações e lembra que a sua defesa sustenta há cinco anos o argumento que foi aceito esta semana pelo STF.

Na Globo, a repórter Patrícia Falcoski reconstituiu as principais passagens do discurso, a lembrança da prisão, em 2018, os comentários sobre a decisão do ministro Edson Fachin, do STF, as muitas críticas ao ex-juiz Sergio Moro e aos procuradores que atuaram na Lava Jato, as restrições à política econômica do governo e a disposição de dialogar com políticos de diferentes tendências.

Em outra parte do telejornal, foi feito um registro irônico sobre o súbito cuidado que o presidente Jair Bolsonaro demonstrou nesta quarta-feira (10) com o uso de máscaras em uma cerimônia pública. O JN registrou que foi "um fato novo", lembrando que desde fevereiro o presidente participou de 36 eventos oficiais sem usar máscara.

Disse Bonner: "A cerimônia de hoje em que o presidente e todos os demais participantes surgiram mascarados começou pouco mais de quatro horas depois do pronunciamento do ex-presidente Lula em que ele e todos os presentes ao evento usaram máscaras".

O JN não reproduziu, porém, as críticas de Lula à Globo. Num comentário carregado de ironia, o ex-presidente se referiu à edição de terça-feira (09) do telejornal como "épica" por reproduzir as falas dos ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski, que votaram a favor da suspeição de Moro. "Pela primeira vez, a verdade prevaleceu", disse Lula.

Na GloboNews, à tarde, a apresentadora Aline Midlej leu uma nota a respeito: "O ex-presidente Lula fez criticas aos órgãos de imprensa, e à Globo em especial. Elogiou a cobertura do 'Jornal Nacional', que classificou de 'épica'. Deu a entender que ontem a Globo relatou a verdade, o que antes não fazia. E desejou que este passe a ser o padrão do jornalismo da emissora. O ex-presidente está errado. O jornalismo da Globo se dedica a relatar os fatos e buscar a verdade e vai continuar a fazê-lo, mas não somente os fatos e as verdades que lhe sejam favoráveis."

"O jogo político mudou"

No "Jornal da Band", que dedicou cerca de 14 minutos ao assunto, o pronunciamento de Lula foi tratado como o anúncio de um novo tempo. "Hoje, o jogo político mudou no Brasil", disse o telejornal. Além do registro detalhado da fala do ex-presidente, o telejornal também fez uma repercussão junto à classe política.

No governista "RedeTV! News", o discurso de Lula mereceu o triplo do espaço dedicado pela Record. O assunto foi destacado na abertura do telejornal e em reportagem de mais de três minutos. A cobertura sublinhou que o ex-presidente reapareceu "em tom de campanha".

No "SBT Brasil", o pronunciamento de Lula foi resumido numa reportagem de quatro minutos. O mesmo tempo foi dado ao noticiário sobre Bolsonaro, que negou omissão do governo na pandemia e criticou o ex-presidente.