Luciana Bugni

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Opinião

Uma Ideia de Você, com Anne Hathaway: beijo quente e busca interior aos 40

Não faz muito sentido que mulheres de 40 anos, que claramente ainda são muito jovens, sintam tanta dificuldade de recomeçar a vida amorosa quando seus casamentos naufragam. Mas o sentimento é comum. Deve ser por isso que se ouvia gritinhos entusiasmados quando o filme "Uma Ideia de você", que estrou no Prime nessa quinta (2), foi exibido pela primeira vez ao público, em março, no SXSW, em Austin. O roteiro saiu do livro "Idea of You", escrito por Robinne Lee, um romance criado a partir de uma fic em que o cantor Harry Styles estaria se relacionando com uma mulher mais velha.

A empolgação de quem lotou o cinema da Congress Avenue era por Sòlene, personagem de Anne Hathaway, que tenta reconstruir a vida depois de um divórcio no qual o marido a troca por uma garota mais jovem. A rotina dela é a de qualquer mulher nessa fase da vida: equilibrar trabalho, saúde mental e os cuidados com a filha adolescente, enquanto sopra uma velinha com o número 40 em cima de um bolo — parece bobagem, mas é um baque, sim.

Ela dá conta de tudo até que bem, embora sempre envolta por certa melancolia, e resolve até fazer uma viagem daquelas para dentro de si, que envolve camping, livros e reflexão interior (sabe como é?). Nada como uma mulher divorciada descobrindo suas próprias virtudes.

A questão é que o destino nem sempre segue o roteiro que a gente achou que tinha escrito. O pai de sua filha desiste na última hora de levar a jovem e seus amigos ao Coachella, um festival de música famoso nos Estados Unidos. Sobra para Sòlene a função de mãe presente. Adeus, viagem de autoconhecimento; oi, multidão gritando em um megashow.

Lá, naqueles ventos que só ventam em comédias românticas, ela vai parar sem querer no trailer de um dos vocalistas de uma boy band — Hayes Campbell, vivido por Nicholas Galitzine. E ele, mesmo tendo quase metade de sua idade, se apaixona perdidamente por ela. Vai dizer que você, mulher de 40 que viu a vida ruir, não ficaria empolgada com a energia de um galã jovem em cima de você?

Os sentimentos de Sòlene são dúbios. Quando o moço bonito de boné se senta ao piano na sua casa e arrisca uns acordes antes de puxá-la pelo quadril, ela ainda usa um pouco a razão para dizer que é velha demais para ele. Mas não vê muito como repelir quando ele rebate "não é, não". Vai discutir com a geração Z?

É possível viver uma história de amor maluca com um astro mundial da música que é muito mais novo? Corações e peles afirmam que sim, os paparazzi tentam explicar que não é tão simples.

Entretanto, mais do que brincar de ser onipotente e atravessar a Europa em um jatinho nos braços de um bonitão, Sòlene quer mesmo é sentir o gosto de estar viva. Assim como tantas mulheres que foram tragadas pela maternidade e pelos casamentos nem sempre emocionantes, ela abre uma porta para sua eu do passado. A cada beijo quente, parece que se lembra de quem foi — e gosta disso. Pode-se até disfarçar, mas o elogio quase vulgar MILF (mãe com quem eu gostaria de transar, em inglês) empolga as quarentonas que queimam seus quadríceps no pilates em busca de um pouco do vigor de outrora em algum tônus muscular.

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Anne Hathaway foi às lagrimas com o feedback do público na première do filme — gritos, aplausos, uma histeria coletiva. "Não consigo falar", disse chorando. "Vocês não têm ideia do presente que foi essa reação de vocês. Por alguma razão, falamos sobre histórias de amadurecimento como algo que acontece no início da vida, mas sinto que continuo florescendo", continuou. Mulheres de meia-idade do mundo todo fazem coro.

Galitzine, que viveu o príncipe bonitão em "Vermelho, Branco e Sangue Azul", disse que a química com Anne foi instantaneamente espiritual. "Pensei que mesmo que não me aceitassem no filme, já teria valido a pena a experiência pelo que vivi ali no teste. Mas me ligaram no dia seguinte", ele contou. Basta um comecinho de pegação entre eles para que o público entenda o porquê. A conexão que ele garante que sentiu transborda nas telas.

E, claro, que mesmo que seja gostoso se atracar com um mocinho bonito num quarto de hotel e deixar a grande empresa de logística que é a vida das mães lá fora, as responsabilidades com filhos resgatam as mulheres maduras que suspiram. É isso aí mesmo: dá até para dar aquela arrepiada na espinha de vez em quando, mas a vida é real e de viés, pensam resignadas, antes de programarem o despertador para o dia seguinte e pensarem no que vão colocar na lancheira das crianças.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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