Luciana Bugni

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Opinião

Fabio Assunção: constrangimento após briga educa homens em desconstrução

"Se você é homem no século 21, ou está em crise, ou está errado." A frase é do jornalista e escritor Fred Di Giacomo. Faz sentido. Desconstruir o padrão do que foi por muitas décadas considerado "ser homem de verdade" dá trabalho. Entre algumas das características do que era ser macho, está resolver as coisas na porrada. É mais ou menos assim que terminou a noite de Fabio Assunção e seu amigo Daniel Alvim, num bar famoso de São Paulo, recentemente.

A discussão entremeada por palavrões culmina em tentativas de agressões físicas -- ambos são separados pelos presentes. Mas alguém ali filma a cena e perpetua o constrangimento. E eles dão a volta por cima, mais calmos, e conversam. Depois decidem gravar um vídeo juntos explicando o ocorrido.

Aqui cabe um parênteses: o deleite de terceiros com cenas deprimentes é algo a ser pensado. Custo a crer que alguém acha uma boa ideia fazer um vídeo na intenção de conseguir dinheiro ou popularidade quando se depara com uma briga. Minha única reação costuma ser tentar acalmar os ânimos de ambas ou de uma das partes. Filmar a situação chega a ser pior que a briga em si. Fim do parênteses.

O vídeo gravado pelos dois amigos no dia seguinte é um pedido de desculpas à sociedade. Não é brigando que se resolve pendências. Mas mais que isso: é bacana ver o constrangimento dos dois homens maduros ao dizer o óbvio para a câmera. O que eles fizeram está errado. Eles sabem disso, conversaram, pediram perdão. E se desculparam.

É difícil quebrar padrões. Dois adultos criados nas leis do machismo, tendo o patriarcado ao seu lado no processo, podem deslizar para violência física, sim. A briga de duas mulheres não descamba para tapas e socos com tanta frequência. Que legal que, hoje em dia, homens sejam capazes de se olhar no olho, sentar um ao lado do outro e ter a coragem de confessar que erraram. É esse passinho para trás que faz toda a diferença na busca por uma sociedade melhor.

Eu digo que ainda falta muito, mas a gente não pode negar que está evoluindo um pouquinho. Que mais homens inspirem outros a desconstruir aquele padrão antigo que, aliás, é cafona demais.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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