Luciana Bugni

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Opinião

Internet questiona por que Courrege não é criticado: só amiga está errada?

O Carnaval brasileiro até pensou em parar para acompanhar a notícia da semana: os repórteres Carol Barcellos e Marcelo Courrege assumiram o namoro. A nuance que torna o fato corriqueiro em fofoca das boas é que Carol era amiga de Renata Heilborn, ex-mulher do moço. E todo mundo é ou foi repórter da Globo.

Renata fez um textão explicando como se sentia. Depois apagou. Carol se pronunciou apenas para dizer que a história não é bem como Renata: "Muitas mentiras". Ou seja: tudo o que falarmos é baseado na visão da Renata sobre o assunto.

Nos stories apagados, Renata disse que o casamento estava em crise havia um tempo e que ela mesma tinha pedido a separação um ano antes. Passado esse tempo, quando descobriu que o marido estava com outra, saiu de casa. Ele então se mudou para a casa de Carol. E foi em cima dela que a internet caiu em cima, alimentando a boa e velha rivalidade feminina. Mas, peraí: e o marido?

Não dá para dizer "dessa água não beberei" para nada nessa vida. Porém, quando a gente olha para o marido das amigas, nem cogita engatar um romance com ele (se você cogita, acho um ótimo momento para descogitar). É meio sem fundamento perder uma amizade por conta de relações. Os homens americanos têm um ditado bem machista que ilustra a máxima de não ficar com mulher de amigo — o famigerado "bros before hos" que, em tradução livre, quer dizer "irmãos antes das prostitutas". Ou seja, garantem não chegar perto de mulher de amigo e ainda dão uma xingadinha nelas. Na nossa sociedade, mulher está sempre errada, até quando está quieta.

Uma música de Seu Jorge ilustra o inverso da situação. "Ela é amiga da minha mulher, mas vive dando em cima de mim. Ainda por cima é uma tremenda gata, pra piorar a minha situação. Se fosse mulher feia tava tudo certo, mulher bonita mexe com meu coração", diz a letra. O pobre do homem está lá quieto e vem a amiga dar em cima dele. E ela ainda leva uma criticada por ser bonita e isso colocar o coração para jogo. Como é fácil culpar o sexo feminino!

Na situação de Courrege e Renata, a internet também se voltou contra Carol. Foi inclusive buscar prints dos comentários elogiosos que ela fazia nas fotos do casal há dez anos, quando foi madrinha de casamento de ambos. Até que alguém se ligou: por que todo mundo está criticando só Carol e não ele?

Eu vou além: por que alguém tem que ser criticado?

A dor de Renata é legítima: ela não parece estar sofrendo com o divórcio em si, mas com a ruptura com uma amiga que ela classifica como confidente. É uma perda e tanto mesmo. O divórcio, pelo que ela relata, foi algo sedimentado por um período longo de crise. Até que ele se apaixonou por outra mulher e saiu finalmente de casa. Mas precisava ser por uma amiga?

O fracasso de uma relação é difícil de computar porque a gente faz muitas projeções do "para sempre" e nem chega a acreditar que é possível ser feliz justamente desistindo daquele plano antigo de felicidade. Quando vem uma traição como essa —perder o amor e a amiga com quem você falaria disso ao mesmo tempo—, tudo fica ainda mais triste. É só o distanciamento que nos faz olhar a coisa de outro jeito.

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Talvez Marcelo tenha conversado com Carol sobre a crise no trabalho. É comum desabafar com colegas do sexo oposto. Mais comum ainda procurar aqueles que conheçam a pessoa de quem queremos falar. Daí a virar o jogo e se apaixonar basta um golpe do acaso.

Dia desses, uma amiga disse que não estava querendo se apaixonar durante o Carnaval de jeito nenhum. Foi lá o acaso e tcharan: se apaixonou na sexta anterior à folia. Está todo mundo sujeito. Dá para recuar, pensar na amiga e fugir da atração pelo cara? Claro que dá. Mas parece que Carol não conseguiu. Acontece.

Ela não precisa ser massacrada por isso. Nem Marcelo. O respeito pela situação seria entender a dor de Renata —que, pela maneira como escreve, parece estar cicatrizada. Histórias acabam e começam. Olhar o fim como a oportunidade de reescrever o destino sempre parece mais inteligente. Antes que isso seja possível, só o silêncio e o tempo agem. Até que um dia, quem sabe, as amigas possam conversar e quem sabe até perdoar. Parece utópico, mas quando a gente se liberta da posse que sente em relação ao outro e dá o espaço dos meses para que as dores se dissipem, tudo é possível.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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