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Leonardo Rodrigues

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

'Clube da Esquina' é eleito o melhor disco brasileiro; você concorda?

Capa de "Clube da Esquina" - Reprodução
Capa de "Clube da Esquina"
Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

12/05/2022 14h02

Listas e jornalistas parecem ter sido feitos um para o outro na música, principalmente quando o sotaque em questão é inglês. Mas essa tradição de revista também sabe ser verde e amarela, e ela acaba de ser atualizada.

Um novo ranking com "os 500 maiores álbuns brasileiros de todos os tempos", cujo top 10 foi divulgado esta semana, elegeu o álbum "Clube da Esquina" (1972), de Milton Nascimento e Lô Borges, o suprassumo da discografia nacional

Quem assina o projeto é o jornalista Ricardo Alexandre, criador do ótimo podcast Discoteca Básica, que ouviu 162 especialistas —jornalistas, youtubers, podcasters, músicos, lojistas, produtores— de diferentes áreas em busca de um consenso. Cada um pinçou 50 álbuns.

O resultado completo dessa laboriosa tarefa, com textos e edição caprichada, ainda ganhará formato de livro, que está sendo financiado coletivamente com sucesso no site Catarse.

Mas vamos ao que interessa. Eis os "vencedores":

  1. "Clube da Esquina" (1972) - Milton Nascimento e Borges
  2. "Acabou Chorare" (1972) - Novos Baianos
  3. "Chega de Saudade" (1959) - João Gilberto
  4. "Secos & Molhados" (1973) - Secos & Molhados
  5. "Construção" (1971) - Chico Buarque
  6. "A Tábua de Esmeralda" (1974) - Jorge Ben Jor
  7. "Tropicália ou Panis et Circencis" (1968) - Vários
  8. "Transa" (1972) - Caetano Veloso
  9. "Sobrevivendo no Inferno" (1997) - Racionais MC's
  10. "Elis & Tom" (1974) - Elis Regina e Tom Jobim

E, com a palavra, o criador

Esse é um projeto sobre discos canônicos, de grande impacto musical e cultural, inspirado em eleições internacionais. Mas falta cânone no Brasil. Por isso nos impusemos o dever de nos basear no consenso da crítica. A lista servirá ao podcast. E não faria sentido fazer a nossa própria lista para o próprio Discoteca Básica utilizar
explica à coluna Ricardo Alexandre

Alguns centavos sobre o assunto

Mais abrangente e completo que seus predecessores, o projeto perpetua o legado de três grandes listas do gênero publicadas no Brasil, cada uma com suas peculiaridades e recortes específicos.

1) A da revista ShowBizz de 1997, focada em discos de pop rock, que laureou "Cabeça Dinossauro" dos Titãs; 2) A da Revista MTV de 2003, que premiou "Tropicália: ou Panis et Circencis"; 3) E a da revista Rolling Stone de 2007, que elegeu "Acabou Chorare", dos Novos Baianos, o maior disco brasileiro de todos dos tempos, status do qual ainda goza e que parecia intocável.

A julgar pelos dez primeiros postos da nova lista, no entanto, pouca coisa mudou em relação ao ranking de 15 anos atrás. Ainda que o esforço tenha sido de estender a diversidade e o tamanho do júri, o maior do tipo já montado no Brasil, e a recomendação fosse evitar obviedades.

Contracapa e capa de "Clube da Esquina" (1972) - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Ou seja, tudo indica que existe, sim, um cânone no país

Do top 10 de 2007 —vários jurados de agora votaram na época—, oito títulos reaparecem. Saem da cabeceira "Cartola" (1976) e "Os Mutantes" (1968). Entram "Sobrevivendo no Inferno" (1997), dos Racionais MC's —impossível minimizar a força do rap à luz de 2022— e "Elis & Tom" (1974).

Segundo Ricardo Alexandre, nem tudo é tão óbvio. Surpresas deliciosas e "emocionantes", que expressam grandeza da produção musical brasileira, aparecerão em posições intermediárias e inferiores, incluindo artistas do ano 2000 em diante.

Mas qual seria a função de uma lista dessas em 2022, tempo em que o consumo de música se tornou mais acessível e fragmentado, com o fim das revistas e o jornalismo especializado reduzido a pó de terabyte?

A ideia é servir de guia de álbuns. De certa forma, esse é um movimento contracultural em um momento em que as pessoas ouvem músicas de forma rasa, porque não têm paciência. O Discoteca Básica traz a ideia de que é preciso parar, se concentrar, romper o ciclo de afobação e desespero que se instaurou na cultura pop vigente
Ricardo Alexandre

E o conteúdo da lista? O colunista não vai comentar?

Eu poderia classificar a medalha de ouro de "Clube da Esquina" como merecida. Poderia escrever que é o reconhecimento de uma obra que galgou posições e que constantemente vem sendo revisitada. Que agora abalroa certa birra que ainda nutria em parte da crítica.

Mas listas são listas. São parciais. Incompletas. Expressam a visão de um grupo pré-estabelecido de pessoas, com seus critérios e subjetividades, e por isso não é ciência exata. Não existe "melhor disco".

Mas isso não significa que eu odeie listas. Pelo contrário. Guias como o de Ricardo Alexandre são despertadores de fagulhas. Sem mencionar que informação bem pautada, apurada, escrita e editada hoje é artigo em extinção e vale ouro, tal qual o conteúdo dos discos.

Portanto, antes de encomendar minha edição do livro, prefiro deixar links para você também adquirir os álbuns do top 10 e ouvi-los na melhor forma possível, a "deep listening": em vinil. Afinal, esta é uma coluna sobre mídia física.

1. Clube da Esquina (1972) - Milton Nascimento e Lô Borges*

Comprar

*é a prensagem de 2017 da Polysom, que segundo relatos de compradores podem apresentar ruídos de superfície em toca-discos de boa qualidade. Outras edições disponíveis aqui.

2. Acabou Chorare (1972) - Novos Baianos

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3. Chega de Saudade (1959) - João Gilberto

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4. Secos & Molhados (1973) - Secos & Molhados

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5. Construção (1971) - Chico Buarque

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6. A Tábua de Esmeralda (1974) - Jorge Ben Jor

Comprar

7. Tropicália ou Panis et Circencis (1968) - Vários artistas

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8. Transa (1972) - Caetano Veloso

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9. Sobrevivendo no Inferno (1997) - Racionais MC's

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10. Elis & Tom (1974) - Elis Regina e Tom Jobim

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E até a próxima datilografada!

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