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Não, Guilherme de Pádua não precisa de espaço para falar de Daniella Perez

Colunista do UOL

25/07/2022 17h17

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A estreia de "Pacto Brutal", série sobre o assassinato de Daniella Perez (1970-1992) fez com que muita gente descobrisse como o crime mobilizou o país inteiro e ofuscou a renúncia de um presidente, mas também teve outro efeito: colocou holofote nos condenados pela Justiça, despertando a curiosidade acerca de suas vidas.

A pretexto - mórbido, diga-se - de se pesquisar mais sobre o caso, muita gente passou a seguir Guilherme de Pádua, hoje com mais de 42 mil seguidores - ele ganhou 10 mil em cinco dias. Pior: há quem questione o documentário da HBO Max por não ouvi-lo. Não faltaram oportunidades para que o ex-ator se manifestasse. Ele chegou a ir ao "Programa do Ratinho", do SBT, em 2010, e, temendo ser processado, não deu "a sua versão".

Num caso de extrema repercussão, esquadrinhado por todos, só haveria duas perguntas possíveis de ser respondidas por Guilherme de Pádua e sua esposa na época, Paula Thomaz: o que aconteceu com a arma do crime e onde foi parar a bolsa que Daniella usava? Nenhuma foi esclarecida até hoje. Fora disso, está tudo detalhado no processo. Exatamente por essa razão, não se justifica o argumento de que "apenas um lado" foi ouvido pela equipe do documentário.

"Pacto Brutal" está baseado nos autos, não é, portanto, versão de defesa ou acusação. É a versão final emitida pela Justiça, que buscou a maior proximidade possível dos fatos como eles se deram, ainda que a polícia tenha tentado atrapalhar as investigações. Paula e Guilherme foram condenados. Não faltaram provas, testemunhas ou evidências. Nesse sentido, não há nada que ambos pudessem acrescentar à série, exceto satisfazer a sanha masoquista de espectadores que flertam com o mórbido.

Ainda que ambos tenham suas "versões", nenhuma delas altera o desfecho dessa história, que não pode ser contada pela própria Daniella Perez, ela, sim, a verdadeira vítima, covardemente atacada com 18 punhaladas. Não, não precisamos ouvir o que Guilherme ou Paula têm a dizer - e muito menos dar ouvido a teorias da conspiração que tentam assassinar a atriz uma segunda vez.

Precisamos celebrar o legado de Daniella, que viu até mesmo a lei ser mudada a partir de sua tragédia, com homicídio qualificado sendo transformado em crime hediondo. Aos condenados, resta a eterna vergonha e não os holofotes, algo que parece, no fim das contas, ser o objetivo, já que Guilherme anda até mesmo fazendo avaliação do documentário em suas redes.