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'Veneno' trata de transexualidade sem eufemismos e se torna um marco LGBT

Jedet, Daniela Santiago e Isabel Torres, as protagonistas de "Veneno" - Divulgação
Jedet, Daniela Santiago e Isabel Torres, as protagonistas de "Veneno" Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

10/01/2021 14h29

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Resumo da notícia

  • Minissérie virou febre nas redes sociais e trata da história de transexual que virou estrela de TV na Espanha
  • Com alta voltagem sexual e sem floreios, produção fala sobre prostituição de maneira humana e sem censura
  • "Veneno" serve ainda como baliza para provar que atores transgêneros podem interpretar a figuras de sua comunidade, sem "trans fake"

Ainda inédita do Brasil, "Veneno", minissérie em oito episódios, ganhou as redes sociais. Não poucos os - merecidos - elogios à produção, que conta a história de Cristina Ortiz (1964-2016), travesti que ficou nacionalmente conhecida como "La Veneno" em toda a Espanha após participar de programas de TV. Originalmente desenvolvida pelo canal Atresplayer Premium e disponibilizada pela HBO MAX, streaming ainda não lançado no país, a história tem se espalhado feito rastilho de pólvora. E não é por acaso. Mais do que pintar a transexualidade de maneira excessivamente didática - e por vezes, ofensiva - como nas novelas da Globo, aqui o assunto surge sem eufemismos, numa biografia sem retoques.

A vida de Cristina não foi fácil. Quando ainda se chamava Joselito, teve de deixar sua cidade natal aos 13 anos depois de tanto apanhar da mãe e ter a vida ameaçada na rua. Aos poucos, sua jornada de autodescoberta mostra que seu destino era brilhar onde quer que fosse. Após se afirmar no mundo como Cristina, tenta a carreira nos palcos e acaba na rua, se prostituindo, em uma época em que transgêneros ainda tinham poucas oportunidades de trabalho. Tudo muda quando ela dá entrevista para um programa noturno de TV e vira um estouro de audiência. A partir daí, ninguém segura "La Veneno".

Pioneira, Cristina acabou contratada pela televisão. Teve de discutir a relação com os pais em frente às câmeras, explorou as ruas de Madri, participou de debates, virou cantora, ganhou muito dinheiro. Ao mesmo tempo, acabou explorada por um namorado abusivo e chegou a parar atrás das grades. Ainda assim, sempre foi tratada como lenda, como alguém que rompeu barreiras. A minissérie mostra exatamente isso por meio dos olhos de uma jovem transexual, Valeria, que tenta escrever um livro sobre Veneno.

Interpretada em três fases diferentes pelas excelentes Jedet, Daniela Santiago e Isabel Torres, a protagonista serve também como baliza para produções sobre transexualidade. O único momento em que personagens trans são interpretados por pessoas cisgêneras ocorre na infância. Depois, a atração espanhola mostra que há, sim, muito talento a ser descoberto e explorado. Alguns deles, inclusive, existiram de fato na história real. Paca La Piraña, melhor amiga de Veneno, por exemplo, interpreta a si mesma e agora virou estrela na Espanha. Terá até mesmo um programa próprio na TV.

"Veneno" é uma história intensa, de alta voltagem sexual e sem censura. Trata sem floreios de um mundo marginalizado e alvo de extremo preconceito por parte da sociedade. Ao mesmo tempo, traz narrativas tão genuínas que tornam impossível não se relacionar com elas. É necessário entender a importância dessa série. "Veneno" é, desde já, um marco na dramaturgia e, mais que isso, um marco na cultura LGBTQIA+.