Chico Barney

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Opinião

Nocaute de Popó em Bambam é mais um golpe do capitalismo tardio

Foram apenas 36 segundos, mas a marretada de Acelino Popó de Freitas que quase tirou a consciência de Kléber Bambam ecoará para sempre no showbiz nacional. É mais um pedágio na longa estrada da normalização do absurdo.

A luta de boxe entre atletas e subcelebridades é outro estágio do capitalismo tardio e mostra que absolutamente ninguém está a salvo da precarização das condições de trabalho.

Décadas atrás, excelsas figuras como os supracitados cidadãos estariam experimentando algum reconhecimento em modelos menos perigosos de entretenimento televisivo, como a Banheira do Gugu ou no Qual é a Música?, de Silvio Santos.

Mas o tempo passou e a mera disputa amistosa já não é mais possível. Assim como os discursos políticos e o marketing, tudo se tornou mais agressivo. Na disputa pela atenção do público consumidor, o único caminho parece ser a radicalização.

É por isso que os reality shows se tornaram um gênero tão difundido na TV mundial. É uma evolução extrema dos antigos programas de auditório. Em vez de responder um quiz, aproveitar o catering do camarim e ir embora, os artistas precisam se humilhar em desafios grotescos para conquistar a proteína do dia e conspirar contra colegas para eliminá-los em votação popular.

E esses desafios que envolvem ex-atletas em atividade com ex-famosos em constante negação tem tudo para se tornar outra plataforma importante do entretenimento na sala de espera do fim do mundo. Os nomes envolvidos causam um natural interesse a audiência, além do fator pitoresco do próprio conceito em si.

Sem os direitos do UFC, a Globo ainda deu um empurrãozinho a mais para manter rodando as engrenagens do seu pay-per-view de artes marciais mistas. Quando poderíamos imaginar que Bambam e Popó trocando sopapos durante meio minuto após meses de provocações se tornaria notícia no Fantástico?

De um lado, profissionais ligados ao mundo dos espetáculos cada vez mais dispostos a ousadias no intuito de garantir algum holofote. Do outro, as exibidoras também em busca de histórias fáceis e, ao mesmo tempo, suficientemente escalafobéticas que sejam capazes de atrair um grande engajamento.

E nós aqui, no nosso velho e querido banco, repetindo em voz baixa: normal, tudo absolutamente normal? Apenas mais um sábado em nossas vidas?

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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