Viagem de motor-home é ideal para os turistas que não gostam de rotina
Corria o ano de 1985 quando os professores Graça Soares, de 59 anos, e Renato Wenzel, de 67 anos, de Santa Catarina, se aventuraram pela primeira vez numa viagem de motor-home. O destino era Porto Alegre. Ela, que nunca gostou de fazer e desfazer malas, muito menos de hospedar-se em hotéis, viu no veículo uma maneira de viajar sem sair de casa. Desde então, eles nunca mais pararam. Atualmente, o casal, já aposentado, está na estrada com a expedição que batizaram de “Projeto Brasil”. Eles pretendem rodar todo o todo território nacional. “Desde que compramos um motor-home vamos a todos os lugares com ele: encontros de família, aniversários e casamentos. Nos últimos anos, passamos mais tempo nele do que em casa”, diz Renato Wenzel.
Apesar de existirem inúmeras experiências como a desse casal no Brasil, há décadas, foi só recentemente, com a realização da Copa do Mundo no Brasil, que o motor-home ganhou evidência por aqui. Durante os jogos, torcedores de diferentes nacionalidades utilizaram o veículo para seguir seus times nas cidades-sede.
O motor-home é uma casa sobreposta a um chassi motorizado. O chassi é a estrutura de aço sobre a qual convencionalmente se monta a carroçaria do veículo e pode ser de perua, furgão, micro-ônibus, ônibus ou caminhão. Nesse tipo de veículo, cabine e casa se unem, diferente do que acontece com os trailers, bastante populares nos Estados Unidos. “Os trailers necessitam ser rebocados por um automóvel. Quem está na cabine não tem acesso direto à casa”, explica Victor Rodolfo da Rosa, gerente comercial da Santo Inácio Motorhomes.
Sobre um chassi, pode-se adaptar uma casa bastante confortável e até personalizada. Geralmente há espaço para quarto com cama de casal, sala, mesa para refeições, cozinha e banheiro. A mobília utilizada pode incluir fogão, geladeira, micro-ondas, forno elétrico, TV, antena para TV a cabo, ar-condicionado e até máquina de lavar roupas. Muitos ainda são equipados com gerador ou placas de energia solar, bastante úteis quando não há um ponto de energia próximo para ativar os eletrodomésticos.
Alguns motor-homes contam com um painel de controle dos reservatórios de água e energia. Assim, é possível saber quando está no fim a água destinada a abastecer pia, chuveiro, vaso sanitário e também controlar a carga das baterias que permitem que os eletrodomésticos funcionem. Esses reservatórios podem ser recarregados em campings ou em postos de gasolina. Já os dejetos do banheiro, que ficam num compartimento específico, precisam ser despejados em locais apropriados.
A faixa de preço de um motor-home é bastante variável, afinal, quando se trata de construir uma casa sobre rodas, o céu é o limite. “Pense num valor de um carro popular fabricado no Brasil e de um carro de luxo europeu. É mais ou menos essa margem que podemos aplicar ao valor de um motor-home. Mas posso dizer que com uma verba a partir de R$ 70 mil é possível adquirir um, para se divertir nos fins de semana”, diz Plínio Cesar Pasa, diretor da Victória Motor Homes.
Menos hotel, mais combustível
Um dos benefícios do deslocamento com motor-home é a isenção de gastos com hospedagem, que sempre pesa no orçamento de uma viagem. A bordo do veículo, basta estacionar em um lugar seguro para pernoitar. “Costumamos dormir em postos de serviços ou estacionamentos. Vamos para campings só quando a ideia é ficar mais tempo num só lugar ou quando precisamos abrir o toldo do motor-home, faxinar ou lavar roupas”, diz Renato Wenzel.
Os campings pelo Brasil cobram uma taxa diária que leva em consideração o tamanho do motor-home e a quantidade de pessoas hospedadas. “Para atender a motorhomes ou trailers, o local precisa ter pelo menos pontos de luz e de água potável. A área de estacionamento também deve ser o mais plana possível para o nivelamento do veículo”, diz Luiz Edgar Tostes, diretor da Abracamping (Associação Brasileira de Campismo).
Há, também, a possibilidade de estacionar diante de paisagens paradisíacas, em frente a praias ou montanhas em que haja uma superfície plana e segura. Em cidades menores e tranquilas, basta uma praça para puxar o freio de mão do veículo. Essa é uma das vantagens de pilotar a própria casa, de acordo com a diretora de arte Patricia Papp, de 37 anos, que em 2013 viajou com mais sete pessoas pela costa oeste do Canadá, a bordo de dois motor-home alugados. “A paisagem era belíssima. Acredito que as viagens de motor-home são mais aconselháveis quando um dos principais objetivos é apreciar o visual do lugar”, diz.
No exterior, um veículo que acomoda até sete pessoas pode ser alugado por cerca de US$ 150 a diária. Já no Brasil, o preço inicial de um motor-home com a mesma capacidade parte de R$ 800 por dia de locação. Também pode ser cobrado um valor por quilometragem rodada, além do seguro do veículo. O maior gasto nesse tipo de passeio é com combustível. No geral, os motor-home rodam com diesel cerca de três a sete quilômetros por litro, dependendo do tamanho do veículo. O valor pode ser abatido da economia com acomodação e alimentação, já que pode-se preparar todas as refeições na motocasa. “A viagem acaba ficando um pouco mais barata, mas não recomendo que ela seja feita com o propósito de economizar. Quem opta por esse tipo de turismo tem que gostar, assim como quem viaja de moto”, declara Patricia.
A manutenção do veículo equivale a de um carro de passeio. Em caso de problemas na parte motorizada, qualquer oficina mecânica de automóveis pode executar o conserto. Ao adquirir um motor-home, é preciso considerar também a mensalidade de uma garagem para os momentos fora da estrada, já quem nem todas as casas comportam o veículo. O Código de Trânsito Brasileiro permite que motoristas com carteira nacional de habilitação na categoria B dirijam um motor-home de até seis mil quilos. Acima desse peso, já é preciso ser habilitado na categoria C.
Vantagens e desvantagens
O grande diferencial desse estilo de passeio é, sem dúvida alguma, a liberdade. “Imagina ser dono do seu tempo, parar quando e onde quiser, sem se preocupar com horário de entrada ou saída do hotel?“, diz Renato Wenzel. “É também uma viagem muito confortável para quem não dirige, porque os passageiros ficam sentados como se estivessem na sala de casa - com espaço para as pernas - conversando, vendo filme ou jogando cartas”, afirma Patricia, que viajou de motor-home com duas crianças.
Uma desvantagem é o risco que se corre nas estradas, já que se trata de um veículo que exige muita atenção na direção, por conta de seu tamanho e peso. Para Renato Wenzel, outro desafio é encontrar, no Brasil, locais bem preparados para receber os adeptos desse estilo de viagem. “Nos últimos anos, muitos campings têm fechado e, entre os que existem, poucos são de qualidade. É lamentável, pois perdemos muitos turistas de outros países por conta da infraestrutura precária”, diz. “Em outros países, como no Canadá, existem áreas de estacionamento para motor-home nos arredores das cidades turísticas e próximo aos principais atrativos. Em grandes redes de supermercados também é permitido estacionar”, diz Patricia Papp.
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