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"Salvem os padeiros!": pão vira símbolo da luta contra a inflação e a crise energética na França

O padeiro parisiense Ridha Khadher, vencedor do prêmio de Melhor Baguete de Paris 2013 - REUTERS/Charles Platiau
O padeiro parisiense Ridha Khadher, vencedor do prêmio de Melhor Baguete de Paris 2013 Imagem: REUTERS/Charles Platiau

04/01/2023 14h07

Em um contexto de crise energética e inflação na Europa, um produto recebe especial atenção: o pão. O processo de fabricação da baguete, que exige muita energia, é tratado em reportagens nos principais jornais franceses nesta quarta-feira (4). Este alimento básico estampa a capa do Le Parisien, que afirma: "É preciso salvar os padeiros".

A reportagem se refere aos esforços anunciados pelo governo francês, na terça-feira (3), a fim de apoiar cerca de 33 mil padarias que se preocupam com a explosão dos preços de suas contas de luz. A oposição, sublinha o diário da capital francesa, não perderá a oportunidade de tirar proveito dessa insatisfação do setor.

Uma fornada de pães também ilustra a primeira página do jornal Les Echos, que enumera alguns dos principais desafios em 2023 para pequenos e médios empresários, como o grande aumento dos custos de produção, a escassez de mão de obra e as reivindicações salariais, que já se traduzem em uma substancial queda da atividade econômica nas últimas semanas.

Nesse cenário, a inquietude dos padeiros, fortemente apoiada pela mídia, já rendeu um adiamento no prazo de pagamento dos impostos e uma política de parcelamento de tributos neste segmento.

Para a confederação empresarial nacional que representa os interesses do setor de produção de pães e doces, não faltam argumentos para que o governo se mobilize a seu favor: o segmento serve 12 milhões de clientes por dia e faz parte da vida dos franceses. Além disso, é um paradoxo que tantos padeiros estejam fechando suas portas no momento em que a baguete francesa acaba de se tornar um patrimônio imaterial da Unesco.

De portas fechadas

O jornal Le Figaro explica que, depois que a primeira-ministra francesa, Élisabeth Borne, anunciou medidas para o setor sobre o pagamento de contribuições sociais e fiscais, foi a vez do ministro da Economia, Bruno Le Maire, receber os padeiros para uma conversa.

Mas foi o diálogo do ministro com distribuidores de gás e eletricidade, destaca o Libération, que garantiu a revisão dos contratos, evitando que um grande número de padarias e outros pequenos produtores fechem suas portas. Le Maire, destaca o diário francês, teria "elevado o tom" da conversa com o setor de energia.

Entre julho e setembro de 2022, o custo da eletricidade passou de 500 euros para 700 euros o MWh, contra menos de 100 euros um ano antes, enquanto em 2020 o preço não chegava nem a 30 euros o MWh.

O ministro indicou que os padeiros terão um local para obter informações em cada subprefeitura de Paris e de outras regiões da França, caso tenham dúvidas sobre as medidas que o governo colocou em vigor, o que permitirá auxílios específicos a cada caso. Os guichês de ajuda para o pagamento de contas de luz, por exemplo, que deveriam ter sido fechados no último dia 31, agora continuarão operantes.

Galete dos reis

Se o custo da energia exceder 3% do faturamento de 2021, o comerciante será subsidiado, ou se o preço da energia ultrapassar 50% da média de valores pagos também em 2021. As medidas custarão 12 bilhões de euros aos cofres públicos franceses. Mas, apesar desses esforços, uma manifestação do setor está prevista para 23 de janeiro.

Na tendência desse clima de conciliação, o presidente Emmanuel Macron deve receber, nesta quinta-feira, um grupo de padeiros no Palácio do Eliseu. Mas, desta vez, o tradicional pãozinho, dará lugar à galette des rois, a galete dos reis, outra tradição francesa que marca o início do ano no país.