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França tenta salvar indústria do champanhe em meio à pandemia de Covid-19

Queda nas vendas prejudica produção da bebida na França  - Getty Images/iStockphoto
Queda nas vendas prejudica produção da bebida na França Imagem: Getty Images/iStockphoto

Vicenta Linares

Da RFI

31/07/2020 15h07

Devido à crise do coronavírus na França, uma batalha feroz está sendo travada em sua "sacrossanta" indústria do champanhe, uma verdadeira instituição nacional. Produtores e grandes marcas se debatem nas vésperas da grande colheita de sua safra atual.

Na França, a pandemia de Covid-19 também afeta seu vinho mais precioso: o champanhe.

As principais lojas estão exigindo uma redução acentuada sobre o lucro das colheitas devido à queda nas vendas, mas os produtores dizem que isso dizimará sua renda.

Comerciantes x Produtores

Tradicionalmente, os dois lados negociam quantas uvas são colhidas por centenas de produtores de champanhe a cada ano, muitos dos quais vendem para comerciantes, incluindo grandes marcas como Veuve Clicquot ou Pommery. O objetivo é limitar os riscos de más colheitas e oscilações drásticas de preços que poderiam deixar muitos deles fora do mercado.

Mas os comerciantes dizem que seus estoques já estão cheios e, com sua renda afetada pela crise, não podem produzir mais garrafas de champanhe do que vendem. Com um preço por quilo que deve permanecer relativamente alto este ano - em torno de 6,50 euros (R$ 39,83), as apostas são altas.

"Os produtores querem vender 8.500 quilos por hectare e os compradores querem adquirir entre 6.000 e 7.000 quilos", explica Bernard Beaulieu, produtor de Mutigny, uma cidade vinícola ao sul de Reims, capital da região francesa de Champagne, que dá nome à apelação. "Não ter chegado a um acordo com os produtores a um mês das colheitas é algo inédito, que não se vê desde a Segunda Guerra Mundial", acrescentou.

O principal sindicato dos produtores, a Union des Maisons de Champagne (UMC), prevê que venderá 100 milhões a menos de garrafas este ano e diz que mais de um bilhão de garrafas ainda estão atualmente guardadas nas adegas, representando vários anos de vendas em potencial.

O diretor-geral da UMC, David Chatillon, disse que não comentará a disputa antes da reunião de 18 de agosto do Comitê de Champagne, que reúne produtores e comerciantes.

Colheita "excepcionalmente boa"

Os produtores estão especialmente furiosos porque a colheita deste ano, que começará em 20 de agosto, será "excepcionalmente boa, com videiras capazes de produzir até 16.000 quilos por hectare", disse Bernard Beaulieu.

Maxime Toubart, líder da associação de produtores SGV, acusou os comerciantes de prejudicar seus meios de subsistência tentando explorar uma crise para reduzir os custos de armazenamento: "Os produtores estão exigindo um nível de desempenho que cubra o investimento de 2020 e, ao mesmo tempo, garanta a sobrevivência dos vinhedos", afirmou.

Para Yves Couvreur, da federação de produtores independentes FRVIC, que reúne cerca de 400 vinhedos e que também produzem seu próprio champanhe, "9.000 quilos por hectare é o limite, não podemos ir além". Entre outras demandas, Couvreur quer ter mais poder de influência sobre os comerciantes, permitindo que os produtores deixem seus vinhos amadurecerem nas adegas por mais tempo, até 18 ou até 24 meses, em vez dos 15 atuais.

Por enquanto, se não for alcançado um acordo, a decisão sobre o que fazer com a colheita desse ano (e as futuras colheitas) ficará a cargo do Instituto Nacional de Origem e Qualidade da França (INAO), que rege as denominações de origem dos vinhos do país.

(Com AFP)