Iguaria: por que França vive pressão para proibir o consumo de pernas de rã

Um grupo de mais de 500 cientistas, veterinários e ativistas enviaram uma carta ao presidente da França, Emmanuel Macron, pedindo para intervir no consumo de pernas de rãs no país. Segundo eles, o consumo desenfreado dos franceses estaria levando algumas espécies à extinção em países da Ásia.

Pernas de rãs são iguarias na França. Apesar de ser consumida em outros países, esse tipo de carne é considerado parte da culinária nacional francesa. Estima-se que 3 mil toneladas de pernas de rãs são consumidas no país, segundo a carta.

O consumo tem chamado atenção para a extinção de espécies. O grupo afirma que estudos indicam um declínio significativo de algumas rãs, devido ao comércio e exportação. Os ativistas dizem que espécies abundantes, como a rã-caranguejeira (Fejervarya cancrívora) e a rã-do-arrozal (Fejervarya limnocharis), estariam diminuindo devido às colheitas comerciais. Além disso, a carta diz que as rãs "desempenham um papel crucial no funcionamento do ecossistema e as capturas contínuas delas perturbam as suas funções no ambiente."

Os veterinários aderiram em grande número a esta iniciativa porque são sensíveis à crueldade que prevalece neste mercado e preocupados com os desequilíbrios ecológicos causados pelo colapso das populações de anfíbios -- e consequentemente pelos riscos para a saúde humana associados ao aumento das populações de mosquitos.
Alain Moussu, presidente dos Vétérinaires pour la Biodiversité

O que diz a carta

O grupo apela ao principal consumidor de pernas de rãs, a França, a tomar medidas para controlar a comercialização da carne e "prevenir sua utilização insustentável".

Eles pedem que o comércio fique sob controle internacional do CITIES (Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies Silvestres Ameaçadas de Extinção, em tradução livre), como uma forma de preservar os animais.

Eles ainda dizem que só na União Europeia mais de 4 mil toneladas de pernas de rãs são importadas por ano.

As importações anuais são de 80 a 200 milhões de rãs, sendo que a maioria é proveniente de populações selvagens. A carta cita países exportadores como Indonésia, Turquia e Albânia.

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Cientistas afirmam que existe um alerta há pelo menos 15 anos para um efeito dominó na extinção de rãs que começou nas décadas de 1970 a 1980 em Bangladesh e na Índia, na época os principais fornecedores do mercado europeu.

A extinção de rãs, segundo o grupo, estaria promovendo o aumento de pragas de insetos, incluindo os que transmitem doenças aos humanos, como a malária.

Assim, a carta cita preocupação com as espécies de rãs nativas de outros países. "Um estudo recente alertou que as populações de rãs colhidas na Turquia para comércio serão provavelmente extintas até 2032 se os atuais níveis de exportação forem mantidos. Portanto, são urgentemente necessárias restrições mais rigorosas à captura e ao comércio", diz trecho.

O grupo também acredita que a França é o país que tem uma maior responsabilidade para tomar uma ação sobre a questão pelo alto consumo do tipo de carne.

As populações de rãs nativas de França e da União Europeia estão protegidas contra a exploração comercial. A União Europeia não deveria mais permitir a exploração excessiva de espécies e populações de rãs nos principais países fornecedores, não só por ameaçarem as espécies, como também os seus respectivos ecossistemas e suas funções para os seres humanos.
Trecho da carta

Protesto antecedeu carta

Ativistas da PETA Ásia protestaram na Indonésia em dezembro do ano passado. A ONG de defesa dos direitos dos animais classificou a situação de exportação das rãs para a União Europeia como uma "realidade perturbadora". "Quase 322 toneladas de pernas de rã foram enviadas da Indonésia para a UE entre março e maio de 2023 e vendidas em lojas", diz ONG.

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Organização classificou colheita de rãs como cruel. Os anfíbios são retirados da natureza e colocado em sacos lotados, além de passarem por mutilações ainda vivas.

Se esta tendência continuar, inevitavelmente surgirão problemas decorrentes do desequilíbrio ecológico - como o uso de mais pesticidas pelos agricultores porque não existem predadores naturais de insetos.
Trecho de publicação da PETA

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