Quase mil anos: cervejaria mais antiga do mundo fica em lugar inusitado

Do alto da colina de Weihenstephan, na cidade de Freising, na Bavária, Alemanha, se ergue um mosteiro. A abadia, que leva o mesmo nome do monte, se distingue de outras ao redor do mundo por um detalhe importante: é lá que fica a cervejaria mais antiga do mundo ainda em funcionamento.

Quase mil anos de história (supostamente)

Até a década de 1950, a Bayerische Staatsbrauerei Weihenstephan (Cervejaria Estatal da Baviera Weihenstephan, em português) datava sua fundação em 1146. Nessa época, no entanto, ressurgiu um documento supostamente datado do ano de 1040. Nele, Otto 1º, bispo de Freising, concedia uma licença à abadia para a produção de cerveja.

As datas são controversas e há quem diga que o documento dos anos 1950 é uma falsificação do século 17. Isso não impede, no entanto, a cervejaria de se autoproclamar até hoje a mais antiga do mundo em atividade.

De acordo com o historiador Jörg Spengler, a primeira referência oficial à cervejaria é da segunda metade do século 17. "Não há evidências definitivas de uma cervejaria em Weihenstephan até a menção em um certificado de confirmação emitido pelo Kurfürst [título de nobreza] Ferdinand Maria, em 1675", escreveu para o anuário da Sociedade para a História da Cerveja.

A criação do mosteiro em si é ainda mais antiga (e mais bem documentada). O local começou como uma igreja instituída por São Corbiniano por volta de 720, em homenagem a Santo Estêvão. Segundo registros anteriores ao século 9, ao lado do edifício ficava um dormitório para monges.

A produção de lúpulo no mosteiro também data dessa época. O site do mosteiro afirma que "havia uma horta de lúpulo nas proximidades do mosteiro de Weihenstephan, cujo proprietário era obrigado a pagar um dízimo de 10 por cento". "É uma conclusão óbvia que este lúpulo era usado para fabricar cerveja no mosteiro", deduz o texto.

O mosteiro foi destruído algumas vezes durante sua história. Em 955, os húngaros invadiram a região, saqueando e demolindo a abadia. Além disso, entre 1085 e 1463, o mosteiro foi incendiado completamente quatro vezes, despovoado por conta de três pragas, várias épocas de escassez e fome, além de um grande terremoto.

Hoje, a cervejaria é uma iniciativa público-privada. Em 1803, como parte de uma onda maior de secularização alemã, a Abadia de Weihenstephan foi dissolvida. O local passou a ser propriedade do governo da Baviera, onde foi incorporado como Königlich Bayerische Staatsbrauerei Weihenstephan (Cervejaria Real da Baviera Weihenstephan).

Em 1921, a cervejaria adotou o nome atual. Hoje, embora seja propriedade integral do governo da Baviera, é gerida como uma empresa moderna, em conformidade com as práticas do setor privado.

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As cervejas

Weihenstephaner Hefe Weissbier, uma das cervejas da cervejaria alemã
Weihenstephaner Hefe Weissbier, uma das cervejas da cervejaria alemã Imagem: JIP/Wikimedia Commons

A Weihenstephan produz 14 tipos diferentes de cerveja. A maioria delas é feita à base de trigo, malte e lúpulo.

As cervejas foram premiadas na World Beer Cup de 2016 com a medalha de ouro. Recebeu na categoria South German-Style Hefeweizen e a medalha de prata na categoria German-Style Wheat Ale.

A fermentação das cervejas é feita em um processo básico e "inalterado". A cervejaria, no entanto, admite a utilização de tecnologias modernas na produção das bebidas.

Ao todo são quase 300 funcionários que trabalham na fabricação das bebidas, que envolve 6 etapas. "Fazer cerveja é a união do ofício e da arte", diz Tobias Zollo, mestre cervejeiro chefe e diretor técnico da cervejaria.

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A Weihenstephan diz usar ingredientes de qualidade, seguindo a lei de pureza de 1516. Esta é uma norma implementada na Bavária que prevê que os únicos ingredientes que podem ser utilizados na produção de cerveja são água, cevada e lúpulo.

Visitação

A cervejaria atrai muitos fãs da bebida, do mundo todo. Prova disso, é o destaque de pesquisas sobre "cervejaria mais antiga do mundo" no Google Trends.

É possível visitar a cervejaria, em um tour guiado. No passeio, o visitante passa pelo museu do mosteiro, acompanha o processo de produção das cervejas e aprende um pouco sobre a fermentação.

A visita termina com a degustação das cervejas. A prova também é acompanhada por um profissional e inclui todas as especialidades da casa.

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