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O pai lançou Gisele Bündchen, ele segue os passos na moda: 'Está no sangue'

Filho do fundador da Elite Model, Fernando Casablancas já conquistou grifes como Bottega Veneta e Balmain. Em entrevista para Nossa, modelo revela processos de autoaceitação e relação com a moda e família - Divulgação/WAY Model
Filho do fundador da Elite Model, Fernando Casablancas já conquistou grifes como Bottega Veneta e Balmain. Em entrevista para Nossa, modelo revela processos de autoaceitação e relação com a moda e família Imagem: Divulgação/WAY Model

De Nossa

05/09/2022 04h00

John Casablancas é um dos grandes nomes da moda internacional. O agente, que morreu há oito anos, foi o fundador da agência Elite Model: uma das mais reconhecidas no ramo e responsável por lançar os maiores nomes das passarelas, entre eles a brasileira Gisele Bündchen e a top Naomi Campbell. Seguindo seus passos, seu filho Fernando Casablancas desponta na WAY Model como um dos modelos mais promissores da atualidade.

"Estando no mundo da moda, como modelo, sendo filho dele, talvez tenha me ajudado a entender como funciona esse mercado no qual meu pai teve grande influência", diz o jovem, de 24 anos, em entrevista para Nossa. "Talvez por isso eu me sinta tão confortável no meio artístico, porque está no meu sangue".

O modelo conta que sua relação com a moda começou cedo, mesmo que ainda não diretamente: "Sempre teve esse sentimento familiar, porém distante. Ouvi histórias, vindas do meu pai ou da minha mãe, de suas experiências nesse meio desde que nasci".

Nascido no Rio de Janeiro, ele diz que as vestes da Cidade Maravilhosa, do seu ponto de vista, eram mais "sunga com chinelo do que alta-costura". O que fazia com que ele pudesse admirar esse mundo refinado mais de longe — a princípio.

Sua imersão nesse universo começou, de fato, quando se mudou para Nova York, nos Estados Unidos. "Comecei a aprender sobre o mercado da moda que conheço hoje, agora já no 'olho do furacão', mas não comecei como modelo".

Formou-se em em Teatro Experimental na NYU e, enquanto ainda era aluno, começou a ser chamado para fazer campanhas, como da Abercrombie & Fitch, pelo Instagram. Foi na rede social em que seus agentes o encontraram e começaram a apostar na carreira de Fernando.

"Fiquei muito feliz por ter conquistado a atenção da Elite, agência que meu pai criou anos atrás, por meus próprios méritos", destaca.

Foi aí que começou minha nova relação com a moda, agora de uma forma profissional, mas numa energia muito familiar à que eu sentia sentado no chão do escritório do meu pai em casa, quando eu era criança".

O modelo Fernando Casablancas é filho de John Casablancas, fundador da Elite Model, e irmão de Julian Casablancas, vocalista da banda The Strokes - Divulgação/WAY Model - Divulgação/WAY Model
O modelo Fernando Casablancas é filho de John Casablancas, fundador da Elite Model, e irmão de Julian Casablancas, vocalista da banda The Strokes
Imagem: Divulgação/WAY Model

Clichê, mas não descartável, a pergunta sobre a pressão em fazer parte dessa família não poderia faltar. Sobre isso, Fernando afirma sem hesitação: "Eu acho que, se existe pressão, ela não vem de mim".

O modelo menciona ser muito grato ao pai e a mãe por terem o ensinado a correr atrás dos próprios sonhos. Destaca ainda que, assim que chegou a Nova York, precisou traçar o seu próprio caminho.

"Minha mãe era professora de piano e tem um talento absurdo para pintar porcelana, meu irmão toca violão e desenha extremamente bem, meu outro irmão é cantor e compositor, minha irmã é designer de móveis...então estar no meio artístico para mim é bastante natural", diz ele, que por sinal, é irmão de Julian Casablancas, vocalista da banda de indie-rock The Strokes.

Fernando ainda brinca: "Seria muito mais surpreendedor pra minha mãe se eu tivesse escolhido uma carreira como medicina ou engenharia".

Autoaceitação

"Demorou muito tempo pra eu poder aceitar a minha identidade queer", diz Fernando - Divulgação/WAY Model - Divulgação/WAY Model
"Demorou muito tempo pra eu poder aceitar a minha identidade queer", diz Fernando
Imagem: Divulgação/WAY Model

"Durante muito tempo, não consegui ser eu mesmo, mas tive a oportunidade de me aceitar e explorar minha própria identidade". Essas são as palavras de Casablancas sobre o processo de auto descoberta e autoaceitação que diz ter vivido.

"Eu não tinha permissão para fazer balé quando era criança, então dancei sozinho no meu quarto. Comecei a aceitar minha estranheza, minha fluidez. Comecei a aceitar partes de mim que nunca pensei que aceitaria", completa.

Sobre esse processo, o modelo comenta que cresceu em uma família amorosa. No entanto, com ideias conservadoras.

"Demorou muito tempo pra eu poder aceitar a minha identidade queer", relembra. "Quando cheguei em Nova York, tive que confrontar questionamentos fortes em relação à minha identidade de gênero".

Nesse período, começou, à partir da moda, a experimentar representar o que sentia por dentro no seu lado de fora. "A moda se expressava na linguagem corporal, e passei a viver pelo que eu acreditava — e não pelo que tinha sido ensinado".

A dança também teve participação neste movimento: "Uma das maneiras em que mais me encontrei foi através dela. Foi com meus movimentos fluídos que eu pude conectar meu corpo com a minha alma. Quem eu sou hoje é graças a esses momentos de clareza que vieram dos momentos difíceis".

Ele relembra sua primeira reunião com a Elite Model. Na ocasião, foi questionado se queria modelar para a moda feminina ou masculina. "De cara, falei que para mim não existe uma separação, só a moda".

"Penso que para desafiar o mercado binário eu tenho que mostrar que eu posso ser mais do que uma imagem fixa, digerível. A beleza da identidade não-binária está em sua complexidade", complementa.

Identidade

Se identificando como não-binário, Casablancas relembra que demorou para entender a si mesmo. No entanto, não se limita a uma única "versão" de si mesmo - Reprodução/Instagram/@vilerx - Reprodução/Instagram/@vilerx
Fernando Casablancas
Imagem: Reprodução/Instagram/@vilerx

Sobre os principais questionamentos os quais Fernando "esbarrou" na carreira levantando bandeiras LGBTQIA+, o modelo afirma: "Demorou muito tempo pra eu poder entender o que é ser uma pessoa não-binaria, então eu só posso imaginar o quão complicado deve ser entender totalmente se você não vive na pele".

Para ele, significa "não estar preso a uma única 'versão' de quem é" — e poder, cada vez mais, negar expectativas e limitações.

"Não tenho muitos anos de carreira, mas acho que estou chegando finalmente a um ponto em que mais e mais pessoas estão entendendo que posso fazer uma campanha super masculina, como a da Balmain, ou a campanha da Charlotte Tilbury, de maquiagem, ou desfilando de vestido pro Ludovic de Saint Sernin".

Passado e futuro

Fernando irá participar de uma série em que trajetória da sua carreira será contada - Divulgação/WAY Model - Divulgação/WAY Model
Fernando irá participar de uma série em que trajetória da sua carreira será contada
Imagem: Divulgação/WAY Model

Prestes a estrear em um seriado de televisão chamado "The Come Up", com lançamento previsto para este mês de setembro e que mostrará um pouco da sua trajetória, Fernando diz que seu caminho pela moda é apenas um passo da sua jornada.

"Sempre fui apaixonado por televisão e é o meu maior prazer poder apresentar ao mundo um projeto que encapsula um momento tão importante na vida de seis ícones da cena jovem de Nova York", comenta.

Se pudesse deixar uma carta para si mesmo, há dez anos, suas palavras seriam: "Para o Fernando de 14 anos, que não se conhecia, eu diria que o mais importante é confiar em si mesmo. O poder de mudar a sua vida está somente em suas mãos".

Já para os dez anos que ainda estão por vir, ele está certo de que saberá o efeito e tomar conta do seu próprio destino.

"Se Deus quiser, vou seguir meus sonhos em todos os ramos da arte, seja atuando em filmes, apresentando programas de TV, tocando em boates pelo mundo todo como DJ, produzindo música... E isso é só o começo".