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Restaurante parisiense tem maioria do time de garçons e cozinha com Down

A equipe do Le Reflet - Reprodução/Instagram
A equipe do Le Reflet Imagem: Reprodução/Instagram

De Nossa

05/05/2022 16h39

O restaurante Le Reflet, no bairro nobre do Marais, em Paris, vem se destacando na imprensa internacional não só pelo salão moderno ou pelo sucesso de sua gastronomia baseada em ingredientes sustentáveis: a maior parte dos funcionários da casa tem síndrome de Down.

A estratégia de inclusão de profissionais foi inspirada pelo irmão da fundadora, Flore Lelièvre, que também é portador da síndrome. Ela abriu o primeiro Le Reflet há seis anos, em Nantes, e desde então se dedicou junto ao restante do time que não possui a trissomia do 21, como é definida geneticamente a condição, a adaptar o serviço para que todos os profissionais possam colaborar com facilidade.

"Você tem que se adaptar, mas a adaptação ajuda a todos. Constrói o espírito de um time. Na manhã, quando você tem uma pessoa com deficiência chegando para trabalhar com um sorriso e motivação, levanta o ânimo de todo mundo", afirmou à RFI.

Flore, que também ajudou a criar a associação Les Extraordinaires ("Os Extraordinários", em tradução livre) para ajudar negócios a integrar membros com deficiência às suas equipes, estimou à agência em março que entre 500 e 600 pessoas dentre as 65 mil com Down na França tenham emprego.

Por isso, ela apresentou o restaurante como exemplo de modelo de negócio inclusivo ao presidente Emmanuel Macron em 2018. Em janeiro, foi a vez do ex-presidente francês François Hollande visitar o endereço.

"Nossa equipe é extraordinária. A ideia é dar a eles a oportunidade de ter um trabalho 'normal', em ambiente comum, mostrar que é possível fazer este tipo de projeto com pessoas com deficiência", opinou o gerente do salão, Olivier Vellutini, ao jornal The Connexion France nesta terça (3).

Dentre os 12 funcionários da casa, sete são portadores da síndrome. Eles recebem o apoio de membros sem deficiência, como a chef Sarah Kaladjian, o chef-pâtissier Fabrice Bloch e a sous-chef Marie Lou. Entre as acomodações feitas, está um sistema simplificado de pedidos, já que alguns dos garçons têm dificuldades em anotar os pratos ou lembrá-los.

Por isso, clientes carimbam um cartão com sua escolha de entrada, prato principal e sobremesa, entre três opções de cada oferecidas no dia. Os pedidos são levados à cozinha, onde Sarah delega funções de acordo com as habilidades de cada um.

"Eles cozinham pratos quentes quando possíveis, mas pode ser perigoso, então sempre estou por perto", contou Sarah ao The Connexion. Dois membros da cozinha têm a síndrome atualmente.

Os cartões de pedidos da casa - Reprodução/Tripadvisor - Reprodução/Tripadvisor
Os cartões de pedidos da casa
Imagem: Reprodução/Tripadvisor

"Eles são extremamente eficientes agora. Aprenderam tudo e saber o que são capazes de fazer dá a eles autoconfiança também". Um dos mais novos recrutas, Émile, se juntou ao time do restaurante em setembro.

Ele passa as manhãs arrumando as mesas e secando as louças, mas ajuda a servir os clientes durante o almoço junto aos colegas Ibrahim e Ulysse. Mas já há perspectiva de promoção: como o trabalho na cozinha é sua paixão, ele treina para aprender a preparar pratos principais e sobremesas.

"No começo, ninguém conversava um com o outro, mas nós trabalhamos juntos para que pudéssemos ser um time. Agora, funcionários saem juntos para um café e eles tendem a se ajudar sem que ninguém peça", revelou Sarah.

A estratégia já revela ainda maiores resultados: em março, três garçons do Le Reflet serviram ministros que lidam com direitos de pessoas com deficiência dos 27 estados-membro da União Europeia em um jantar em Paris, organizado em homenagem à França assumindo a presidência do Conselho da UE.