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Viagem barata e fuga da covid: casal fica quase 2 anos "preso" no Camboja

O casal Juliana Maya e Ricardo Sorrenti no Templo em Battambang - Arquivo pessoal
O casal Juliana Maya e Ricardo Sorrenti no Templo em Battambang
Imagem: Arquivo pessoal

Priscila Carvalho

Colaboração para Nossa

15/02/2022 04h00

Desde que saíram do Brasil, o casal de brasileiros Juliana Maya e Ricardo Sorrenti (@divagandopelomundo) escolheu a Ásia para iniciar uma nova vida como nômades digitais. Em março de 2019, a viagem começou no Japão e depois continuou por mais 11 países. Seguindo o roteiro pelo Sudeste Asiático, eles desembarcaram no Camboja, um lugar que reservou muitas lembranças.

"Nossa intenção era ficar lá um mês, mas em março de 2020 a pandemia começou e as fronteiras fecharam", relembra Juliana. A princípio, eles acreditavam que seria algo temporário, mas para surpresa de ambos, ficaram "presos" no local um ano e meio por causa da covid-19.

Diante do imprevisto, eles tiveram que permanecer no país mesmo sem uma data definida de saída. Na época, até viagens internas estavam proibidas. No entanto, mesmo o governo brasileiro oferecendo um voo de repatriação, eles contam que o país agiu rápido e que se sentiam mais seguros no Camboja do que no Brasil.

Casal nos arredores de Kampot - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Casal nos arredores de Kampot
Imagem: Arquivo pessoal

No começo da estadia, eles ficaram na cidade de Kampot, localizada no interior do país, com estrutura para trabalhar remotamente, bons restaurantes, cafés e até trilhas para explorar a natureza.

Na cidade que a gente estava, não precisava usar máscara. Demorou muito para perceber que estávamos na pandemia", afirma Juliana.

Ilhados em "mundo paralelo"

Casal em trilha em Koh Rong Samloem - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Casal em trilha de Koh Rong Samloem
Imagem: Arquivo pessoal
Casal pratica stand up paddle em Saracen Beach - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Casal pratica stand up paddle em Saracen Beach
Imagem: Arquivo pessoal

Depois de passar uma temporada no interior, o casal se mudou para uma ilha chamada Koh Rong Samloem e seguiu por dez meses no local. Eles decidiram passar um longo período de isolamento no ano passado devido ao aumento no número de casos de covid-19 e das novas variantes no país.

O que eles não esperavam é que quase não haveria turistas no local e que seguiriam sem uma previsão de saída. Juliana conta que o próprio dono do hotel em que estavam retornou para o país dele e somente a gerente permaneceu na ilha. "Deveria ter umas 500 pessoas na ilha. Você não via nenhum turista", conta Ricardo a Nossa.

Ricardo e Juliana em frente ao bangalô  - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Ricardo e Juliana em frente ao bangalô onde moraram
Imagem: Arquivo pessoal
Vista do bangalô do casal em Koh Rong Samloem - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Vista do bangalô do casal em Koh Rong Samloem
Imagem: Arquivo pessoal

Hospedados em bangalô pé na areia, eles encontraram cobras e aranhas enormes. Porém, foi neste mesmo local que receberam a vacina contra covid-19 e celebraram.

Fomos de barco tomar a vacina e recebemos as duas doses. Foi um sentimento variado. Estávamos vivendo um mundo paralelo", relembra.

Ricardo e Juliana no dia em que foram vacinados, em Koh Rong Samloem - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Ricardo e Juliana no dia em que foram vacinados, em Koh Rong Samloem
Imagem: Arquivo pessoal

Viagem barata

"O Camboja está sempre como 'lado B' do Sudeste Asiático, mas achamos um país muito seguro e super convidativo", diz Ricardo, que recomenda o país para quem deseja passar uma longa temporada na Ásia e fugir dos "países óbvios", como Tailândia e Indonésia.

E diferentemente de como era no passado, hoje, o local está com mais estrutura para receber turistas de todos os estilos. Além disso, é mais difícil ter imprevistos com saneamento básico e segurança, por exemplo. "Não tivemos problema com a água. Passamos por isso na Índia, mas lá não".

Além disso, eles consideram o país é excelente para economizar e ainda ter uma estadia com preços acessíveis. Ao longo da viagem, eles estabeleceram uma média de gastos de 20 dólares (cerca de R$ 104 em cotação de 14/02/2022) para cada todos os dias, quantia que, segundo eles, sobrava no Camboja.

Casal em meio de transporte entre as ilhas e o continente - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Casal em meio de transporte entre as ilhas e o continente
Imagem: Arquivo pessoal

Comer na rua sai muito barato e alguns pratos chegam a custar três ou quatro dólares.

Tinha lugar que custava 1,50. Tem para todos os gostos, até mesmo mesmo para quem gosta de restaurante raiz", lembram.

Quando alugavam hospedagem, alguns lugares cobravam por diária ou valor mensal, mas os valores cobrados eram muito baratos.

Na década de 90, o Camboja passou a aceitar o dólar como moeda local. As compras e vendas podem ser feitas na moeda americana e até o troco é facilitado para quem tem ou quer o dinheiro. Também é possível comprar coisas na moeda oficial do país, o Riel.

Saracen Beach, no Camboja - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Saracen Beach, no Camboja
Imagem: Arquivo pessoal

De volta à estrada

Outra vantagem que o casal encontrou no país asiático é a hospitalidade local, com habitantes muito receptivos com nômades digitais e turistas.

Segundo Juliana, é possível até encontrar uma grande a comunidade de brasileiros — muitos deles trabalham em ONGs ou projetos sociais que ajudam a população local. "Conhecemos um casal de brasileiros que resgatam pessoas em situação de risco e dão um lar para eles. Hoje, eles já falam português e inglês. Foi muito legal ver de perto", afirma a brasileira.

Juliana em ONG no Camboja - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Juliana em ONG no Camboja
Imagem: Arquivo pessoal

Há ainda outros projetos liderados por brasileiros que, inicialmente, vão para trabalhar como missionários, mas se apaixonam pelo país e não voltam mais para cá.

Agora, eles estão hospedados em Bangkok, na Tailândia, desejam seguir para Oceania nos próximos meses e vir para o Brasil somente de férias.

"Nosso plano é um estilo de vida que a gente acaba vivendo. A ideia é essa. Seguir na estrada e usar o Brasil como base", conclui Juliana.