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Como não cair no golpe dos perfis falsos de hotéis e restaurantes

Viagem de graça? Refeição sem custos? Fique atento aos perfis falsos de hotéis e restaurantes para não cair em golpes - Getty Images/iStockphoto
Viagem de graça? Refeição sem custos? Fique atento aos perfis falsos de hotéis e restaurantes para não cair em golpes
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Eduardo Vessoni

Colaboração para Nossa

17/11/2020 04h00

O padrão da mensagem é o mesmo. O usuário é informado via rede social que ganhou uma promoção em um estabelecimento comercial, como hotel e restaurante e, para validá-la, é preciso clicar em um link enviado via SMS e indicar o código gerado.

Basta seguir as instruções para que seu WhatsApp seja "sequestrado" e você, mais uma vítima de um dos crimes virtuais que mais tem dado dor de cabeça a hoteleiros: o pishing, fraude eletrônica de roubo de informações de usuários.

A prática, geralmente, vai além da criação de perfis falsos para obtenção de dados pessoais. Disparo de mensagens para os contatos da vítima e solicitação de dinheiro, seguida de insultos no caso de uma resposta negativa, são algumas das ações dos golpistas.

Print de uma das mensagens enviadas por golpistas, no Instagram - Reprodução - Reprodução
Print de uma das mensagens enviadas por golpistas, no Instagram
Imagem: Reprodução

Independentemente da pandemia, que tem deixado mais pessoas conectadas, os casos já vinham apresentando um aumento anual de 30%.

"É muito mais prático para o criminoso atuar no mundo virtual, pois ele ganha em larga escala. Um por cento que caia no golpe já é um volume grande de venda", analisa Maurício Paranhos, diretor de operações da Apura S.A, especializada em segurança e defesa cibernéticas corporativas.

Golpes por perfis falsos atingem estabelecimentos e clientes - Getty Images - Getty Images
Golpes por perfis falsos atingem estabelecimentos e clientes
Imagem: Getty Images

No último mês de outubro a Polícia Civil do Estado de São Paulo criou até um setor exclusivo para tratar do assunto, a Divisão de Crimes Cibernéticos (DCCIBER), com policiais capacitados na investigação e combate ao crime virtual.

Procurado pela reportagem, via assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública, o órgão não respondeu aos pedidos de entrevista até o fechamento deste texto.

Mas trabalho não deve faltar por ali.

Me faz uma transferência?

O potiguar Dácio, que pediu para não ter o sobrenome revelado, foi uma das vítimas recentes.

A trabalho em Cuiabá (MT), o publicitário foi surpreendido pelo perfil falso do restaurante Flor Negra no Instagram, cuja mensagem enviada dizia que o usuário havia ganhado um jantar em comemoração aos cinco anos da casa.

Coincidentemente, Dácio é amigo do proprietário e acreditou na promoção. Ao clicar no link enviado por SMS, seu WhatsApp foi clonado e os golpistas passaram a enviar mensagens para os contatos da vítima solicitando uma transferência bancária.

"Dois amigos caíram no golpe e chegaram a fazer uma transferência no valor de R$ 1.480", conta Dácio em entrevista por telefone.

Denunciado pelo dono do restaurante, o Instagram deu a seguinte resposta: "Constatamos que essa conta provavelmente não vai contra as nossas Diretrizes da Comunidade. (?) Como o Instagram é uma comunidade global, entendemos que as pessoas podem se expressar de maneiras diferentes".

A gente faz B.O., mas não passa disso. Não tem muito para onde fugir", lamenta Marcelo Dantas, RP do restaurante.

É quase uma unanimidade ouvir relatos de empresários que tentaram solicitar, sem sucesso, o takedown, como é conhecido o ato de derrubar uma página na internet.

Mensagem padrão do Instagram - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução
Mensagem padrão do Instagram  - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Procurado pela reportagem de Nossa, via assessoria de imprensa, o Instagram deu a seguinte resposta:

"Fingir ser outra pessoa, marca ou negócio viola as Diretrizes da Comunidade do Instagram e as contas indicadas pela reportagem foram removidas".

Vale lembrar que, apesar dos empresários terem relatado a dificuldade em derrubar as contas a partir de vários avisos enviados à rede, o Instagram as removeu somente após o contato da reportagem. "Encorajamos as pessoas a denunciarem quaisquer contas ou atividades suspeitas no Instagram por meio das nossas ferramentas de denúncia", completa a rede.

O que dizem os hoteleiros

No mês passado, a Pousada Aracê, em Domingos Martins, nas Montanhas Capixabas, também teve sua conta no Instagram clonada, cujo perfil falso seguiu o mesmo padrão do golpe: envio de mensagens para usuários com supostas promoções e envio de código por SMS.

Conforme informou a funcionária Caroline Bravim Uliana, os proprietários chegaram a fazer B.O. online e compareceram a uma delegacia de crimes virtuais, mas mesmo com as denúncias, o perfil não foi derrubado.

Tudo o que a gente postava, eles [os golpistas] replicavam, inclusive os nossos Stories. Tivemos casos de clientes que começaram até a duvidar da existência da pousada", explica.

De acordo com Caroline, o estabelecimento fez a denúncia, mas o Instagram também respondeu que o perfil não violava as regras da rede. Entre as medidas adotadas, Caroline conta que passaram a mudar a foto do perfil diariamente e a postar com mais frequência para garantir visualização integral do perfil.

Golpistas aproveitam pandemia para realizarem mais golpes - Getty Images - Getty Images
Golpistas aproveitam pandemia para realizarem mais golpes
Imagem: Getty Images

"Nessa pandemia, todo mundo está na rede e, por conta de um certo ócio ou fragilidade das pessoas, eles aproveitam".

Por duas vezes, Érika Sanches também teve a conta clonada do seu hotel em Arraial d'Ajuda, no sul da Bahia.

"Na primeira vez, os golpistas prometiam diárias grátis. Já na segunda, foram transtornos gigantes com mensagens enviadas para amigos e clientes. E não adiantou denunciar, o Instagram não retirou as páginas", explica a empresária.

Em nota, a diretora executiva da BLTA (Brazilian Luxury Travel Association), Simone Scorsato, avisa que "os fraudadores estão atuando de norte a sul do país e, dos 39 empreendimentos associados, somente dois não foram vítimas de golpes no Facebook e no Instagram".

Em São Paulo, por exemplo, hotéis como o Unique e Unique Garden, na capital e em Mairiporã, respectivamente, já tiveram cinco perfis fakes criados no Instagram. Todos já foram exaustivamente denunciados, mas os porta-vozes da plataforma afirmam, outra vez, que as contas falsas não ferem suas diretrizes.

"No grupo de WhatsApp dos membros da BLTA se tornou frequente os relatos de contas fakes e pedidos de denúncia das mesmas", descreve Simone.

Imagem arranhada

"Mundo maluco. A fake [news] já faz parte da nossa realidade e parece que está institucionalizada", descreve Ana Muller, que teve os perfis clonados de dois estabelecimentos seus, uma pousada em Galos (RN) e um restaurante em Fernando de Noronha (PE).

Aviso de golpe - Reprodução - Reprodução
Aviso de golpe
Imagem: Reprodução

Para ela, um dos maiores problemas é ter a imagem de seus negócios prejudicada por esse tipo de crime. "Usam nossa logomarca nos perfis e espantam os clientes através do medo de sofrerem algum tipo de golpe caso entrem novamente no nosso perfil", analisa Ana.

Mesmo com B.O. feito em uma delegacia e várias denúncias no Instagram, a conta falsa da sua pousada no litoral potiguar (@pousada.peixe.galo) continuava no ar até o fechamento desta matéria.

"A gente constrói um trabalho de comunicação, mas isso tudo prejudica a nossa credibilidade", lamenta o RP Marcelo Dantas que, desde setembro, vinha tentando derrubar a página fake do restaurante onde cuida da comunicação, em Cuiabá.

Nem o Procon escapou

Ao ser procurado pela reportagem de Nossa para apuração de dicas de segurança em trâmites virtuais, a assessoria de comunicação da fundação informou que a própria instituição passava pela mesma situação.

Até a última quinta-feira, havia dez perfis falsos do Procon, que no mesmo dia estava notificando o Instagram para o "bloqueio imediato de todos os perfis falsos que utilizam indevidamente seu nome e sua marca e adote medidas de segurança que impeçam a criação de novas contas falsas".

Assim como explica a nota enviada à reportagem, os fraudadores acessam o perfil oficial do Procon-SP em busca de comentários e procuram o consumidor para solicitar dados pessoais. Em posse de informações como nome e telefone, o golpista envia um código por SMS que serve para hackear o WhatsApp da vítima.

Fernando Capez, diretor executivo Procon-SP, informou que as reclamações de golpes pela internet tiveram um aumento de 100%, só em 2020.

"Na medida em que negligencia o controle dos perfis, o Facebook [que também adquiriu o WhatsApp e Instagram] está cooperando com as quadrilhas que aplicam os golpes usando o perfil do Procon", explica Capez.

Phishing - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Golpes chegaram até mesmo aos órgãos oficiais
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Ainda de acordo com o diretor executivo, "a partir dessa resposta absurda, a rede abriu a porta para que a gente estenda nossa apuração para todos os perfis. Quando aplicarmos uma multa, estará consagrada a sua negligência".

Caso o Instagram não atenda ao pedido da fundação em até 24 horas, segundo Capez, fica caracterizada a "admissão de culpa e encaminhamos para autuação. Se os especialistas concluírem que houve prática abusiva, o Facebook será responsabilizado como empresa cooperadora nos perfis falsos, omissão deliberada e negligência".

Sobre as contas do Procon, o Instagram afirma que "fingir ser outra pessoa, marca ou negócio viola as Diretrizes da Comunidade do Instagram e as contas indicadas pelo Procon foram removidas" e que "o Facebook e Instagram respeitam as autoridades brasileiras e estão à disposição para prestar as informações necessárias ao PROCON-SP".

Dicas para não cair no golpe

  • De acordo com a Apura S.A, 99% dos casos de fraude acontecem com engenharia social, ou seja, não é uma ação sofisticada. Alguém se passa por outra empresa e tenta enganar o usuário;
  • Os nomes dos perfis falsos costumam ser muito parecidos às contas oficiais. Fique atento a detalhes como o uso de símbolos, como por exemplo, "_" (underline) no final ou letras dobradas;
Perfil falso do hotel Maitei  - Reprodução - Reprodução
Perfil falso do hotel Maitei
Imagem: Reprodução
Perfil falso do hotel Maitei  - Reprodução - Reprodução
Perfil falso do hotel Maitei
Imagem: Reprodução
  • Desconfie de negócios com contas que não sejam públicas. Empresas, raramente, possuem perfis privados que requeiram autorização para ser seguido;
  • Perfis que representam grandes empresas, organizações ou figuras públicas normalmente são verificados e contam com o selo azul ao lado do nome;
  • Desconfie de ofertas de produtos, promoções ou serviços com preços muito abaixo dos valores médios no mercado;
  • As falsas promoções seguem praticamente o mesmo padrão: sorteio de diárias em hotéis ou refeições grátis em restaurantes, com abordagens que costumam ter estruturas sintáticas mal formuladas como "você está concorrendo 3 dias de estadia grátis" e frases padrões do tipo "analisamos que você segue nosso Instagram de publicidade";
  • Outra característica comum são as contas bancárias com nomes aleatórios de correntistas, que costumam não ser os mesmos do suposto solicitante. Os golpistas costumam também disponibilizar contas em diferentes bancos para agilizar o depósito e, consequentemente, sua retirada;
  • Tenha o hábito de conferir a data da criação da conta, bem como a quantidade de publicações e de seguidores. Perfis falsos costumam ter um número bem abaixo das contas oficiais;
  • Jamais forneça senha ou qualquer outro dado por mensagens recebidas via e-mail ou celular;
  • Desconfie toda vez que receber um e-mail com alguma informação que não tenha sido solicitada. Na dúvida, contate sempre o SAC da empresa;
  • Uma das formas de dificultar a ação dos golpistas é ativar a verificação em duas etapas, cujo login em redes exige não só o uso de senha, mas também inserção de um outro código, enviado por SMS ou aplicativo autenticador;
  • Caso sua cidade não conte com uma delegacia exclusiva de combate a crimes desse tipo, é possível fazer um boletim de ocorrência em qualquer outra delegacia;
  • Na dúvida, acesse a central de ajuda das redes sociais, como a do Instagram (https://help.instagram.com/514187739359208)

(* fontes: PROCON, Instagram, Apura Cyber Intelligence e hoteleiros)

Como fazer uma denúncia no Instagram

Publicação ou anúncio:

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Como denunciar um perfil

  • toque em "..." na parte superior direita do perfil;
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Como denunciar uma mensagem no Direct

  • No Direct, toque e segure a mensagem que deseja denunciar;
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Ao fazer uma denúncia, segundo o próprio Instagram informou à reportagem, as informações do usuário não serão compartilhadas com a conta, cuja publicação ou perfil está sendo denunciado.

(* fonte: Instagram)