Filha de Maurizio Gucci rompe silêncio 27 anos após assassinato do pai
Após 27 anos de silêncio, a filha mais velha de Maurizio Gucci e Patrizia Reggiani, Allegra Gucci, decidiu "contar a verdade" sobre o assassinato de seu pai, ocorrido em 27 de março de 1995, em um livro de memórias que será lançado no próximo dia 15.
O livro "Fine dei giochi: Luci e ombre sulla mia famiglia" ("Fim dos Jogos: Luzes e sombras sobre minha família", em tradução livre), da editora Piemme, relata o ponto de vista de Allegra e sua irmã, Alessandra, sobre a morte de Maurizio, o relacionamento com a mãe, Patrizia, e a cobertura midiática do crime.
Em 208 páginas, ela revela "fatos misteriosos de alguns protagonistas" da história sombria e "movimentos bancários suspeitos" em relação à sua herança, além de desmontar conjecturas, notícias falsas e memórias imprecisas que se tornaram domínio da opinião pública e foram parar nas telonas, no filme "Casa Gucci", estrelado pela cantora Lady Gaga.
Hoje (9), a revista Vanity Fair antecipou a capa da obra e publicou uma entrevista exclusiva com Allegra. "Fiz esta entrevista, escrevi este livro porque tenho dois filhos pequenos. Vendo o clamor causado pelo filme "Casa Gucci", eu não queria que eles crescessem sem saber a verdade. Eu reconstruí as memórias pedaço por pedaço. Às vezes, eu sentia dor, outras vezes uma sensação de libertação. É minha carta para meu pai Maurizio, porque meu pai Maurizio está sempre aqui", disse a italiana.
Segundo ela, o livro é dedicado ao seu pai, que foi assassinado quando ela tinha 14 anos. "Chegou a hora de compartilhar minhas palavras não mais só com você, querido pai. Há muito a dizer.
Minha verdade, sua verdade, nossa verdade. Aquela história que está esperando para sair de muito tempo", escreveu.
O livro é um diálogo imaginário entre a filha e o pai, onde Allegra lembra sua relação com Maurizio, com a mãe, com a avó tirana, Silvana Barbieri Reggiani, a polêmica com Paola Franchi, companheira de seu pai na época do crime.
"Entre meu pai e minha mãe houve uma bela história que durou 13 anos e foi interrompida pela separação em 1985. O casamento deles não acabou por causa de Franchi, como muitas vezes foi noticiado nos jornais. A separação aconteceu pelo menos 7 anos antes de sua relação", revelou.
De acordo com Allegra, um acordo atesta o desejo de seu pai de não querer se casar novamente. "Franchi não era a esposa do meu pai, ela não era minha mãe, nem era amiga. Quando, em 1998, minha mãe foi considerada culpada, Franchi recorreu ao Tribunal de Menores indicando que meus bens e eu estávamos 'desordenados' e que ela estava se oferecendo para proteger a mim e aos meus interesses".
"Outro tapa. Eu, filha de pai assassinado e mãe presa, tive que sofrer isso também. Paola Franchi nunca nos deu trégua", prosseguiu.
Na entrevista, Allegra também abre o jogo sobre a sua avó materna, definida por ela como "manipuladora". "Para ela, só havia dinheiro e o poder que vem com ele. Ela nos manipulou fazendo-nos sentir culpadas. E manipulou os outros com o poder que adquiriu graças ao dinheiro", lembrou.
Segundo a herdeira, "verificando os livros contábeis, percebemos que a avó escondia parte dos fundos destinados a nós e nossas despesas transferindo-os para suas próprias contas correntes".
Allegra contou ainda a verdade sobre Giuseppina Auriemma, conhecida como "a feiticeira", cuja influência sobre Reggiani foi, segundo Gucci, fundamental para o crime, e de Loredana Canò, companheira de cela de sua mãe.
"Durante 17 anos, fui visitá-la todas as quartas e sextas que Deus mandou para a terra. Por muitos anos, minha irmã e eu acreditamos na inocência de nossa mãe, mas descobrimos pela TV e depois por suas meias frases que não era [verdade]", enfatizou.
Por fim, Allegra recordou de Fabio Franchini Baumann, advogado e amigo de seu pai, considerado "um bravo capitão que me salvou das ondas e dos tubarões".
"Ele trabalhava com o pai, ele era seu melhor amigo. Ele nos deixou no ano passado. Fabio não só me ajudou no nível pessoal e jurídico. Fabio me fez ver o que eu sentia dentro de mim, mas não encontrava na minha família: valores, honestidade nas relações, a importância de saber se portar. Ele era um homem puro, honesto e sem culpa, que teve que lutar contra esse mundo de sombras que queria manchá-lo", disse.
Nascida em 1981 e graduada em Direito pela Universidade Católica de Milão, Allegra dedicou a maior parte de sua vida à defesa de sua mãe, considerando-a inocente por muito tempo. Ao longo dos anos, ela tentou proteger sua vida privada, sobrecarregada pelo crime e pela morbidez da mídia. Atualmente, é casada com Enrico, mora na Suíça e é mãe de dois filhos.
"Enrico chegou em um momento muito difícil. Somos como duas peças de quebra-cabeça que se encaixam: nos conhecemos quando ele também perdeu o pai. Sentir essa dor de forma recíproca me fez entender o que realmente quero na minha vida. Agarrei-me a ele porque ele tinha a luz para romper a cortina de sombras que cobria minha vida", concluiu.
Maurizio Gucci, herdeiro da grife, foi assassinado a mando de sua ex-mulher, Patrizia Reggiani, após 15 anos de casamento.
Presidente da marca entre 1983 e 1993, ele foi executado enquanto chegava ao seu escritório na via Palestro, em Milão, por um homem que disparou três tiros pelas suas costas e um na têmpora. Reggiani ficou conhecida pela imprensa italiana como "viúva negra" em um dos crimes mais chocantes e escandalosos da alta sociedade da Itália. Ela cumpriu 18 anos de prisão por orquestrar o assassinato e, em 2016, foi libertada.
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