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O peso simbólico das viagens de Elizabeth 2ª

Getty Images
Imagem: Getty Images

09/09/2022 10h52

O peso simbólico de Elizabeth 2ª, chefe de Estado, primeira representante e garantidora da unidade do seu reino, que faleceu na quinta-feira (8), muitas vezes se revelou em suas viagens oficiais.

1964: vaiada em Quebec

As viagens de Elizabeth 2ª ao Canadá foram muitas vezes marcadas pela febre separatista na província francófona de Quebec.

Em 1964, em sua primeira visita como rainha do Canadá, uma multidão "não muito convidativa" a esperava do lado de fora da residência do vice-governador, escreveu a AFP. "Um grupo de jovens, na calçada, virou as costas". As manifestações de grupos separatistas foram duramente reprimidas.

Em 1990, enquanto o país passava por uma nova crise constitucional ligada ao Quebec, a rainha fez um discurso no Parlamento escrito por ela e seus assessores próximos e não pelo governo canadense, como manda a tradição.

"Espero sinceramente que os canadenses se unam e permaneçam juntos, em vez de insistir em diferenças que só irão semear novas sementes de divisão", disse.

1965: ao pé do muro de Berlim

Em 27 de maio de 1965, mais de um milhão de berlinenses foram receber a rainha durante sua visita de seis horas à cidade dividida.

"Com sua presença e o entusiasmo que desencadeou, Elizabeth 2ª, apesar das repetidas afirmações do outro lado do muro, confirmou que Berlim Ocidental pertence à família ocidental", escreveu a AFP.

Em frente ao muro, o carro da soberana parou por cerca de três minutos. "Ao contrário de outros convidados ilustres, Elizabeth 2ª não deixou seu assento para subir à plataforma que permite ver o que acontece em Berlim Oriental, o que teria sido indigno da rainha", descreveu o jornalista.

Em seu discurso, ela "não gritou 'sou berlinense' " como John F. Kennedy fez em 1962 no mesmo local.

"Mas uma rainha não opera por lemas e a densidade da multidão em uma viagem total de 36 quilômetros, o calor dos aplausos, não deixou nada a invejar à memorável visita do presidente Kennedy", assegurou a agência.

1977: Irlanda do Norte, apesar do conflito

Em 1977, a rainha comemorava o 25º aniversário de sua coroação e queria viajar para a Irlanda do Norte, dividida nos oito anos anteriores pelo conflito entre protestantes unionistas e católicos republicanos.

Nos dias anteriores à sua chegada, objetos incendiários causaram centenas de milhares de libras em danos em Belfast.

Para proteger a rainha, acompanhada pelo príncipe Philip e seus dois filhos mais novos, um esquema de segurança impressionante foi instalado, incluindo um destróier com mísseis. Mais de 32 mil policiais e militares foram mobilizados na "Operação Monarca".

Em 11 de agosto, a rainha visitou a Universidade de Coleraine, a 80 km a noroeste de Belfast. Pouco antes de sua chegada, o IRA afirmou ter plantado uma bomba.

Elizabeth 2ª lançou um apelo fervoroso para restaurar a paz, convidando protestantes e católicos a acabar com a "violência sem sentido".

1991: Mandela, convidado surpresa

Em 1991, Nelson Mandela, que acabara de ser libertado da prisão, foi convidado para a cúpula da Commonwealth em Harare, Zimbábue.

Era então apenas o líder do partido do Congresso Nacional Africano, em um país ainda em plena transição democrática, e não tinha o posto para participar do banquete da rainha. Mas ela decidiu quebrar o protocolo e convidá-lo.

Nos dias que antecederam esse gesto altamente simbólico, Elizabeth 2ª já havia abandonado suas reservas, congratulando-se com o fato de o apartheid estar "morrendo na África do Sul".

No início dos anos 1980, a rainha apoiou discretamente o primeiro-ministro canadense Brian Mulroney, que fez campanha por sanções econômicas à África do Sul, às quais se opunha sua contraparte britânica, Margaret Thatcher.