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Futebol Sem Fronteiras

O jogo por trás do jogo. Com Jamil Chade e Julio Gomes


OPINIÃO

Futebol sem Fronteiras #17: Mercado da bola foi o mais impactante da história

Do UOL, em São Paulo

02/09/2021 15h50

O mundo do futebol entrou em choque quando Lionel Messi deixou o Barcelona e acertou com o Paris Saint-Germain. Quando todos ainda assimilavam esta novidade, outra bomba explodiu pouco depois: Cristiano Ronaldo estava de saída da Juventus, flertou com o Manchester City, mas voltou para o Manchester United. As transferências dos dois maiores jogadores desta geração marcaram a recém fechada janela do mercado da bola europeu, que teve o contraste entre gastos menores e impacto estrondoso.

No podcast Futebol sem Fronteiras #17 (ouça na íntegra no episódio acima), o colunista Julio Gomes e o correspondente internacional Jamil Chade conversaram sobre o fechamento da janela de transferências na Europa, que teve grande repercussão por conta de Messi e Cristiano Ronaldo. Eles ainda debateram os detalhes do funcionamento deste mercado, como os altos valores envolvidos e quais ligas mais gastaram ou lucraram com as negociações de atletas nos últimos anos.

"A pandemia desacelerou a quantidade de dinheiro gasta no mercado da bola. O mercado que se fechou agora movimentou, segundo dados do Trasnfermarkt [site especializado em mercado da bola], 4 bilhões de euros. É o menor volume desde 2014. A janela de 2019, a última pré-pandêmica, movimentou 7 bilhões de euros, para efeito de comparação. No entanto, foi uma janela de grande impacto: Messi, Cristiano Ronaldo, Lukaku, Sergio Ramos, Donnaruma, Alaba, Griezmann... É a janela mais impactante da história do futebol", avaliou Julio.

Jamil frisou que, apesar do destaque, esta enorme repercussão se limitou a uma parcela bastante reduzida de equipes. "Foi a janela de maior impacto, mas ela se limitou à elite do futebol mundial. Um número gigantesco de clubes ou não gastou nada ou tentou vender jogador porque precisa pagar contas. As dívidas são enormes. O futebol europeu teve um prejuízo de 9 bilhões de euros nessa pandemia e precisa voltar a encher o cofre. Para isso, não vai poder gastar. Essa é a regra número um", comentou.

Para se ter ideia do volume de dinheiro movimentado pelo mercado da bola nos últimos anos, Jamil citou uma comparação impressionante. "Tenho conversado com muitos empresários e advogados que fazem a mediação desses contratos e todos dizem exatamente a mesma coisa. No começo da década, em 2010/11, ninguém jamais imaginou que nessa década, a maior da expansão do futebol, os números chegariam a esses. Nos últimos dez anos, excluindo o período da pandemia, a Fifa estima que os clubes gastaram US$ 48 bilhões em transferências. Na lista do FMI [Fundo Monetário Internacional], 110 países no mundo têm PIB menor do que as transferências no futebol mundial", explicou.

E onde o Brasil entra nessa história? Jamil traz outros dados que chamam a atenção. "Entre 2011 e 2020, 15 mil jogadores brasileiros foram negociados", disse. "Os clubes portugueses foram os que mais ganharam com transferências de jogadores no mundo nesses dez anos. Eles abriram mão de competir na elite do futebol para ter esse lucro. Não existem milhares de jogadores portugueses. O que é isso? A chegada de milhares de brasileiros por um preço inferior e a revenda deles, de argentinos, etc, para o resto da Europa nesse segundo salto, que permite o ágio", acrescentou.

Julio citou um exemplo que ilustra bem o raciocínio de Jamil. "É o caso do Eder Militão. O Porto o contrata do São Paulo por um preço sul-americano [7 milhões de euros, cerca de R$ 30,6 milhões na época da transação, em 2018] e o vende para o Real Madrid por um preço europeu [50 milhões de euros, em torno de R$ 215 milhões na época da negociação, em 2019]. Isso a gente viu acontecer muito ao longo das duas últimas décadas", observou.

Jamil também trouxe a relação dos principais "gastões" dos últimos anos. "Os clubes ingleses foram os que mais gastaram: US$ 12 bilhões nesses dez anos. Em segundo, a Espanha, com US$ 6,7 bilhões. Em terceiro, Itália, e em quarto a Alemanha, que gastou um terço dos ingleses. Isso tem impacto direto na venda de direitos de televisão. Você também tem outros novos atores aparecendo: a China gastou, nesses dez anos, US$ 1,4 bilhão", completou.

Ouça o podcast Futebol sem Fronteiras e confira também a discussão sobre a queda de braço entre os clubes europeus e a Fifa pela liberação de jogadores para a disputa das partidas das eliminatórias da Copa do Mundo-2022,

Não perca! Acompanhe os episódios do podcast Futebol sem Fronteiras todas as quintas-feiras às 15h no Canal UOL.

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