Os esforços de Santiago-2023 por um legado sustentável

Até quando dura um mega-evento esportivo? Qual o impacto que ele deixa não só para os atletas de uma cidade, mas principalmente para os cidadãos de um país? Alejandro Bacot, Subdiretor de Legado e Sustentabilidade dos Jogos Pan-Americanos e Parapan-americanos de Santiago-2023, conversou com o Olimpíada Todo Dia para comentar o que ele acha que foram os principais legados do evento que aconteceu na capital chilena do ano passado.

Alejandro esteve na linha de frente da realização dos jogos desde janeiro de 2023 até o início deste mês quando se tornou gerente de um clube desportivo em Puerto Varas. Ele comentou que o projeto de legado e sustentabilidade criado para o evento foi inovador se comparado com outras edições.

"Nós conseguimos ser carbono neutro e acredito que fomos os primeiros Jogos a ter todos os bônus de carbono neutro certificados pela ONU", revelou o dirigente. Um evento é chamado de carbono neutro quando o impacto que é causado no meio-ambiente é revertido de forma completa, com o plantio de árvores por exemplo. "Outro ponto importante é que nós tivemos mais de 100 pontos feitos para avaliar o impacto de acordo com o Quociente de Pensamento Ambiental (QPA)".

ELOGIOS AO BRASIL

Bacot disse que o Comitê Olímpico do Brasil foi dentre todas as nações participantes de Santiago-2023 a que teve mais interesse pelo tema do legado. "Desde o início de 2023, o Brasil sempre perguntava sobre ideias de sustentabilidade, como funcionaria a reciclagem. Acredito que é um dos Comitês Olímpicos Nacionais mais importantes em nossa região e me pareceu portanto ter um interesse muito grande em estratégias de sustentabilidade", comentou o dirigente.

PARAPAN

Bacot afirmou que o principal objetivo de Santiago-2023 era aumentar a prática desportiva na população chilena. E o segundo, assim, era dar uma visibilidade maior aos paratletas. "A maior diferença entre os eventos é que as principais estrelas estavam nos Pan-Americanos. Mas de qualquer maneira você precisa pensar as estruturas e os locais de competição para ambos e sempre tendo em mente a acessibilidade. E o mais importante é que o espírito da competição é o mesmo, isso não muda. A emoção que você sente durante o torneio é igual".

O Comitê Olímpico Chileno já demonstrou interesse em sediar os Jogos Olímpicos. Além disso, o país está em busca de novos eventos para tentar manter uma tradição esportiva comparável a de Lima. "A partir de agora, o IND (Instituto Nacional de Deportes) e o Comitê Olímpico Chileno vão gerir essas infra estruturas, o que vai ser positivo. Mas acho que o principal é que a sociedade e a comunidade local, incluindo crianças, vão ter uma oportunidade de praticar atividades físicas".

OLIMPISMO 

Além da experiência em organização de eventos, Alejandro Bacot é pesquisador. Ele é Mestre em Estudos Olímpicos, Educação Olímpica e Organização e Gerência de Eventos Esportivos promovido pela Academia Olímpica Internacional (IOA) em parceria com a Universidade de Peloponeso, em Olímpia e Sparta, na Grécia.

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"Esse meu trabalho não seria possível sem esse mestrado. Todas as informações que eu pus em prática no meu trabalho vieram deste mestrado, a qual eu recomendo para todas pessoas que querem trabalhar em um mega-evento esportivo ou no movimento olímpico" comentou Alejandro.

Sobre a importância do olimpismo, Bacot fez referência ao movimento político atual do Chile, dominado por discussões sobre uma nova constituição desde os acontecimentos de 2019. "Olimpismo é a possibilidade de pensar fora da caixa. Ensar uma sociedade melhor, um local inclusivo, e um local comum para pessoas que pensam ou são diferentes. Estamos em meio a debates constitucionais no Chile, em que a sociedade está bastante dividida. Acredito, dessa forma, que os Jogos Pan-Americanos foram a melhor maneira de encontrarmos um ponto de união", concluiu o pesquisador.

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