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O que se sabe sobre menino vítima de abuso, morto e sequestrado por técnico

Técnico teria dito que "se mataria" caso não pudesse mais conviver com Felipe - Reprodução
Técnico teria dito que "se mataria" caso não pudesse mais conviver com Felipe Imagem: Reprodução

24/04/2017 18h36

Autópsia mostra que garoto de dez anos havia ingerido tranquilizantes antes de morrer; juíza fala em abuso sexual, mas diz que por ora não há provas definitivas contra treinador.

O garoto Felipe Romero, de 10 anos, pode ter ingerido tranquilizantes momentos antes de ser morto com um tiro na cabeça, em um crime que chocou o Uruguai e mobilizou autoridades do país sul-americano em busca do garoto, que ficou desaparecido por dois dias.

Felipe e o treinador de futebol Fernando Sierra, de 32 anos, foram encontrados mortos, juntos, a 150 km de Montevidéu.

Em entrevista à rede de TV Canal 13, a juíza penal Adriana Morosini, responsável pelo caso, afirmou que os primeiros dados da autópsia do garoto também apontam "um provável abuso sexual".

"O abuso teria ocorrido não ontem ou antes de ontem, mas há algum tempo. Mas não posso determinar hoje com as provas que tenho que Fernando Sierra é o responsável", afirmou.

"Para isso serão necessários os resultados de mais análises das amostras que foram enviadas ao Instituto Técnico Forense." Os resultados devem ficar prontos em cerca de 30 dias, segundo a juíza.

O presidente uruguaio, Tabaré Vásquez, disse que a morte do garoto foi "terrivel, muito lamentável e absolutamente incompreensível".

Um dia antes do sequestro, Sierra - que mantinha uma relação muito próxima com Felipe - havia sido avisado pela mãe dele de que teria que se afastar do convívio da criança.

A tia do menino, Maíra del Carmen Romero, disse à BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC, que a psicóloga que tratava Felipe recomendara o afastamento após notar no garoto um comportamento estranho.

No entanto, não foram divulgados detalhes sobre o comportamento de Felipe nem sobre a recomendação da psicóloga.

Até então, Sierra era uma presença constante na vida de Felipe, que frequentemente o chamava de "papai". Em cartas escritas para o treinador - que estão sendo analisadas pela polícia, segundo a imprensa local - o garoto escrevia "Papai, te amo" e "Papai me defende quando ninguém me defende".

Tranquilizantes

Segundo a imprensa uruguaia, a autópsia no corpo do menino também revelou que ele havia ingerido tranquilizantes - um sedativo suave que pode ser comprado sem receita médica.

De acordo com o jornal El País do Uruguai, a polícia encontrou três cartelas de comprimidos no local onde estavam os corpos. Duas cartelas estavam cheias, e uma não tinha sete comprimidos.

O Instituto Técnico Forense de Montevidéu tenta comprovar se Felipe foi sedado antes de receber um tiro na cabeça.

O jornal El País informou ainda que os corpos do técnico e do garoto foram encontrados abraçados e sem sapatos. Ao lado deles havia uma arma calibre 22.

De acordo com o El País, o celular de Fernando Sierra foi encontrado na estrada perto do local onde os corpos foram encontrados. O aparelho havia sido esmagado por carros e estava danificado.

Segundo o chefe de policia da região, Eduardo Martínez, as autoridades trabalham com a hipótese de que o treinador teria atirado no menino e, em seguida, cometido suicídio.

'Eu me mato'

Depos que a psicóloga recomentou à mãe de Felipe que ela não deixasse mais o menino sozinho com o treinador, Alexandra Pérez o chamou para conversar a sós.

"Veja bem, Fernando, as psicólogas me alertaram que não pode voltar a ficar sozinho com Felipe. Entenda como queira. Mas precisa aceitar o que estou te pedindo. Por favor", relatou Pérez ao El País.

"Se não puder mais ver o Felipe, eu me mato", teria sido a resposta do treinador.

Na tarde da última quinta-feira, Sierra teria tirado o garoto da escola com a justificativa de que "o tempo estava ruim" e afirmou que tinha a permissão da mãe para fazê-lo. De acordo com a escola, o técnico estava listado como um dos adultos de referência para o garoto e frquentemente o buscava, além de frequentar reuniões de pais e professores.

Sua professora teria enviado uma mensagem de celular à mãe do garoto que, ao vê-la, no fim da tarde, foi até a casa do treinador e descobriu que eles não estavam lá. Os corpos foram encontrados pela polícia na tarde de sábado.

Héctor Florit, conselheiro de ensino primário do órgão nacional que administra a educação pública no Uruguai, a Anep (Administración Nacional de Educación Pública), disse ao El País que a família de Felipe não informou à escola que Sierra já não estava autorizado a buscá-lo.

A juíza Morosini afirmou que, nos próximos dias, deve colher depoimentos da mãe do garoto, de sua professora, da diretora da escola em que estudava e da psicóloga.

'Como filho'

Felipe o chamava de "papai" e dizia que técnico "o defendia" - Reprodução - Reprodução
Felipe o chamava de "papai" e dizia que técnico "o defendia"
Imagem: Reprodução

Felipe era filho de Luis Romero. um conhecido ex-jogador de futebol que era um "pai ausente", segundo disse a mãe do garoto ao jornal El País. "Não era tanto assim", refutou, contudo, a tia do menino à BBC Mundo.

Sierra e Felipe se conheceram em 2015, por meio da equipe infantil do clube Defensor de Maldonado. Sierra era o técnico da equipe em que o menino jogava.

Apesar de Sierra ter ficado por pouco tempo à frente do grupo de Felipe, eles desenvolveram uma relação próxima.

"Ele levava e trazia Felipe dos treinos, das partidas, andavam juntos para todos os lados, ele o tratava como se fosse seu filho, e Felipe o tratava como se fosse seu pai", diz Myriam Sosa, dirigente do Defensor Maldonado responsável pela divisão infantil.

Até sua morte, Sierra ainda trabalhava como técnico. Ele se apresentava como um "amigo da família", conta Sosa, e, por isso, ninguém estranhava tanta proximidade entre ele e o garoto.

"Fernando sempre foi uma pessoa tranquila, muito correto, muito educado com os pequenos, muito respeitoso. Ninguém podia pensar que algo assim aconteceria", diz Sosa.