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Djoko canta paranauê e está 'amarradão' na capoeira, diz mestre brasileiro

O brasileiro Marcelo Santos, conhecido como "Mestre Pulmão", está dando aulas de capoeira para o tenista Novak Djokovic - Reprodução/Arquivo pessoal
O brasileiro Marcelo Santos, conhecido como 'Mestre Pulmão', está dando aulas de capoeira para o tenista Novak Djokovic Imagem: Reprodução/Arquivo pessoal

Colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)

04/08/2022 04h00

O tenista Novak Djokovic, atual número seis do mundo, está amando jogar capoeira. Quem faz essa afirmação é o brasileiro Marcelo Santos, conhecido como Mestre Pulmão, que está dando aulas particulares ao sérvio na região dos Balcãs, na Europa.

Nole quer treinar capoeira, canta capoeira, joga capoeira e está amando. Está na pilha da capoeira, cantando 'paranauê paraná' por todo o canto"Marcelo Santos

Quem acompanha as redes sociais de Djokovic já pôde perceber seu interesse crescente pela capoeira. O tenista vem publicando vídeos de treinos e já até comentou em português em um post de Marcelo. "Obrigado, Mestre. Capoeira, Brasil", escreveu o sérvio.

Mas como surgiu essa relação entre o atleta de 35 anos e a capoeira? O UOL Esporte conversou com o mestre de capoeira, que contou essa história.

Primeiras aulas

O mestre brasileiro, que mora na Sérvia desde 2007, revelou que Djoko queria conhecê-lo para começar a praticar depois que teve uma conversa com conhecidos em comum.

Carioca, Marcelo está nos Balcãs há 14 anos e é o presidente do primeiro clube de cultura brasileira da região. Em 2018, ele foi condecorado com a Comenda da Ordem Barão de Rio Branco, maior honraria concedida a um cidadão brasileiro, por seu trabalho com capoeira pelo mundo. O mestre dava aulas para uma família tradicional da Sérvia, que chegou a comentar sobre ele com o tenista.

"Nole queria fazer capoeira e ficou empolgado para me conhecer. No ano passado, fui para Montenegro e descobri que ele estava lá. Fizemos uma aula, duas, três, ele ficou amarradão. Quis fazer mais", relembrou o mestre de 49 anos.

No entanto, a movimentada agenda do tenista de viagens e competições fez com que eles não conseguissem se reencontrar até julho deste ano, quando retomaram a prática. Desde que venceu seu sétimo título de Wimbledon e chegou ao seu 21º Grand Slam, o sérvio está tendo aulas regulares de capoeira com o mestre brasileiro.

Marcelo, inclusive, vai começar a dar aulas no centro que Djokovic tem em Montenegro.

Benefícios da capoeira

O mestre explicou que a capoeira, por meio de seus movimentos complexos, melhora a coordenação motora para a realização de qualquer atividade, incluindo o tênis. "Para o Nole, estou direcionando lateralidade, trabalhando em diagonal", comentou.

"No caso dele, que é tido como um tenista elástico, ensinar como se faz um macaco faz toda a diferença na hora que vai pegar uma bola", acrescentou Marcelo.

"A capoeira, com a nossa história da musicalidade, também leva para ele esse balanço. A capoeira não é estática, é movimento para quem precisa estar em movimento", complementou.

Djoko, o Rei

O tenista foi o primeiro atleta de alto nível a começar a ter aulas de capoeira com o mestre brasileiro. "Igual a Nole é até difícil de comparar, ele é o teto que eu podia chegar aqui na Sérvia. Para o povo daqui, é muita 'loucura' praticar capoeira", afirmou.

Ele aqui é tipo um Deus. A referência que os Balcãs têm dele é que ele é uma entidade. É louco vê-lo na rua, como as pessoas o tratam. Djoko não é só o ídolo, ele é do povo. É o 'Nole', como se fosse da família de todos"

Localizada no sudeste europeu, a região dos Balcãs é composta por 11 países: Albânia, Bósnia-Herzegovina, Bulgária, Croácia, Eslovênia, Grécia, Kosovo, Macedônia, Montenegro, parte da Turquia, Romênia e Sérvia.

"Falam 'Nole kralj', que é 'Nole, o Rei'. Ele anda na rua e as pessoas vão aplaudindo, é uma coisa inexplicável", completou.

O sérvio já liderou o ranking da ATP por inúmeras semanas e foi eleito o melhor tenista do mundo sete vezes em sua carreira — nos anos 2011, 12, 14, 15, 18, 20 e 21. Depois de ter ficado fora do Aberto da Austrália no início do ano, Djokovic foi derrotado por Nadal nas quartas de Roland Garros e se sagrou campeão em Wimbledon.

Agora, o tenista está aguardando a definição para saber se será liberado ou não para competir no US Open, mesmo estando com seu nome na lista. Como não tomou a vacina contra a covid-19, o sérvio não pode, em princípio, entrar nos Estados Unidos para disputar o torneio.

Na última semana, Djokovic postou um vídeo treinando pesado e afirmou que está se preparando como se pudesse disputar o último Grand Slam de 2022. Entre as atividades realizadas na quadra de tênis, estão também as aulas com Marcelo.

"A capoeira vem da escravidão, foi proibida no Brasil. Agora, ela está em um nível de um atleta de ponta, uma lenda do esporte que está aprendendo capoeira. Isso é muito importante para o nosso Brasil", comentou o mestre.

'Pulmão' na Sérvia e no Brasil

Marcelo Santos joga capoeira há 34 anos e faz parte do Grupo Senzala, que está completando 60 anos. A origem de seu apelido vem da bronquite asmática que sofria na infância. "Na rua, todo mundo me chamava de 'Pulmão'. Quando fui para a capoeira, ficou assim", disse.

Durante o tempo que passou no Brasil, ele deu aula durante muitos anos na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Filhos de famosos e personalidades da Globo foram alguns dos mais de 500 alunos que praticaram capoeira com o mestre antes dele deixar o país para morar na Sérvia.

Nos Balcãs há mais de uma década, Pulmão realizou diversos encontros e atividades no Centro de Cultura Brasileira até o fechamento da sede em Belgrado, capital da Sérvia, em março do ano passado. "Mas pretendo reabrir", ressaltou o mestre de capoeira.