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Criticada por Trump, NFL terá liga de amigo do presidente como concorrente

Donald Trump e Vinc McMahon reunidos em 2009 - Mark A. Wallenfang/Getty Images
Donald Trump e Vinc McMahon reunidos em 2009 Imagem: Mark A. Wallenfang/Getty Images

Rodrigo Trindade

Do UOL, em São Paulo

30/01/2018 04h00

Em seu primeiro ano no governo dos Estados Unidos, Donald Trump reservou fortes esforços para criticar a NFL. Irritado com os jogadores que se ajoelharam durante o hino nacional do país, uma manifestação em favor da igualdade e contra injustiças raciais, o presidente americano cobrou ações da liga, exigiu punições aos manifestantes, porém não foi ouvido.

As manifestações não foram coibidas pela NFL, que debateu o tema com a associação de jogadores e manteve as regras iguais: atletas livres para fazerem o que quiser durante o hino. No entanto, a audiência da NFL caiu, o que serviu perfeitamente para o político republicano traçar um paralelo entre a falta de patriotismo dos atletas e a queda do interesse público pelo esporte.

Embora com a popularidade em queda, a NFL não teria com o que se preocupar – e talvez ainda não tenha, mas a partir de 2020 ela terá concorrência. Principal liga do esporte no mundo, ela viveu anos sem um adversário na área, porém tudo mudou na última quinta-feira (25), com um anúncio feito por Vince McMahon, presidente do WWE, evento de luta-livre que recrutou os serviços de Ronda Rousey na última semana.

Aos 72 anos, McMahon é envolvido no partido republicano, tendo doado milhões de dólares a instituições relacionadas ao órgão político, e também tem proximidade a Trump. Não é por acaso que sua mulher, Linda McMahon, faça parte da gestão do atual presidente dos EUA – ela é a responsável pela Small Bussiness Administration, agência governamental de apoio a empreendedores e pequenos negócios.

Trump e McMahon - Bill Pugliano/Getty Images - Bill Pugliano/Getty Images
Trump se prepara para raspar a cabeça de Vince McMahon no Wrestlemania de 2007
Imagem: Bill Pugliano/Getty Images

O empresário bilionário do ramo do entretenimento revelou que a XFL irá voltar. Mas o que é ela? “Se a National Fooball League (NFL) representa a ‘No Fun League’ (liga da não-diversão), a XFL representará a ‘extra fun league’ (liga da diversão extra)”, disse McMahon em 2000, época do anúncio original da antiga “rival” da NFL do começo do milênio.

A palavra rival foi usada entre aspas, pois a XFL jamais alcançou esse status. Construída em uma parceria entre a rede de televisão NBC e o WWF, que se tornou o WWE, ela teve apenas uma temporada e depois deixou de existir.

A aposta era ser ousado e descontraído, em contraste com a seriedade da NFL, com a introdução de elementos do entretenimento do WWF (hoje WWE). Houve pontos positivos, como a introdução da sky cam, câmera aérea adotada pelas transmissões da NFL. O legado da XFL, entretanto, foi do fracasso causado por falhas técnicas e de organização.

A pré-temporada das oito franquias originais foi apressada, resultando em jogos de pouca qualidade no início da temporada – e no meio dela, regras do jogo foram alteradas. As transmissões tiveram problemas técnicos e de narração. Animadoras de torcida, tradicionais nos esportes americanos, tiveram sua sensualidade explorada ainda mais do que o normal.

Toda a diversão e ousadia prometidas acabaram com o título do Los Angeles Xtreme em 2001, único campeão da história XFL. A nova versão deixará no passado isso e a liberdade de expressão oferecida aos atletas, que podiam colocar o texto que quisessem acima de seus números de camisa.

Menos liberdade e mais dinâmica

“Esse é o futuro. Esse não é o passado. Esse é o futuro. E o futuro se mexe rápido. Isso é mais rápido, mais simples. Regras, reformuladas. Esse é seu jogo, mais seguro. Esse é o futebol renascido. Isso é videogame, fantasy, uma roleta. Faça uma troca, faça um time, se movimente, faça uma aposta. Isso é torcida acima de tudo. Isso é ação máxima. Menos paradas, mais jogo. Menos infrações. Isso começa em 2020. O futuro está próximo. Mais acesso. Mais ‘todo mundo’. Mais tudo aqui. Esse é nosso momento, nossa história para contar. Isso é a história iniciada. Isso é a XFL”, diz o anúncio de renascimento da liga.

Ao contrário da proposta anterior, a nova XFL promete organização estrutural, um produto mais dinâmico e menos voz aos atletas. A ideia é oferecer o esporte de uma forma mais “pura”.

XFL 1 - Al Bello /Allsport/Getty Images - Al Bello /Allsport/Getty Images
Apelidos eram marca da antiga XFL
Imagem: Al Bello /Allsport/Getty Images

“A nova XFL é uma oportunidade empolgante de reimaginar o esporte favorito dos Estados Unidos. Conforme nos aproximamos do pontapé inicial, estamos ansiosos para ouvir e implementar ideias inovadoras de jogadores, técnicos, especialistas em medicina, executivos e, acima de tudo, fãs de futebol (americano)”, disse McMahon em um comunicado.

O empresário quer jogos com no máximo duas horas de duração, mais de uma a menos do que acontece na NFL. McMahon diz não pensar em aproveitar o momento de baixa da maior liga de futebol americano para relançar a sua, porém está antenado no que ela faz de certo ou errado. Uma das conclusões é política e problemas sociais não devem ser discutidos em campo, enquanto torcedores querem se divertir acompanhando o esporte.

“As pessoas não querem questões sociais e políticas vindo à tona quando estão tentando se entreter. Queremos que alguém que quer se ajoelhar (durante o hino) que o faça em seu tempo pessoal. Posso dizer, ‘estas são as regras e enquanto você jogar futebol (americano) no estádio para nós, você segue estas regras’”, afirmou.

Ficha limpa também será um pré-requisito para McMahon, que afirmou que atletas com histórico policial, mesmo uma detenção por dirigir embriagado, não serão aceitos na XFL. A capacidade de impor todas essas regras estará nas mãos do empresário, que não entregará franquias da nova-velha liga a outras pessoas.

Ele será o único proprietário das oito franquias planejadas, sem cidades e estádios definidos até o momento. Os elencos terão 40 jogadores e a temporada 10 semanas de duração, porém o emprego será anual, com a proposta de atuação dos atletas nas regiões que receberão as equipes.

Los Angeles Xtreme - Scott Halleran/Allsport/Getty Images - Scott Halleran/Allsport/Getty Images
Los Angeles Xtreme, o primeiro (e único) campeão da XFL - em 2001
Imagem: Scott Halleran/Allsport/Getty Images

Com 100 milhões de dólares para investir na liga, tirados da venda de ações do WWE, McMahon planeja não depender de uma rede de televisão como foi o caso da NBC há quase 20 anos. Por ser dinheiro do próprio bolso, o empresário marcou a temporada inaugural da XFL para 2020 – os times serão formados e preparados para jogar em 2019.

“Eu queria fazer isso desde o dia que paramos a outra. A oportunidade de fazer isso sem parceiros, bancado só por mim, o que me permitirá olhar no espelho e dizer: ‘foi você que estragou isso’ ou ‘você fez disso um sucesso’”, disse McMahon em entrevista à “ESPN”.

A combinação de fatores faz a aposta de McMahon parecer uma tentativa aproveitar o momento de baixa da NFL para criar uma concorrência real - com a chancela do presidente do país. Apesar de tudo, o empresário garante que é tudo coincidência: a amizade com Trump, crítico de uma NFL em descendente, não é o motivo para a tentativa de renascimento da XFL.

"O começo dessa liga não tem nada a ver com os problemas da NFL. O que aconteceu ali é negócio deles, não vou criticá-los, mas vou aprender com os erros deles como qualquer um faria se fosse encarregado de reimaginar uma nova liga de futebol (americano)", garantiu McMahon.

Alheia a tudo isso, a NFL aguarda seu 52º campeão no próximo domingo (4), quando New England Patriots e Philadelphia Eagles se enfrentam no US Bank Stadium, em Minneapolis, no Super Bowl. A decisão da NFL será transmitida pela ESPN a partir das 21h (de Brasília).