Criticada por Trump, NFL terá liga de amigo do presidente como concorrente
Em seu primeiro ano no governo dos Estados Unidos, Donald Trump reservou fortes esforços para criticar a NFL. Irritado com os jogadores que se ajoelharam durante o hino nacional do país, uma manifestação em favor da igualdade e contra injustiças raciais, o presidente americano cobrou ações da liga, exigiu punições aos manifestantes, porém não foi ouvido.
As manifestações não foram coibidas pela NFL, que debateu o tema com a associação de jogadores e manteve as regras iguais: atletas livres para fazerem o que quiser durante o hino. No entanto, a audiência da NFL caiu, o que serviu perfeitamente para o político republicano traçar um paralelo entre a falta de patriotismo dos atletas e a queda do interesse público pelo esporte.
Embora com a popularidade em queda, a NFL não teria com o que se preocupar – e talvez ainda não tenha, mas a partir de 2020 ela terá concorrência. Principal liga do esporte no mundo, ela viveu anos sem um adversário na área, porém tudo mudou na última quinta-feira (25), com um anúncio feito por Vince McMahon, presidente do WWE, evento de luta-livre que recrutou os serviços de Ronda Rousey na última semana.
Aos 72 anos, McMahon é envolvido no partido republicano, tendo doado milhões de dólares a instituições relacionadas ao órgão político, e também tem proximidade a Trump. Não é por acaso que sua mulher, Linda McMahon, faça parte da gestão do atual presidente dos EUA – ela é a responsável pela Small Bussiness Administration, agência governamental de apoio a empreendedores e pequenos negócios.
O empresário bilionário do ramo do entretenimento revelou que a XFL irá voltar. Mas o que é ela? “Se a National Fooball League (NFL) representa a ‘No Fun League’ (liga da não-diversão), a XFL representará a ‘extra fun league’ (liga da diversão extra)”, disse McMahon em 2000, época do anúncio original da antiga “rival” da NFL do começo do milênio.
A palavra rival foi usada entre aspas, pois a XFL jamais alcançou esse status. Construída em uma parceria entre a rede de televisão NBC e o WWF, que se tornou o WWE, ela teve apenas uma temporada e depois deixou de existir.
A aposta era ser ousado e descontraído, em contraste com a seriedade da NFL, com a introdução de elementos do entretenimento do WWF (hoje WWE). Houve pontos positivos, como a introdução da sky cam, câmera aérea adotada pelas transmissões da NFL. O legado da XFL, entretanto, foi do fracasso causado por falhas técnicas e de organização.
A pré-temporada das oito franquias originais foi apressada, resultando em jogos de pouca qualidade no início da temporada – e no meio dela, regras do jogo foram alteradas. As transmissões tiveram problemas técnicos e de narração. Animadoras de torcida, tradicionais nos esportes americanos, tiveram sua sensualidade explorada ainda mais do que o normal.
Toda a diversão e ousadia prometidas acabaram com o título do Los Angeles Xtreme em 2001, único campeão da história XFL. A nova versão deixará no passado isso e a liberdade de expressão oferecida aos atletas, que podiam colocar o texto que quisessem acima de seus números de camisa.
Menos liberdade e mais dinâmica
“Esse é o futuro. Esse não é o passado. Esse é o futuro. E o futuro se mexe rápido. Isso é mais rápido, mais simples. Regras, reformuladas. Esse é seu jogo, mais seguro. Esse é o futebol renascido. Isso é videogame, fantasy, uma roleta. Faça uma troca, faça um time, se movimente, faça uma aposta. Isso é torcida acima de tudo. Isso é ação máxima. Menos paradas, mais jogo. Menos infrações. Isso começa em 2020. O futuro está próximo. Mais acesso. Mais ‘todo mundo’. Mais tudo aqui. Esse é nosso momento, nossa história para contar. Isso é a história iniciada. Isso é a XFL”, diz o anúncio de renascimento da liga.
Ao contrário da proposta anterior, a nova XFL promete organização estrutural, um produto mais dinâmico e menos voz aos atletas. A ideia é oferecer o esporte de uma forma mais “pura”.
“A nova XFL é uma oportunidade empolgante de reimaginar o esporte favorito dos Estados Unidos. Conforme nos aproximamos do pontapé inicial, estamos ansiosos para ouvir e implementar ideias inovadoras de jogadores, técnicos, especialistas em medicina, executivos e, acima de tudo, fãs de futebol (americano)”, disse McMahon em um comunicado.
O empresário quer jogos com no máximo duas horas de duração, mais de uma a menos do que acontece na NFL. McMahon diz não pensar em aproveitar o momento de baixa da maior liga de futebol americano para relançar a sua, porém está antenado no que ela faz de certo ou errado. Uma das conclusões é política e problemas sociais não devem ser discutidos em campo, enquanto torcedores querem se divertir acompanhando o esporte.
“As pessoas não querem questões sociais e políticas vindo à tona quando estão tentando se entreter. Queremos que alguém que quer se ajoelhar (durante o hino) que o faça em seu tempo pessoal. Posso dizer, ‘estas são as regras e enquanto você jogar futebol (americano) no estádio para nós, você segue estas regras’”, afirmou.
Ficha limpa também será um pré-requisito para McMahon, que afirmou que atletas com histórico policial, mesmo uma detenção por dirigir embriagado, não serão aceitos na XFL. A capacidade de impor todas essas regras estará nas mãos do empresário, que não entregará franquias da nova-velha liga a outras pessoas.
Ele será o único proprietário das oito franquias planejadas, sem cidades e estádios definidos até o momento. Os elencos terão 40 jogadores e a temporada 10 semanas de duração, porém o emprego será anual, com a proposta de atuação dos atletas nas regiões que receberão as equipes.
Com 100 milhões de dólares para investir na liga, tirados da venda de ações do WWE, McMahon planeja não depender de uma rede de televisão como foi o caso da NBC há quase 20 anos. Por ser dinheiro do próprio bolso, o empresário marcou a temporada inaugural da XFL para 2020 – os times serão formados e preparados para jogar em 2019.
“Eu queria fazer isso desde o dia que paramos a outra. A oportunidade de fazer isso sem parceiros, bancado só por mim, o que me permitirá olhar no espelho e dizer: ‘foi você que estragou isso’ ou ‘você fez disso um sucesso’”, disse McMahon em entrevista à “ESPN”.
A combinação de fatores faz a aposta de McMahon parecer uma tentativa aproveitar o momento de baixa da NFL para criar uma concorrência real - com a chancela do presidente do país. Apesar de tudo, o empresário garante que é tudo coincidência: a amizade com Trump, crítico de uma NFL em descendente, não é o motivo para a tentativa de renascimento da XFL.
"O começo dessa liga não tem nada a ver com os problemas da NFL. O que aconteceu ali é negócio deles, não vou criticá-los, mas vou aprender com os erros deles como qualquer um faria se fosse encarregado de reimaginar uma nova liga de futebol (americano)", garantiu McMahon.
Alheia a tudo isso, a NFL aguarda seu 52º campeão no próximo domingo (4), quando New England Patriots e Philadelphia Eagles se enfrentam no US Bank Stadium, em Minneapolis, no Super Bowl. A decisão da NFL será transmitida pela ESPN a partir das 21h (de Brasília).
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