Há concorrência?

Palmeiras destrói o SPFC, é campeão paulista e aquece debate sobre qual a era mais vencedora do clube

Diego Iwata Lima e Eder Traskini Do UOL, em São Paulo e Santos Ettore Chiereguini/AGIF

Nos registros que futuramente vão falar sobre este Palmeiras, faltava uma virada épica. Mas o time de Abel Ferreira gosta de fazer história e romper escritas.

A conquista do Campeonato Paulista neste domingo (3), com uma impiedosa goleada por 4 a 0, depois de perder na ida para o São Paulo por 3 a 1, coloca mais um carimbo na equipe que, com o português, torna mais e mais vencedora uma era iniciada há sete anos.

Por questões político-palmeirenses, muitos torcedores que aceitam o termo "Era Parmalat" renegam a existência de uma "Era Crefisa". Política à parte, a palavra "era" faz alusão unicamente à noção de tempo. E sete anos e três meses já se passaram desde que as empresas de Leila Pereira começaram a estampar suas marcas no uniforme do time.

Com o Paulistão de 2022, o Palmeiras soma agora nove títulos neste intervalo. Nos nove anos em que a Parmalat esteve na Academia, foram 11, as conquistas. Hoje, os dois períodos estão empatados em médias de títulos por ano. Agora, esta fase alviverde já tem duas Libertadores na conta, o que pode muito bem ser um fator de desequilíbrio (veja abaixo).

Por outro lado, a Era Parmalat tirou o Palmeiras da fila e devolveu aos torcedores o prazer de ver esquadrões vestindo suas cores, com os times do bicampeonato brasileiro em 1993 e 1994 e o campeão paulista dos 100 gols em 1996.

Qual era será maior? No fim das contas, a verdade é que os troféus vão todos para o mesmo lugar. Feliz é o palmeirense que tem dois períodos tão gloriosos para comparar e chamar de seus.

Ettore Chiereguini/AGIF

Títulos

  • Era Parmalat (11)

    Paulista de 1993, 1994 e 1996; Brasileiro de 1993 e 1994; Copa do Brasil de 1998; Libertadores de 1999; Rio-São Paulo 1993 e 2000; Copa Mercosul de 1998; Copa dos Campeões de 2000.

  • Era Crefisa (9)

    Paulista de 2020 e 2022; Copa do Brasil de 2015 e 2020; Brasileiro de 2016 e 2018; Libertadores de 2020 e 2021; Recopa Sul-Americana de 2022; E contando.

Surpreendentemente, nossa equipe se mostrou muito tranquila, sabendo que havia jogado mal para caramba. Mas também sabia de nossa força em casa, e o que fizemos hoje foi insano. É sem dúvida a geração mais vencedora do Palmeiras."

Gustavo Scarpa, vibrante antes da entrega da taça no gramado do Allianz

Palmeiras 4 x 0 São Paulo. O atropelo rumo ao título

Cesar Greco/Palmeiras

R$ 422 milhões à portuguesa

O Paulistão foi a quinta taça levantada pelo Palmeiras de Abel Ferreira, no clube desde outubro de 2020. Em menos de dois anos de trabalho, o português já rendeu ao Verdão R$ 422 milhões em premiações dos torneios que disputou. O título paulista rendeu R$ 5 milhões.

A conta já leva em consideração as atuais participações na fase de grupos da Copa Libertadores e na terceira fase da Copa do Brasil. O principal faturamento, como não poderia ser diferente, se deve à principal competição continental: os dois títulos da Libertadores renderam, somados, R$ 230 milhões aos cofres palmeirenses.

Os outros títulos conquistados por Abel, a Copa do Brasil 2020 e a Recopa Sul-Americana 2021, somaram R$ 75 milhões. O Brasileirão rendeu quase R$ 53 milhões pelo sétimo lugar em 2020 e terceiro lugar em 2021, enquanto as duas participações no Mundial de Clubes chegaram a R$ 33,4 milhões.

Abel Ferreira recentemente renovou seu contrato com o Verdão até o fim de 2024 e irá receber R$ 34 milhões por temporada, uma média de quase R$ 3 milhões mensais. Uma média das premiações do Palmeiras desde que o português assumiu o comando, porém, ultrapassa os R$ 23 milhões por mês.

Soberania verde

Em 2014, o centenário do Palmeiras por muito pouco não acabou em um terceiro rebaixamento. Depois do empate em 1 a 1 com o Athletico-PR, os palmeirenses que pisavam pela segunda vez no Allianz Parque tiveram que esperar o fim de Vitoria 0 x 1 Santos para respirar aliviados.

O ano de 2015 marca a virada na recente história alviverde. O Allianz Parque, o patrocínio da Crefisa, a contratação de Alexandre Mattos e a adoção de uma mentalidade mais audaciosa transformam a história do clube.

Naquela temporada, o Alviverde conquista a Copa do Brasil, para coroar a retomada. E, desde então, apenas em 2017 e 2019, o Palmeiras fica sem ganhar títulos: foram duas Copas do Brasil (2015 e 2020), dois Brasileiros (2016 e 2018), duas Libertadores (2020 e 2021), o Campeonato Paulista de 2020 e a Recopa Sul-Americana de 2022. Galeria à qual o Paulista de 2022 agora se soma, deixando apenas a Recopa sem par na estante da Sala de Troféus.

Além das prateleiras, os títulos enchem os cofres do clube, em movimentos que se retroalimentam e impulsionam o Palmeiras a se distanciar cada vez mais de seus rivais estaduais —de modo sustentável, ainda mais com a ênfase da diretoria em aproveitar os talentos da base, diminuindo o ritmo na gastança por reforços.

É uma tendência que não dá sinais aparentes de esgotamento tão cedo, mas que só aumenta. Enquanto, aos rivais, resta o consolo de compor canções satíricas que miram o passado, Palmeiras se torna cada vez mais sólido no presente, partindo mais e mais vitorioso para o futuro.

LECO VIANA/ESTADÃO CONTEÚDO LECO VIANA/ESTADÃO CONTEÚDO

Um porto de segurança e reafirmação

A obsessão é a Libertadores. O objetivo máximo é um Mundial para fazer companhia à Copa Rio de 1951. Mas nos seus 108 anos incompletos, o Palmeiras sempre teve no Campeonato Paulista um porto de segurança e reafirmação.

Rentável e mais forte tecnicamente que qualquer outro Estadual do País, ainda que não tenha o mesmo prestígio de outrora, o Paulista sempre teve representatividade marcante na história do clube.

A começar pelo de 1920, primeiro título da então Società Sportiva Palestra Italia, que anunciava ao Brasil um novo time vencedor. Em 1942, o Estadual foi o legitimador de um time rebatizado dias antes como Sociedade Esportiva Palmeiras.

Avançando no tempo, o Paulista de 1976 foi, por 16 anos, a última glória de um clube que perdeu o caminho das conquistas. Até reencontrá-lo no Paulista de 1993, naquele que uma geração ainda considera o título mais importante da coleção alviverde.

Houve ainda o espantoso Palmeiras do Paulista de 1996, quando uma seleção brasileira vestiu verde para fazer 100 gols no torneio estadual. O de 2008, que tirou o Palmeiras de um jejum que já se aproximava de dois dígitos outra vez. E o de 2020, um facho de luz no meio da incerteza de um pandemia, que pavimentou o trabalho que, na mesma temporada, conquistaria a América e a Copa do Brasil.

O Paulista de 2022 talvez reluza menos que seus pares citados acima, ou que a recente conquista da Libertadores de 2021. Mas isso, a história futura é que vai dizer. Hoje, não há globo terrestre mais valioso que o Estado de São Paulo, do qual o Palmeiras mais uma vez é dono.

Ettore Chiereguini/AGIF Ettore Chiereguini/AGIF

O que vem por aí?

Os rivais que se cuidem, e os palmeirenses que fortaleçam os braços porque o Verdão não dá indícios de que irá parar de levantar taças tão cedo. Com a principal questão da temporada, a renovação de contrato de Abel Ferreira, resolvida e uma crise política controlada, o Palmeiras tem a tranquilidade que precisa para trabalhar no restante de 2022.

A próxima missão pela paz definitiva entre diretoria, departamento de futebol e torcedor é a contratação de um camisa 9 que chegue para ser titular. Abel Ferreira segue usando Rony na função e continua pedindo um jogador de ofício — o que na visão dele será importante em determinadas partidas.

Depois de vender Patrick de Paula ao Botafogo, o Verdão tem outro volante que atrai interessados. Danilo é o mais assediado do elenco por times europeus e pode deixar o clube caso uma proposta atinja um valor que o Palmeiras considere justo. O clube não tem interesse de vender o jogador, mas não irá recusar uma proposta compatível com o que pensa ser o valor do atleta, na casa dos 20 milhões de euros (R$ 105 milhões)

A não ser em caso de novas perdas, o clube não se movimenta no mercado da bola por outros reforços para Abel Ferreira. Quem deve começar a uma integração gradual ao elenco profissional é o jovem Endrick, que completa 16 anos em julho. Apesar da enorme expectativa externa, o técnico português e o alviverde não compartilham da mesma pressa para ver o garoto em campo.

Ettore Chiereguini/AGIF Ettore Chiereguini/AGIF

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