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Correndo por tubaína: Piu vai à final em 2º e fica perto de pagar promessa

Alison dos Santos é finalista dos 400m com barreiras em Tóquio - Lucy Nicholson/Reuters
Alison dos Santos é finalista dos 400m com barreiras em Tóquio Imagem: Lucy Nicholson/Reuters

Amanda Romanelli

Colaboração para o UOL, em São Paulo

01/08/2021 10h53

Alison dos Santos, o Piu, disputa no dia 3 de agosto a final dos 400 metros com barreiras das Olimpíadas de Tóquio com um objetivo: cumprir a promessa que fez em parceria com o seu melhor amigo, o também barreirista Wesley Victor, conhecido como Biscoito. Desde o início de 2020, ambos estabeleceram que deixariam de tomar refrigerantes até que os objetivos combinados fossem cumpridos. Além de correr atrás de pagar sua promessa, Alison também corre para poder tomar tubaína, sua bebida favorita.

"Em 18 de fevereiro de 2020, falando do que estávamos esperando de resultados, eu e o Biscoito fechamos uma promessa: vamos ficar sem beber refrigerante até nossos feitos acontecerem. Cada um tem a sua parte: ele já cumpriu a parte dele, agora falta eu cumprir a minha. Estava só esperando os Jogos Olímpicos chegarem, porque estou com muita vontade de tomar uma tubaína. É o melhor refrigerante do mundo!"

A tubaína é um refrigerante típico do interior de São Paulo, onde foi criado. É feito a partir do fruto do guaraná, com extrato de tutti-fruti, embora haja outras variações de sabor — invencionices que o barrerista rejeita, optando por tomar sempre o original.

"Na minha cidade, tem uma tubaína que o sabor maçã é sucesso. Aí como vende muito, inventaram outros sabores: laranja, uva, e cola. Essa de cola... Que negócio ruim! Era até mais barata, de tão ruim que era. Se alguém na cidade marcar uma resenha e alguém levar essa de cola, nem entra!".

Dez dias depois de estabelecida a promessa, Alison viajou para um camping de treinamento nos Estados Unidos. Estava em Chula Vista, na Califórnia, quando foi decretada a pandemia da covid-19. Só voltou para o Brasil no fim de março, e seguiu direto para a casa da família, em São Joaquim da Barra, no interior paulista - as pistas de atletismo estavam todas fechadas, e o barreirista ficou dois meses na cidade natal.

"Olha, se eu não tivesse contado da promessa para os moleques que moram comigo...", disse Alison, referindo-se aos colegas do seu clube, o Pinheiros, com quem divide moradia na capital paulista. "Quando eu voltei, eles me disseram que iam comprar um fardo de tubaína e deixar na minha cama de presente. Para você ver o tanto que eu gosto disso, e o quanto eu estou sofrendo", conta, rindo, para lembrar que até agora, só ingere "água ou suco".

Wesley Victor, o Biscoito, e Alison dos Santos - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Wesley Victor, o Biscoito, e Alison dos Santos
Imagem: Arquivo pessoal

Para o azar de Wesley, ou melhor, Biscoito, ele só pode voltar a tomar refrigerante depois que Alison cumprir sua parte da promessa, embora já tenha alcançado seu objetivo. Como a parte de Alison está relacionada aos Jogos Olímpicos, e a competição foi adiada por causa da pandemia, restou ao amigo ter muita resiliência.

"Tubaína é o nosso refrigerante predileto, mas abrimos mão de todos até a promessa ser cumprida pelos dois. Mas também, quando acontecer... vamos comprar muitas caixas! Porque o que está por vir é coisa boa."

Alison disse que apenas uma pessoa, além de Biscoito, sabe o que prometeu. Mas essa pessoa não é a treinadora Ana Fidélis — pelo menos, ela garante. Ana foi a descobridora de Alison, e também de Wesley, no projeto social em que ambos foram revelados em São Joaquim da Barra. Hoje, é amiga e mentora dos dois jovens atletas.

"O Alison sempre foi muito de querer vencer. Ele faz essas coisas para se desafiar. A promessa do refrigerante parece uma coisa boba, mas não é. Eles não tomam de jeito nenhum. Mas isso é coisa dos dois. Eu nem sei direito o que é a promessa: a do Biscoito eu sei, mas do Piu eu nunca perguntei."

Como promessa é promessa, esta repórter não foi capaz de apurar o que Piu pretende alcançar por meio da privação do refrigerante. Certo é que a sonhada tubaína não vai ser sorvida tão cedo. Após as Olimpíadas, o brasileiro deve continuar fora do Brasil para continuar competindo no circuito mundial do atletismo. O gostinho doce de guaraná com tutti-fruti só deve ser apreciado em meados de setembro.