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Japão usa filho de decasséguis brasileiros para ficar perto de classificação pela 1ª vez na Copa do Mundo de futsal

Rafael Henmi comemora gol em amistoso contra o Brasil, antes do Mundial - Masashi Hara/Getty Images
Rafael Henmi comemora gol em amistoso contra o Brasil, antes do Mundial Imagem: Masashi Hara/Getty Images

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

07/11/2012 09h48

Nesta quarta-feira, a seleção do Japão ficou perto de passar pela fase de grupos da Copa do Mundo de futsal pela primeira vez na história. Os japoneses venceram a seleção da Líbia por 4 a 2. Terminaram o Grupo C atrás de Brasil e Portugal mas, com quatro pontos e atrás de Portugal apenas no saldo de gols, os campeões asiáticos devem abocanhar uma das quatro vagas dadas aos terceiros colocados na segunda fase.

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  • Reuters

    Enquanto o Japão vencia a Libia, em outro ginásio Portugal perdeu, mas acabou à frente dos asiáticos na chave. O Brasil, que venceu o time de Rafael Henmi na estreia por 5 a 1, fez sua partida mais difícil até agora na Copa do Mundo da Tailândia. Após sofrer para passar pela defesa portuguesa, a equipe comandada pelo técnico Marcos Sorato bateu os portugueses por 3 a 1 e fechou a primeira fase da competição com 100% de aproveitamento. Portugal e Japão terminaram empatados com quatro pontos, mas os europeus levaram a melhor no saldo de gols: 11 gols feitos e 9 sofridos para Portugal contra 10 gols a favor e 11 contra do Japão.

Um dos principais motivos para essa classificação fala português – e não é o veterano Kazu, que passou pelo futebol de campo verde-amarelo e defendeu Santos e Curitiba na década de 80. A arma japonesa é o jovem Rafael Henmi, de apenas 20 anos, que está disputando sua primeira Copa do Mundo pelo país.

Apesar de ter nascido no Japão, viveu dos dois aos 15 anos em Curitiba, no Paraná, terra natal de seus pais, Eduardo e Eliane. Descendentes de japoneses, os dois foram para a Terra do Sol Nascente na década de 80, para trabalhar como decasséguis. Voltaram com Rafael ainda bebê na bagagem.

No Brasil, o garoto descobriu o futebol como a maioria dos brasileiros: em uma escolinha. “Comecei a jogar futsal com sete anos de idade. Logo depois já fui chamado para fazer parte das categorias de base do Coritiba. Tentei jogar futebol de campo e, por um tempo, me dividia entre as duas modalidades, mas acabei optando pelo futsal. Me divertia muito mais”, lembra Rafael.

Há cinco anos, a família decidiu, mais uma vez, voltar para o Japão. Rafael, graças à preparação que recebeu no Coritiba, logo se destacou nas quadras japonesas e chamou atenção do Nagoya Oceans, campeão do Campeonato Asiático de Clubes em 2011. Contratado pelo clube, porém, ele se deparou com um problema inusitado.

Apesar de ter nascido no Japão, Rafael não era considerado japonês. Era brasileiro. A nacionalização só graças a uma regra do campeonato local. “Eles permitem apenas quatro jogadores estrangeiros por time. Quando chegou a hora de subir para o time principal, propuseram que eu mudasse de nacionalidade, para não ocupar uma dessas vagas. Com isso, acabei tirando minha nacionalidade japonesa e logo fui convocado para fazer parte da seleção”, lembra o jogador.

A mudança não poderia ter sido melhor. Para Rafael e para os japoneses. No ano passado, ele ajudou a seleção a conquistar o título da Copa Asiática de seleções. E ainda foi eleito o melhor jogador do torneio. Na Copa do Mundo deste ano, marcou um dos gols mais importantes da equipe até agora: contra Portugal, o time estava perdendo por 5 a 1 e conseguiu reagir. O gol do empate em 5 a 5 foi justamente de Rafael, em um chute de longe.

RAFAEL HENMI E KAZU: CONEXÃO BRASIL E JAPÃO

A trajetória do brasileiro-japonês, aliás, se parece muito com a de um japonês-brasileiro. O veterano Kazu, de 45 anos, é o jogador mais famoso do time japonês no Mundial da Tailândia e fez o caminho inverso de Rafael. Aos 15 anos, deixou o Japão e veio para o Brasil. Começou como Santos e terminou sua passagem por campos brasileiros no Coritiba, o mesmo que Rafael defendeu.

“A presença do Kazu está sendo muito importante para o futsal japonês. O interesse do público quadruplicou desde que ele chegou às quadras. No Japão, ele é visto como rei. É o jogador de futebol mais famoso do país. Então, todos os jornais, todas as TVs, todas as revistas resolveram acompanhar a seleção de futsal. Para o crescimento da modalidade no país está sendo muito importante”, conta Rafael. “No convívio com os outros jogadores, ele é uma pessoa super humilde. Respeita todo mundo, é muito esforçado e faz tudo como um jogador comum. Mas, quando o procuramos, ele faz de tudo para dividir sua experiência, principalmente com os mais novos, como eu”.