Atleta que busca ouro paralímpico fala sobre adaptação no Mês da Conscientização da Amputação

O paratleta Raysson Ferreira, da Seleção Brasileira de Vôlei Sentado, está há poucos meses de um dos seus principais objetivos do ano: disputar as Paralimpíadas de Paris, que começam em agosto de 2024. Até chegar a essa oportunidade foram sete anos, desde que descobriu um câncer na perna esquerda e precisou retirar o membro. A amputação é uma realidade não só para Raysson.

"É importante as pessoas saberem melhor aquilo que elas passam, para que possam cuidar, se prevenir, ou até mesmo procurar profissional especialista para fazer uma amputação melhor, que garanta mais qualidade de vida, além de ter também orientação do que o mercado pode oferecer em questão de equipamentos, como próteses. Toda a população precisa ter consciência do autocuidado também para buscar a prevenção", comentou.

O atleta faz parte de um grupo de cerca de 280 mil brasileiros que passaram por procedimentos semelhantes entre janeiro de 2012 e maio de 2023. Neste mês de conscientização sobre a amputação, o paratleta disse que o conhecimento sobre as doenças e a necessidade de cirurgias é fundamental para esclarecer os pacientes.

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O câncer que Raysson enfrentou, quando tinha somente 17 anos, é um osteossarcoma, uma doença agressiva que atinge os ossos principalmente nas crianças e adolescentes. Na época estudante do Ensino Médio, o paratleta desconfiou de algo errado com sua perna esquerda quando começou a sentir dores ininterruptas. "Eu procurei um médico e a suspeita era de uma contusão muscular. Em torno de seis meses permaneci fazendo exames, e depois suspeitaram de trombose. Mas somente por um raio-X os médicos conseguiram descobrir a doença. Cheguei a iniciar o tratamento com quimioterapia, mas foi necessário amputar a perna", pontuou.

Próteses e tratamento contínuo

Após a amputação, Raysson precisou usar muletas, mas conseguiu se adaptar e utilizar próteses. Atualmente, ele frequenta em Goiânia (GO) uma clínica da Ottobock, empresa alemã que fábrica equipamentos com tecnologia assistiva para pessoas com deficiência. No local, o paratleta busca atendimento especializado em diferentes áreas, como na parte técnica para ajustes na prótese, ou para algum acompanhamento fisioterápico.

"Vou pelo menos uma vez por mês, mas em alguns casos vejo necessidade de ir a cada duas semanas para olhar prótese ou fazer manutenção. É importante frequentar um tratamento contínuo e se sentir em casa, acolhido, ter mais qualidade de vida e um foco mais pessoal", contou Raysson.

Após a amputação do membro, a adaptação de um paciente ao uso de uma prótese tem, basicamente, três passos: primeiro a fase pré-protética, na qual é necessário preparar o membro residual (a parte do corpo que, após a cirurgia, estará ligada ao equipamento) para receber o componente; depois o paciente recebe um encaixe provisório, quando a pessoa é monitorada quanto ao conforto com a prótese, treinamento da marcha e suas atividades de vida diárias; e na sequência, após a adaptação e com o membro residual estabilizado, é confeccionado o encaixe definitivo.

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A coordenadora de fisioterapia da empresa na América Latina, Maria Laura Pucciarelli, destacou a necessidade de um acompanhamento multidisciplinar para pacientes amputados, seja no processo inicial do uso das tecnologias ou para ajustes e mudanças nesses equipamentos. As pessoas amputadas, segundo a especialista, podem possuir outros comprometimentos que precisam de atenção, além do uso dos componentes. Entre os profissionais envolvidos estão médicos, fisiatras, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e psicólogos.

"A visão global e o alcance de todas as ferramentas disponíveis para o tratamento de uma pessoa com deficiência é o que garante a maior autonomia e independência possível. Essa é a importância de uma abordagem multiprofissional para as pessoas com deficiência", esclareceu.

Expectativa para Paris

Após ser amputado, ainda na escola, Raysson queria praticar esportes nas aulas de educação física, mesmo com as limitações. Em meio a sua insistência, uma professora indicou que ele fosse treinar em algum paradesporto. Com isso, em 2018, ele iniciou seus treinos no vôlei sentado e atualmente integra a seleção brasileira que vai à Paris. Antes das Paralimpíadas, Raysson já teve conquistas. Em 2023, foi campeão panamericano da modalidade no Canadá.

Antes das competições na França, ele ainda tem um torneio que será disputado na Holanda. Depois, o foco é total para a busca do primeiro lugar no pódio em País. "É claro que o ouro é a expectativa. Nós já estamos há muito tempo beliscando o pódio e esse ano estamos firmes e confiantes na conquista desta medalha. Sabemos que o Irã é uma das esquipes mais fortes, mas temos confiança que podemos vencer", concluiu.

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