Dado Cavalcanti: do sonho de seleção com Diniz à realidade na Portuguesa

É muito comum treinadores e jogadores de futebol usarem o termo "mudar a chave" para dizer que, momentaneamente, estão deixando de pensar em um campeonato para se dedicar exclusivamente a outro. Deixar, por exemplo, a Copa do Brasil de lado para pensar no Brasileiro.

No caso de Dado Cavalcanti, pernambucano de 42 anos, não seria exagero dizer que ele precisa "mudar a chavinha". Afinal, acumula o cargo de auxiliar de Fernando Diniz na seleção brasileira, almejado por muitos, quase todos, com o de treinador da Portuguesa, um clube de tradição, mas que vive uma dura realidade já há alguns anos, sem calendário nacional. Um cargo que não seduz muita gente.

"Eu sinto orgulho dos meus dois trabalhos e me dedico muito a eles", afirma Dado ao UOL.

Como você conheceu o Fernando Diniz?
Eu conhecia de jogos, de um enfrentar o outro, e nunca escondi a admiração que tenho por ele. Depois, fizemos juntos o curso de licença Pro na CBF e houve uma aproximação maior. Talvez eu tenha feito alguma observação nas aulas e impressionado o Diniz.

E como veio o convite?
Não foi de uma vez. Foi um convite construído. Um dia, ele me ligou e me surpreendi pela ligação. E também por ter o nome dele armazenado no celular. Nem me lembrava de ter o número dele. Como ele não usa muito o WhatsApp, se eu não atendesse nem sei se haveria outro contato.

E o que ele falou?
Perguntou o que eu estava fazendo, quais minhas perspectivas atuais e também pediu que eu falasse sobre o método dele trabalhar. Ele se surpreendeu com o grau de detalhamento com que eu falei sobre o estilo dele e o trabalho feito no Fluminense. No final, disse que no organograma de trabalho na CBF haveria espaço para mais um auxiliar e que estava pensando em mim. Voltou a ligar duas semanas depois.

Se o primeiro telefonema foi uma surpresa, o segundo deve ter sido recebido com muita ansiedade...
Justamente, estava mesmo ansioso. Será que agradou? Será que contribuí com alguma coisa? Ele falou que nada estava definido ainda e fez mais perguntas.

A primeira foi surpresa, a segunda ansiedade e a terceira? Desespero
Não, quando ligou a terceira vez eu já sabia que tudo tinha dado certo. Ele disse que não era um convite, que era uma convocação.

E como foram os primeiros treinos?
Muito bons porque houve um entendimento maior do método de trabalho. Pedagogicamente, no campo, é muito diferente do que se vê na televisão.

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Durante os jogos, você fica no campo?
Não, eu fico em cima, na cabine, com um radinho. Entro em contato com o Eduardo Barros e o Wagner Bertelli, também auxiliares, que estão no banco. É um trabalho de via dupla, tanto eu posso ligar, tenho a liberdade, como eles podem me chamar para ver como estão as coisas. Temos o jogo todo mapeado, então é questão de fazer algum ajuste.

Tudo bem, mas com tanto trabalho, deve ser preocupante ver que o time levou quatro gols de cabeça nos três últimos jogos.
Olha, é preciso cuidado para não colocar tudo no mesmo pacote. Foram gols de cabeça, mas foram diferentes. Contra o Uruguai, o Darwin Núñez precisou agachar para cabecear. Contra a Colômbia, foram dois gols em cruzamentos da intermediária. Então, corrigimos essa falha e no jogo seguinte, contra a Argentina, eles não tiveram uma chance assim, mas fizeram de cabeça em bola parada.

Dado Cavalcanti durante treino da Portuguesa
Dado Cavalcanti durante treino da Portuguesa Imagem: Assessoria Portuguesa

E como é virar a chave da seleção para a Portuguesa?
Não foi difícil. Já tive um trabalho inicial com a molecada do sub-20, lancei novas ideias e, quando tive oportunidade de assumir interinamente o time principal, consegui implementar algumas mudanças. Agora é continuar trabalhando e buscando os resultados positivos.

Quantos jogadores serão contratados?
Já chegou o Victor Andrade e mais oito ou dez jogadores virão, para todas as posições, exceto goleiro, porque já estamos bem servidos com o Thomazela e o Paschoal.

Como é o Victor Andrade?
Ele é um jogador de beirada, com um alto índice de sucesso em dribles. Ele se destacou no ano passado na Série B pelo Vila Nova, mas teve uma lesão nos ligamentos e precisou parar. Ele foi para o Juventude, mas não estava indo muito bem. Agora, com dois meses de recuperação e uma boa pré-temporada, tenho certeza de que ele vai jogar muito bem.

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Qual é o planejamento da Portuguesa?
Queremos nos classificar. O Campeonato Paulista tem uma característica especial em que você não joga contra os adversários do seu grupo, então não vamos enfrentar o Santos, Ituano e Santo André. Não há jogos de seis pontos. No ano passado, o Ituano estava ameaçado de rebaixamento e conseguiu se classificar, eliminando o Corinthians depois. A luta é até o final e vamos com o objetivo de classificação.

E qual será o estilo da Portuguesa?
Bom, eu tenho algumas ideias gerais inegociáveis. Meus times sempre são corajosos. Claro, você não pode jogar da mesma forma contra o Palmeiras no Allianz Parque do que contra um time menor no Canindé. O estilo de jogo pode mudar, mas a coragem é a mesma.

Coragem está relacionada com intensidade?
Sim, seremos sempre um time agressivo, o que não significa necessariamente ter a posse de bola. Resumindo, quem joga bem está mais perto da vitória. Nós vamos jogar bem.

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