Ex-Atlético ganha vaquinha após descobrir câncer: 'Me sinto mais amado'

O ex-meia Cairo Lima, tricampeão mineiro pelo Atlético na década de 1990, ganhou uma vaquinha para arcar com custos do tratamento após ter sido diagnosticado com câncer no pulmão, já com metástase em outros órgãos. Apesar de todas as dificuldades que vem enfrentando, ele afirmou ao UOL que se sente grato e "mais amado" pelas pessoas que estão contribuindo com sua situação.

Diagnóstico e vaquinha

Cairo recebeu o diagnóstico no final de agosto. Ele recebeu a notícia de que estava com um câncer primário no pulmão, com metástase na coluna, no quadril, e suspeita de também no cérebro. Exames mais detalhados verificaram a existência de três nódulos dentro de sua cabeça.

A doença fez com que o ex-jogador ficasse acamado. O brasileiro, que mora em Portugal com a família, está limitado em sua casa a uma cama de hospital alugada e só se levanta para ir ao banheiro — e ainda assim com o auxílio de um colete para proteção da coluna. O tratamento, embora prevê chance de cura, não estima um tempo de duração.

Estou em uma cama de hospital que tivemos que alugar, só posso levantar da cama fazendo uso de um colete na região lombar da coluna para proteção para poder ir ao banheiro. Banho tomo na cama, estou totalmente dependente, há quase dois meses em uma cama com essas limitações. Cairo Lima

Ele ficou impedido de trabalhar, e a esposa ainda precisou largar o emprego para cuidar dele. O mineiro de 47 anos acumulava as funções de treinador e de coordenador técnico das categorias de base do Grupo Desportivo de Mangualde, enquanto a companheira de 25 anos atuava em uma multinacional.

Diante da condição financeira delicada, a ideia da vaquinha surgiu da irmã. Patrícia compartilhou a situação na internet e deu início à arrecadação virtual, que tem intuito de auxiliar no sustento diário e complementar o subsídio doença que ele recebe em Portugal — mas que é insuficiente para bancar tudo.

Se sentindo mais amado

Cairo contou que, embora esteja no pior momento de sua vida, atualmente está se sentindo mais amado pelas pessoas. Mesmo não sendo religioso, ele se apega ao Evangelho e cita: "Creio que, pelo Evangelho, Deus escolheu ser amado pela figura do próximo. E tenho sido muito amado pelos próximos".

O ex-jogador se surpreendeu com a quantidade de doadores que já se mobilizaram e disse estar grato. Natural de Uberlândia, ele reconhece amigos de infância e ex-companheiros da época em que jogou futebol entre os doadores, mas destacou os desconhecidos que o estão ajudando.

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No pior momento da minha vida, na pior notícia, é quando me sinto mais amado pelas pessoas. Creio que, pelo Evangelho, Deus escolheu ser amado pela figura do próximo. Tenho sido muito amado pelos próximos e descoberto que muitas pessoas, amigos de infância, do futebol pelos vários lugares que passei e até desconhecidos que se mobilizam e que doaram através dessa vaquinha. Vejo o amor de Deus por mim através disso, me sinto muito grato.

A vaquinha já está quase na metade. Até a publicação deste texto, mais de R$ 97,6 mil dos R$ 200 mil como meta já haviam sido arrecadados, com 893 apoiadores. Caso haja algum excedente no valor, a quantia será doada a uma instituição de tratamento contra câncer. A vaquinha está disponível neste link.

Cairo também recebeu ajuda do Atlético-MG. O clube, por meio do Instituto Galo, vendeu 32 camisas comemorativas dos 400 gols de Hulk na carreira, por R$ 990 cada unidade, e destinou o valor ao tratamento do ex-jogador.

O que mais Cairo disse

Início da vaquinha: "Ideia da vaquinha foi da minha irmã, porque ela viu casos lá na nossa cidade, de Uberlândia, que aconteceu de algumas pessoas adoecerem e fizeram para arrecadar. Pelo fato de eu não ter uma renda suficiente para me manter, ela teve essa ideia, perguntou o que eu achava, e é hora de a gente não ter também nenhum tipo de orgulho porque estou precisando. Sempre trabalhei na minha vida, desde os 14, mas agora é uma impossibilidade. Não tem como e não tenho previsão, então preciso realmente de ajuda."

Tratamento sem previsão: "Tratamento proposto também é um tratamento longo, que tem, claro, uma possibilidade de cura, mas não há previsão nenhuma de tempo de tratamento ou liberação para eu poder trabalhar".

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Impossibilidade de trabalho: "Como foi descoberto um câncer no pulmão com metástases no cérebro, coluna e quadril, estou impedido de trabalhar. Minha esposa também precisou sair do trabalho para cuidar de mim, porque estou, apesar de em casa, com muita limitação".

Condição pela doença: "Estou em uma cama de hospital que tivemos que alugar, só posso levantar da cama fazendo uso de um colete na região lombar da coluna para proteção para poder ir ao banheiro. Banho tomo na cama, estou totalmente dependente, há quase dois meses em uma cama com essas limitações.

Notícia dura: "Realmente é um golpe muito duro, uma notícia assustadora, ainda mais porque recebi a notícia de que eu estava com o câncer primário no pulmão já com metástase na coluna e no quadril, e ainda a verificar, com exames mais detalhados, que também haviam três nódulos no meu cérebro, como metástase. Foi muito duro, primeira coisa que a gente pensa é que não tem muito tempo mais, como se a gente soubesse também pelo fato de estar saudável, nunca sabemos a nossa hora, mas isso torna mais evidente na nossa cabeça".

Sem revolta: "Nunca me revoltei com essa situação, em momento algum perguntei: 'Por que eu?'. Pelo contrário, tive o privilégio de ser um jogador de futebol profissional, tive duas convocações para a seleção quando era jovem, sub-17 e sub-23, me considero muito privilegiado. Nessa época não perguntei por que essas coisas boas aconteceram comigo. Quando estive no hospital aqui, no Instituto Português de Oncologia, vi que inúmeras pessoas que estão passando por isso. Passamos pelos corredores e vemos claramente o sofrimento expresso na cara das pessoas. Nunca tive essa revolta, pelo contrário. Estou procurando entender até mesmo porque não sou uma pessoa religiosa, mas sou apaixonado pelos Evangelhos".

Mais amado: "No pior momento da minha vida, na pior notícia, é o momento que me sinto mais amado pelas pessoas. Creio que, pelo Evangelho, Deus escolheu ser amado pela figura do próximo. Tenho sido muito amado pelos próximos, e descoberto que muitas pessoas, amigos de infância, do futebol pelos vários lugares que passei e até desconhecidos que se mobilizam para orar por mim, que doaram através dessa vaquinha. Muitos não conheço, pessoas desconhecidas que se propõem a ajudar. Vejo o amor de Deus por mim através disso, me sinto muito grato".

Transformação de dentro para fora: "Ceio que tudo isso está acontecendo para o meu bem, porque tenho sido transformado de dentro para fora. Tenho pensado diversas coisas diferente, tenho muito tempo para refletir, e tenho me sentido assim, que está acontecendo uma transformação dentro de mim. Estava, por vários motivos, com uma certa desistência da vida, desistindo de viver, isso tem mudado dentro de mim. Estou lutando pela vida, para permanecer vivo, para descobrir qual é o propósito de Deus na minha vida daqui para frente."

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