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Machucado no joelho de mulher é peça-chave em processo de Daniel Alves

Talyta Vespa e Thiago Arantes

Do UOL, em São Paulo e em Barcelona

18/05/2023 04h00

Um machucado no joelho esquerdo da mulher que acusa Daniel Alves de agressão sexual tornou-se peça fundamental no processo. O UOL teve acesso com exclusividade a documentos do caso, incluindo vídeos e fotos da noite de 30 de dezembro, durante e depois que ambos se encontraram na discoteca Sutton, em Barcelona.

Logo depois de sair da boate em uma ambulância, a mulher foi submetida a um exame médico no Hospital Clinic de Barcelona. As análises mostraram que ela tinha um ferimento no joelho. Uma foto, feita naquela noite, mostra uma lesão de cerca de cinco centímetros, além de um hematoma na região.

Os vídeos da discoteca mostram que, antes de entrar no banheiro, a mulher dançava sem qualquer restrição de mobilidade. Porém, no corredor de saída da discoteca, ela apresentava dificuldade para caminhar. A denunciante mostra a lesão para a prima, antes de abraçá-la por cerca de 1 minuto, até a chegada de um segurança da boate. Quando o funcionário pergunta o motivo do choro da mulher, ela volta a mostrar o machucado no joelho esquerdo, enquanto explica sua versão do que aconteceu no banheiro.

Nos exames de corpo de delito, realizados naquela mesma noite, o machucado no joelho foi fotografado e tratado como possível lesão decorrente das ações ocorridas no banheiro da área VIP da Sutton. Em seu depoimento, a mulher de 23 anos afirmou que foi atirada contra o solo por Daniel Alves.

O machucado no joelho é importante porque pode ser a prova de que houve violência contra a mulher no banheiro da discoteca. No julgamento, além de fortalecer a acusação de estupro, a lesão pode acarretar um aumento de uma possível pena do jogador.

De acordo com a nova lei após a reforma do Código Penal espanhol, em 2022, a pena prevista para estupro é de 4 a 12 anos. Caso haja "violência de extrema gravidade" durante a agressão sexual, a pena pode subir para até 15 anos de reclusão.

O que diz Daniel Alves

O brasileiro deu um primeiro depoimento em 20 de janeiro — horas antes de sua prisão provisória — e ofereceu uma nova versão dos fatos em uma segunda declaração em 17 de abril. Em ambos os encontros com a Justiça, ele disse que nada sabia sobre o machucado da mulher. O UOL teve acesso ao conteúdo dos dois interrogatórios.

No depoimento inicial, Daniel Alves negou repetidamente que soubesse da lesão no joelho da mulher. Depois de dizer três vezes não ter causado qualquer ferimento na denunciante, o jogador repetiu outras três vezes a frase "eu não encostei nela".

Quase três meses depois, no segundo encontro com a Justiça, o jogador manteve a sua versão. Ele afirmou que não ouviu qualquer comentário por parte da mulher sobre o ferimento e também disse que não viu nenhum machucado nela.

No mesmo depoimento, Daniel Alves foi perguntado se em algum momento colocou a mulher no chão do banheiro, e afirmou que não. A juíza insistiu na pergunta sobre o joelho ferido da denunciante, o brasileiro novamente afirmou que não viu qualquer machucado.

Já no fim do segundo depoimento, o advogado de Daniel Alves, Cristóbal Martell, faz uma pergunta para o jogador. Ele questiona o jogador sobre a posição em que estavam — ele e a mulher — quando ela praticou sexo oral nele. O brasileiro diz que estava sentado no vaso sanitário e a mulher estava "acurrucada". A palavra, segundo o dicionário da Real Academia Espanhola, significa "encolher-se para proteger-se do frio ou de um outro objeto".

Como naquele contexto a palavra não tinha uma aplicação clara, Martell, perguntou se "acurrucada" queria dizer ajoelhada, e Daniel Alves disse que sim. Depois, o brasileiro acrescentou que, apesar da posição da mulher, ele não viu nenhum ferimento nos joelhos dela.

Próximos passos

Após o segundo depoimento de Daniel Alves, fontes jurídicas disseram ao UOL que a incapacidade de explicar o ferimento no joelho da mulher é um dos pontos que complicam a situação da defesa do jogador.

Nas vezes em que referiu-se ao tema em ambiente jurídico, o advogado Cristóbal Martell chamou o ferimento de "escoriação".

A defesa de Daniel Alves pediu pela terceira vez a liberação do brasileiro para esperar em liberdade pelo julgamento. Os dois primeiros pedidos foram negados, e no sábado o jogador completará quatro meses detido.

O julgamento ainda não tem data prevista para acontecer.