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Festa, emoção e Brasil: Marrocos vive a final de Copa que não teve no Qatar

Thiago Arantes

Do UOL, em Tânger (MAR)

25/03/2023 21h06

Em 14 de dezembro de 2022, Marrocos perdeu para a França por 2 a 0 na semifinal da Copa do Mundo do Qatar. Era o fim do sonho de transformar a melhor campanha da história do futebol africano também na primeira final do continente.

Neste sábado, 101 dias depois, Marrocos finalmente viveu a sua final de Copa do Mundo. O Estádio Ibn Batouta, em Tânger, foi o palco do reencontro da torcida marroquina com a seleção, com o Brasil como convidado de luxo. Em sua primeira visita ao país norte-africano, a seleção pentacampeã mundial viu uma festa de dar inveja antes, durante e depois da vitória dos anfitriões por 2 a 1.

O amistoso, que para os brasileiros era o início de um novo ciclo, com técnico interino e dez estreantes, para os marroquinos -jogadores e torcida- era um dia histórico. O clima de Copa do Mundo, visto ao longo da semana, em diferentes pontos da cidade, ficou ainda mais nítido à medida que a hora do jogo se aproximava.

A primeira entrada dos jogadores em campo, pouco mais de uma hora antes do início da partida, foi celebrada como um gol. No círculo central, os atletas, emocionados, faziam fotos e vídeos com celulares; o público, nas arquibancadas, repetia o gesto. Na saída para o aquecimento, minutos depois, os atletas deram uma volta olímpica; a resposta veio com mais aplausos.

O auge da emoção pré-jogo aconteceu durante o hino nacional marroquino. Um mosaico nas arquibancadas mostrava a frase "Marrocos está liderando o futebol africano". Em outra parte do estádio, subia uma bandeira com o Leão do Atlas, símbolo do país e da seleção.

Com a bola rolando, a reverência ao Brasil acabou. Toda posse de bola da seleção de Ramon Menezes era recebida com vaias. Silêncio, só mesmo nas chances do Brasil -com Rony e Rodrygo- e no gol anulado de Vini Jr.

O alívio ao ver o braço levantado do árbitro Selmi Sadok só não foi maior que a festa no gol de Sofiane Boufal. O estádio tremeu, e na área de imprensa a isenção jornalística foi pra escanteio. Muito profissionais (grande parte com a camisa da seleção marroquina) pulavam e se abraçavam.

Do gol até o fim da primeira etapa, o jogo foi uma celebração dos marroquinos. A equipe de Wallid Regragui atacava mais do que na Copa, e a torcida se divertia fazendo a "ola", cantando e aproveitando cada minuto de vantagem no placar. Marrocos jamais havia marcado contra o Brasil (perdeu por 2 a 0 num amistoso em 1997 e 3 a 0 na Copa de 1998).

No segundo tempo, a festa virou apreensão. E o gol de Casemiro mostrou que, para os marroquinos, nunca foi um amistoso. O silêncio dos 65 mil torcedores diante da falha do goleiro Bono durou quase um minuto.

Uma queda de energia em parte dos refletores voltou a acender a torcida local. Diante da falta de luz, os torcedores acenderam lanternas. Mas foi o gol de Sabiri, aos 34 minutos, que voltou a incendiar o público.

Na reta final, teve até grito de "olé" e os marroquinos se divertiam até com um invasor de campo driblando dois policiais. Tudo era motivo de festa.

Mas o motivo maior estava no placar. A primeira vitória contra a seleção brasileira, em um amistoso que para os africanos valia muito. Era preciso mostrar que a semifinal da Copa não foi obra do acaso. E, em sua final de Copa particular, Marrocos conseguiu.