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Daniel Alves: Por que as boates de Barcelona querem fazer parte da acusação

Talyta Vespa e Thiago Arantes

Do UOL e colaboração para o UOL, em São Paulo e em Barcelona

08/02/2023 15h00

A Federação Catalã de Associações de Atividades Recreativas e Musicais (Fecasarm) ainda não desistiu de entrar oficialmente no processo em que Daniel Alves é acusado de agressão sexual. A organização pretende ser incorporada como "acusação popular", juntando-se ao Ministério Público Espanhol e à acusação particular -no caso, a denunciante e sua advogada.

Na segunda-feira (6), o MP manifestou-se de forma contrária à participação, mas a decisão será da juíza que cuida do caso. Mas por que motivo, afinal, as casas noturnas querem participar do caso? As respostas passam pela experiência com esse tipo de processos e por uma necessidade de defender a reputação do setor.

"Muitas informações"

Em entrevista exclusiva ao UOL, o secretário-geral da Fecasarm e da Spain Nightlife, Joaquim Boadas, explica que a federação pode acrescentar à investigação", uma vez que "pode fornecer muitas informações" ao processo.

Nós temos conhecimento claro do setor, das regras e das necessidades. Os fatos aconteceram dentro de uma casa noturna, por isso é importante que haja uma parte que as represente. Joaquim Boadas

Boadas diz que, em decisão conjunta, as casas noturnas julgaram que seria importante ir além de uma nota de repúdio. "Queremos mostrar a repulsa total do nosso setor a esse tipo de atitude, e a melhor maneira é nos apresentar como acusação popular", afirmou.

Histórico de acusação

Não é a primeira vez que a federação quer atuar na investigação de casos de violência dentro de casas noturnas. Segundo Boadas, a Fecasarm esteve presente de forma acusatória em outras 25 investigações.

Há casos de assassinatos que aconteceram no interior ou nas imediações de discotecas. Neles, pudemos ajudar muito, porque conhecemos muito bem o setor, e podemos dar uma visão -como nesses casos de homicídios e assassinatos- que foi chave para conseguir a condenação. Participei de casos que foram a júri popular e terminaram com três condenações: de 11, 12 e 15 anos. Foram três casos de homicídios. Nossa participação, junto do Ministério Público e da acusação particular, foi determinante. Joaquim Boadas

Ainda de acordo com Boadas, 17% das agressões sexuais acontecem em casas noturnas ou imediações; no entanto, o número estigmatiza os espaços e, também por isso, ele quer ser atuante de modo que haja punição exemplar em casos de condenação.

"O que queremos mostrar é que estamos totalmente contra o que aconteceu. É claro que nos preocupamos com tudo o que possa acontecer em um espaço de casa noturna, porque fazemos todo o possível para que não aconteçam essas coisas. Estamos desenvolvendo insígnias internacionais de segurança e de qualidade", acrescentou.

Boate Kiss é exemplo

A tragédia que aconteceu em 2012 na Boate Kiss, em Santa Maria (RS), foi a fatalidade que inspirou a criação da Associação Internacional de Casas Noturnas, responsável por normas de segurança e prevenção de incidentes em discotecas. O secretário explica que a tragédia brasileira representou um "basta", e foi um marco para a criação de organizações para definir regras e protocolos para o segmento.

Em 2015, a Associação começou a desenvolver insígnias, como o Distintivo Internacional de Segurança, e em 2016 passou a incorporar os protocolos para evitar agressões sexuais. Além disso, criou outros regulamentos como a inspeção das saídas de emergência, extintores e licenças de funcionamento.

No caso de Daniel Alves, o protocolo "No Callem" ("Não nos calamos", em português), foi apontado como fundamental para que a denunciante fosse atendida rapidamente, e a investigação acontecesse de forma ágil, desde a madrugada de 31 de dezembro.