Topo

Pia explica volta de Marta e destaca 'respeito à cultura' para estrangeiros

Pia Sudhage durante convocação da seleção brasileira feminina - Thais Magalhães/CBF
Pia Sudhage durante convocação da seleção brasileira feminina Imagem: Thais Magalhães/CBF

Luiza Sá

Do UOL, no Rio de Janeiro

31/01/2023 16h13

A seleção brasileira feminina foi convocada pela primeira vez em 2023 para a penúltima Data Fifa antes da Copa do Mundo. A grande surpresa ficou pela volta de Marta, lesionada desde março do ano passado.

Contratada pela CBF desde julho de 2019, Pia Sundhage falou sobre ser uma treinadora sueca no Brasil. A seleção masculina segue em busca de um nome e tem estrangeiros como primeira opção.

Pronta para jogar?

"Marta está pronta na parte física, está fazendo testes e é muito competitiva. Estará pronta nesse quesito. No jogo não está ainda. Seremos cuidadosos para ela conseguir jogar bem. Estou feliz. Espero que ela jogue muitos minutos, mas temos que ser espertos porque não estava jogando".

Como é ser treinadora estrangeira?

"Venho da Suécia, de outra cultura, e isso foi há três anos e meio. Claro que você quer a mudança. Se quer outro resultado na Copa, faz mudanças. Acho que os brasileiros aceitaram meu jeito diferente, estranho. No final, só amamos futebol. Se você entende que é diferente e abraça isso... Aprendi muito nesse país. Com treinadores, na CBF, com as jogadoras, mas acho que elas também aprenderam comigo. Temos de fazer melhor e gostar que somos diferentes. Sou diferente das brasileiras, mas acho que isso é bom nessa situação".

Tem conselho para algum estrangeiro que possa vir?

"Não dou conselhos. Se me perguntar o que eu tentei fazer quando cheguei, falando de treinar, o que comecei foi respeitar a cultura brasileira. Para atingir as jogadoras preciso entender de onde elas vêm. E ao mesmo tempo ser eu mesma. No fim do dia, se estou vindo, é pela mudança e conhecimento. Mas tenho respeito pela história".

Marta passou por cirurgia depois de sofrer uma lesão no ligamento do joelho atuando pelo Orlando Pride. Ela vem treinando com bola, mas não voltou a jogar.

A SheBelieves Cup acontece entre os dias 13 a 22 de fevereiro. A seleção brasileira estreia diante do Japão, no dia 16 de fevereiro, no Exploria Stadium, em Orlando, às 18h (de Brasília). Em seguida, encara o Canadá, no dia 19, no GEODIS Park, em Nashville, às 20h30 (de Brasília). Na rodada final, o Brasil enfrenta os Estados Unidos, no dia 22, no Toyota Stadium, em Frisco, às 20h30 (de Brasília).

Veja a entrevista na íntegra:

Marta

Marta está pronta na parte física, está fazendo testes e é muito competitiva. Estará pronta nesse quesito. No jogo não está ainda. Seremos cuidadosos para ela sentir o jogo e conseguir jogar bem. Estou feliz porque ela é um exemplo na técnica, leitura de jogo. Espero que ela jogue muitos minutos, mas temos que ser espertos porque não estava jogando.

A Marta está longe por um ano e quando voltar será um bom sentimento. Qual papel vai atuar? Depende. O time vai fazer ela brilhar de um jeito ou de outro. Ela precisa jogar, precisamos de mais prática. Estou animada de estar perto de uma jogadora assim, ela pode fazer a diferença.

Muitas lesões

Nas lesões, isso me fala sobre as demandas no jogo. Desde 2019 o jogo evoluiu. Todas as jogadoras têm que estar prontas, não jogando só um jogo por semana. Se tem muitos jogos por semana, tem preparação para as competições. Na final europeia, a velocidade, todas as jogadoras precisam se cuidar o tempo todo. Todos os dias e minutos você precisa agir como profissional. Algumas coisas como as viagens, se olhar a logística, mudaram. Antigamente eu pegava ônibus, agora elas vão de avião. Hoje temos mais pessoas no staff, é importante ter treinadores de performance, temos GPS. Não são só as 11 jogadoras, temos banco. Estou ansiosa pela Copa para ver o que as jogadoras podem fazer saindo do banco. Temos que pesquisar o máximo possível nos jogos femininos.

Chance de novas convocadas até a Copa

Sempre tem chance. É a beleza do jogo. Alguém pode estar jogando bem, saindo do banco. Não é só um jogo ou semana, é uma jornada para a Copa. Todas as jogadoras têm papel importante para a Copa. É uma jornada. Se tem alguém muito bem, queremos trazer. Temos a chance de jogar três jogos e depois a Inglaterra. Teremos não provavelmente as mesmas jogadoras, mas essa base.

Adversárias

Essa jornada com bons jogos é importante para jogadoras mais novas. Independe da performance, é importante dar feedback. O que você precisa para ajudar na próxima vez ou nessas situações. A melhor forma de aprender é jogar contra os melhores. O jogo vai ensinar. Estou feliz com os adversários.

O que esperar até a Copa

Estamos trabalhando em algumas coisas nos últimos três anos e meio, especialmente depois das Olimpíadas. Temos um passo para dar na parte defensiva. tentamos criar a mesma coisa não só com as quatro de trás, mas no meio. Ganhar a bola mais na frente, começar o conta-ataque mais à frente. No Brasil somos bons no contra-ataque. São rápidas, às vezes não dá em nada e precisa voltar. Esse equilíbrio é importante. É como você reage no final, o último passe. É algo que precisamos trabalhar.

Como vê a experiência como treinadora estrangeira

Venho da Suécia, de outra cultura, e isso foi há três anos e meio. Claro que você quer a mudança. Tentamos porque se você quer outro resultado na Copa, faz mudanças. É o que falo para as jogadoras. Pode ser comer melhor. Acho que os brasileiros trabalharam meus jeitos diferentes, jeito estranho. No final, só amamos futebol. Se você entende que é diferente e abraça isso, aprendi muito nesse país. Com treinadores, na CBF, com as jogadoras, mas acho que elas também aprenderam comigo. Pode olhar dos dois lados. O que aconteceu com o time depois das Olimpíadas, tem uma chance de ganharmos. Mas para isso temos que fazer melhor e gostar que somos diferentes. Sou diferente das brasileiras, mas acho que isso é bom nessa situação.

Conselho para algum estrangeiro que possa vir

Não dou conselho. Se me perguntar o que eu tentei fazer quando cheguei, falando de treinar, o que comecei foi respeitar a cultura brasileira. Para atingir as jogadoras preciso entender de onde elas vêm. E ao mesmo tempo ser eu mesma. No fim do dia, se estou vindo, é pela mudança e conhecimento. Mas tenho respeito pela história. Se olhar para o Brasil, podemos olhar para a final de 2008, quando estava do outro lado, lembro da técnica, velocidade, imprevisibilidade do Brasil. Tenho que respeitar isso e trazer o melhor dessa cultura. Juntar o melhor das duas. Às vezes eu erro, exagero ou não reajo. Mas tento fazer o meu melhor com quem trabalho. Não é sobre uma pessoa, sozinha sou inútil. Mas se estou cercada por boas pessoas, juntas podemos ser o melhor.

Meio-campo

O meio é o coração do time. Você tem o jogo na frente, atrás, dos lados. Precisa conseguir ler bem o jogo. Trazer a melhor performance é importante. O movimento sem a bola é importante. Ao mesmo tempo, porque defendemos no 4-4-2, a jogadora precisa ter capacidade defensiva. Não espero a mais forte ou inteligente, mas precisa trabalhar com a outra meio-campista para organizar o jogo. Mesmo sem a defensora perfeita, tem a ideia de pegar a bola, olhar ao redor.

Prioriza jogadoras que saem do país?

Se você dá o passo grande de sair do país, tem que ter coragem. Algumas delas mostraram que tem. Se você joga na Europa ou em um bom time, vai ser competitiva e vai adicionar um novo estilo e isso pode melhorar o jogo. Ou vai se sentir perdida e precisar voltar. Mas gosto da ideia de mudar. Se vai para os EUA, sempre será competitivo. Não importa o time. Jogadoras no melhor nível amam competir. Elas gostam da ansiedade de ganhar. Nunca é fácil. Fará elas serem mais fortes. Vai ter que ajustar o jogo e estar preparada para a pressão.

Japão

A diferença é que seremos mais organizadas. Elas têm a tendência de manter a bola, jogar nos espaços, mas eventualmente vão jogar na bola longa. Teremos que ser pacientes e jogar rápido. O Jonas trabalhou no Japão e vai nos ajudar. Vamos ver como nossas forças podem nos ajudar. Vai ser bom para as jogadoras.

O que ainda incomoda na seleção

Nada me incomoda. Se falar no último passe, é bom, emocionante. Se não fica chato. Vemos muitos jogos, temos pessoas para nos dar informações. Toda semana temos encontros para falar das jogadoras, às vezes falamos com elas. Tentamos ter uma boa jornada, porque é uma maratona. A conexão com as jogadoras e treinadores. Se olhar para os jogos, são bons porque são partidas de qualidade. Temos que olhar como lidamos com os resultados. Não é resultado, é performance. É a comunicação constante e feedback quando encontramos as jogadoras. O estafe precisa falar sobre o que esperamos. Temos uma lista de prioridades. Você tem que escolher o que fazer para ter sucesso.

Evolução no Brasil

Lembro meu primeiro jogo no campeonato e se eu comprar a qualidade dali e de outros jogos agora, é diferente. Acho que as pessoas aqui querem melhorar o jogo e apoiar as mulheres. O que é interessante é que todos têm feito isso. Falando com pessoas de outros países, vai nos ajudar. As jogadoras podem voltar, jogar aqui. O jogo de velocidade, ter mais partidas sem se lesionar. Com isso, a qualidade de competição fica maior, mais forte. É só o começo do desenvolvimento. As finais que tivemos em 2022, é só o começo. Quem estiver treinando, venha para o futebol feminino.