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Figurinha da Copa a 'preço do leite' faz jovem criar força-tarefa de doação

Allan Cohen, de 16 anos, faz campanha por figurinhas - Arquivo pessoal
Allan Cohen, de 16 anos, faz campanha por figurinhas Imagem: Arquivo pessoal

Júlia Marques

Do UOL, em São Paulo

18/10/2022 04h00

Quando comprou 20 pacotes de figurinhas da Copa do Mundo, o estudante Allan Cohen, 16, ganhou um álbum extra de brinde. Resolveu doá-lo para um funcionário que trabalha na casa onde ele mora, em São Paulo, mas o homem recusou a oferta.

"Ele falou que não dava para ficar com o álbum porque o valor de dois pacotinhos de figurinhas era o preço do leite para a filha dele." O adolescente travou. "Aquilo me pegou. Álbum era uma coisa que todo mundo fazia e, agora, muita gente não consegue fazer."

Allan resolveu criar um projeto de arrecadação e doação de figurinhas. A iniciativa começou como um trabalho na escola onde estuda, a Beit Yaacov, mas saiu dos muros do colégio. Para ele, o custo dos cromos tem impedido a diversão de crianças e jovens menos privilegiados do que ele.

Neste ano, cada pacote com cinco unidades custa R$ 4. Para completar todo o álbum da Copa é preciso, portanto, desembolsar pelo menos R$ 548 — o álbum tem 670 espaços para completar. Na Copa passada, o pacote de figurinhas custava a metade do preço cobrado agora. A alta foi acima da inflação.

Um vídeo de Allan com o pedido para doações viralizou nas redes sociais e o adolescente conseguiu parcerias com lojas e doações de influenciadores. Também recebeu apoio de jogadores como Róger Guedes e Carlos Miguel, do Corinthians, Erick, do Athletico Paranaense, e Tchê Tchê, do Botafogo.

A força-tarefa já angariou mais de 15 mil cromos, entre figurinhas avulsas e pacotinhos que ele comprou com as doações em dinheiro. Também arrecadou 270 álbuns.

Parte das figurinhas arrecadadas acabariam descartadas, diz o adolescente: são as repetidas de quem já completou seus álbuns. "Em 2014 e 2018, eu também colecionei e, no final da Copa, estava com bolo de repetidas. Foi tudo para o lixo", lembra.

Ele já iniciou as doações a crianças em situação de vulnerabilidade. E pretende entregar os materiais também a meninos e meninas que fazem tratamento contra o câncer.

Álbum era uma coisa que todo mundo fazia e, agora, muita gente não consegue fazer. Allan Cohen

Allan reconhece que as crianças pobres têm muitas outras necessidades: de alimentação à moradia. E que as figurinhas não resolvem os problemas. Mas, para ele, que já completou o próprio álbum, não é justo que outras crianças sejam impedidas de ter o mesmo prazer.

"É uma sensação única abrir um pacotinho, ver o que está dentro, colar, achar as brilhantes", diz ele. "As pessoas vão entrando no clima da Copa com o álbum."